Capítulo 1

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-Tim-tim!

-Iuhuu!

As taças de margarita chocaram-se umas contra as outras. Tommy e Baby deram um gole nas suas, enquanto Loly virou seu gim, colocou o copo sobre a mesa e tirou um celular da pequena bolsa dourada.

-Selfie, gente! Tem de ter selfie.

-A gente já tirou um monte de fotos! - Baby respondeu, como se possuísse uma única célula modesta no corpo. - Do tipo profissional.

-Mas tem de ter selfie! Só nos três, os cérebros por trás do desfile!

-Só se você jurar que não vai botar naquele seu canal – Tommy advertiu, já juntando a cabeça com a da Baby em preparação para a fotografia.

-Eu juro! - Loly entrou do outro lado da Baby e bateu a fotografia, depois se levantou para pegar mais um gim para si.

Ela foi pedindo licença pela pista de dança para conseguir chegar até o bar, os cabelos negros com grandes cachos de babyliss batendo na cintura, o vestido que não marcava o corpo, mas que era quase curto demais, as pernas compridas, os saltos altíssimos. Tommy balançou a cabeça. Há alguns anos, bem poucos, aliás, ele e Baby eram exatamente como ela, e sair à noite era uma competição de quem entornava mais copos para ficar mais alucinado. Tudo bem, eles não enchiam a cara em uma festa cheia de membros da família. Hum... Talvez enchessem, só que com discrição.

-Os cérebros por trás do desfile? - Baby falou, dando mais um gole na margarita.

-É, de estagiária a cérebro, por melhor estagiária que ela seja, é um salto.

-Bota salto nisso! - Baby riu, mas ela estava brincando e incrivelmente bem-humorada. Gostava de ver o comprometimento da Loly e a sua devoção à marca que a Baby criou. De todos eles, aliás. O desfile havia sido um sucesso e ela estava repleta de gratidão. Tinha muita consciência da sua própria competência e, mais que isso, do trabalho árduo que havia dedicado àquela coleção. Ainda assim, Tommy havia montado um cenário incrível e praticamente de graça, e dificilmente ela teria cacife para pagar o cachê da top model Mia Sullivan se ela não fosse a sua cunhada. Talvez nem mesmo teria atraído tantos fotógrafos se não fosse o sobrenome que herdou do seu pai e a presença dos amigos dele, também conhecidos como sua família estendida. E aquele after party maravilhoso ela devia a quem? Ih, nem sabia mais, mas a boate era obra do seu outro irmão.

Decididamente, havia muita, muita gente envolvida no sucesso daquela noite.

Da cozinha do restaurante saía todo tipo de comida gorda. Hambúrgueres, peixe com batata frita, pizza, como se, agora que já houvessem aparecido lindos na passarela, estivessem todos liberados para comer à vontade. Loly, um novo copo de gim em mãos, tentava fugir da sua irmã, que fazia aviãozinho com uma pizza marguerita na sua frente.

-Não, obrigada, Emily!

-Essa não tem carne, é só queijo e tomate – Emily explicou, como se fizesse qualquer diferença. As duas eram meias-irmãs, só por parte de mãe, e isso era tudo o que se precisava saber para entender a crise em questão. A mãe delas não admitia que elas não fossem vegetarianas, mesmo que fossem adultas. Emily, que tinha síndrome de Down, era tratada de forma mais infantil pela mãe, que lhe botava regras, ainda que ela hoje fosse casada. Já Loly não comia pizza porque... bom, era pizza.

-Não quero – Ela tentou ser mais firme.

-É muito ruim beber sem comer – Emily tentou adverti-la.

-Eu sei, eu já comi. Comi tanto que não estou mais com fome – Loly mentiu, pois não era bem assim que a sua vida funcionava. Se não prestasse atenção, voltava a ser aquela adolescente enorme de gorda do passado. Sabia perfeitamente todas as calorias do gim em seu copo, mas compensava uma coisa com a outra, aliás não comera praticamente nada o dia inteiro para se guardar para o after, ficaria com a cabeça leve e, se a ressaca fosse braba, ao menos vomitaria a bebida e não teria de lidar com isso de forma alguma.

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