08- Sorrisos involuntários

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"Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem algo" - Oscar Wilde

Eliza Armstrong:

Era de se esperar que no outro dia, a notícia do ataque nas Indústrias Lombardi estivesse estampada em todos os noticiários, jornais, redes sociais e todos os meios de comunicação possíveis. O assunto "Justiceira de Nova York" estava em primeiro lugar no twitter, e não havia uma esquina que você passasse que não houvesse alguém falando sobre o assunto.

Eu também já esperava a nuvem de estresse que estaria sobre a empresa, mas não esperava tanto. Quando cheguei à sede da companhia das Indústrias Lombardi, havia uma enxurrada de repórteres tentando falar com o presidente e dono da empresa — e deputado da cidade de Nova York — todos queriam saber o que o grande líder e senhor de família exemplo estava pensando sobre aquilo. E a pergunta que todos se faziam: por que a justiceira estava atacando o nobre senhor?

Se eles soubessem...

Mas naquele momento eu tinha algo mais importante para me concentrar do que em me preocupar com os questionamentos de terceiros. Agora que eu tinha a certeza absoluta do tipo de armas que ele estava com posse, eu precisava descobrir de onde ele estava às conseguindo, para que ele as usaria — como se já não fosse óbvio o suficiente — e o mais importante, quando eles a usariam.

Enquanto caminhava silenciosamente pelos corredores da empresa, eu sentia o olhar de todos as minhas costas, até mesmo as secretárias que antes conversavam animadamente pararam para observar-me, como se eu fosse um experimento científico.

De qualquer maneira, todos eles ficaram para trás, no momento em que apertei o botão do elevador e adentrei na pequena cabine metalizada. Eu estava prestes a apertar novamente o botão para fechar a porta, quando duas mãos se meteram entre o encontro das portas, fazendo-as voltar ao início.

— Sinto muito por interromper sua passagem! — disse uma voz masculina.

Observei atentamente o rosto do homem alto, com um sorriso cativante e olhos tão claros quanto o mar do Caribe. Os trajes formais eram de tonalidade escura, e ele carregava consigo uma maleta do tipo executiva.

— Tudo bem... — fiz uma breve pausa, fingindo não recordar o nome — Eu devo te chamar de senhor Lombardi Mirim, ou apenas senhor Anthony Lombard? — questionei sorrindo.

— Anthony está de ótimo tamanho! — ele falou sorrindo, enquanto colocou-se ao meu lado no elevador.

Fisicamente, Anthony era muito parecido com o pai, tinha os mesmos cabelos loiros claros, porém, mesmo assim as semelhança entre ambos era gritante. Nos curtos intervalos de tempo que estive em sua presença, o sorriso espontâneo e cativante sempre estava presente em seus lábios. Diferente da expressão fechada dos Lombardi 's anteriormente conhecidos — o próprio Arthur e seu filho igualmente prepotente.

— Nos últimos dias o nome da senhorita Rushman vem sido muito comentado por aqui, se me permite dizer! — informou Anthony — Porém, sinto em lhe informar que foi trocada pela Justiceira!

— Jura? — perguntei com um sorriso cínico

— Neste momento, meu pai está em sua sala, cercado por homens enquanto expõe o quão irritado está por ter seu filho mais velho com vários curativos no rosto após tentar impedir uma "vândala de salto" de invadir suas propriedades! — explicou Anthony, deixando claro qual era a opinião de seu pai a respeito da Justiceira, ou melhor, a respeito dela.

Foi inevitável não sorrir, inclusive, ela teria que se esforçar muito para controlar os sorrisos involuntários que surgiriam ao encontrar-se cara a cara com o senhor Lombardi.

— Mas e você, o que acha desta "vândala de salto"?

— Aparentemente, ela tenta proteger a cidade, mas neste caso está na mira errada — explicou Anthony, no momento em que a porta do elevador se abriu novamente. — Meu pai e meu irmão passam mais tempo trancados em escritórios do que eu posso contar, tanto em casa quanto aqui, mesmo que quisesse fazer algo contra a cidade, não teria como!

O escritório de Arthur seria certamente um local onde eu poderia catalogar várias informações caso conseguisse acesso. A julgar pelas péssimas cantadas lançadas a mim, e a total falta de discrição ao olhar para mim, se dependesse do "nobre" senhor ele certamente não pensaria duas vezes antes de me levar para "conhecer" sua casa. Mas nem mesmo ele era tão cínico ao ponto de guiar uma hipotética amante — ou caso provisório — para a casa onde sua esposa e filhos viviam.

Em um movimento involuntário, comecei a andar lado a lado com o jovem Lombardi, enquanto percorremos os corredores restantes até chegar à sala de reuniões.

— Você aparentemente o admira muito! — conclui — Por que não o vejo com tanta frequência por aqui?

Anthony mudou sua expressão, mostrando que claramente não esperava aquela pergunta.

— Bem, eu não sou exatamente o que o meu pai espera — disse Anthony — Ele quer um filho político que possa assumir seu assento como deputado enquanto Brandon assume o posto de CEO, mas ...

— Mas não é isso que você quer! — interrompi — Eu entendo um pouco disso, a sensação de se ver obrigado a ser algo que não quer. Pode soar até dramático, mas conheço bem essa perspectiva.

De certa maneira eu não menti. Realmente eu já vi bem de perto como é ser programado para virar algo contra os seus "ideais".

Na porta da sala, a plaquinha com o nome CEO ARTHUR LOMBARDI estava devidamente colocada, e mesmo recebendo apenas o silêncio como resposta de Anthony, nós adentramos no local, recebendo de recepção, os olhares de todos que estavam no local.

Antes de me acomodar ao meu local à mesa, senti o meu telefone vibrando dentro da bolsa, e assim que o toquei, a tela acendeu-se expondo a notificação de uma mensagem cujo remetente era desconhecido.

"Precisamos conversar!"

A mensagem de texto era seguida pelo link de uma manchete de jornal local que falava sobre o ataque da Justiceira às Indústrias Lombardi, e com isso, não foi difícil saber que se tratava da dupla de detetives de Spokane.

Eu sei muito bem que isso é uma aventura perigosa de se envolver, sei que são riscos altos a se correr, mas na verdade não importa. Eu irei pôr um fim à seja lá o que esteja acontecendo dentro dos subúrbios desta cidade, mas isso não significa que não posso proteger a população local — isto é, enquanto eu estiver aqui.

Por um curto período de tempo, eu deixarei o manto da Víbora Negra de lado, e me darei o luxo de trajar o manto da Justiceira, e espero que pelo menos ela seja uma versão melhor de mim.

A Justiceira {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora