Pela primeira vez em quase dois meses, a casa voltava a se encher de vozes que não eram de operários nem de funcionários contratados para fazer a mudança. Agora a família que havia ficado dispersa por tantas semanas voltava, e o grande foco era conhecer o quarto novo da Malu.
Tommy achou a coisa mais deprimente que ele já havia visto na vida.
No andar térreo, de frente para o quintal e ainda preservando as portas de vidro que deixavam ver o gramado, os jardins e as árvores, ficava o cômodo de portas largas para que sua mãe pudesse entrar e sair dele sem dificuldade, não importava quais fossem os meios. Pensando em sua mobilidade, seja de andador, seja de uma futura cadeira de rodas, o quarto tinha poucos móveis e nenhum tapete. Poderia ser um quarto de hospital, mas era aconchegante. Havia uma poltrona para leitura e, em um canto, uma mesinha para os dias que estaria indisposta e faria as refeições ali.
Um hospital chique, então, Tommy pensou.
Também havia um closet bem espaçoso entre o quarto e o banheiro, e um puff grande e confortável no meio do closet para ela se calçar ou não se cansar enquanto se vestia. Tudo claro, arejado e em tons suaves, para relaxar mesmo.
Tommy espiou o banheiro todo clean, bem clarinho. Quartzo branco nas bancadas e a banheira bem espaçosa. Tudo com barras de segurança, principalmente no box, piso antiderrapante e, além da bancada com a pia normal, outra já mais baixa, adaptada sem armários para sua mãe acessar com a cadeira.
Era o quarto dos sonhos de alguém doente que jamais iria melhorar.
-O que achou? - Malu perguntou, ansiosa.
-É... como se diz? Conjuga conforto e praticidade – Louis disse, já que Tommy não falava nada.
-Acho que sim. Mas também está bonito, não está?
-Sem dúvida.
-Vem cá, vou te mostrar as fotos.
Eles se afastaram para que Malu pudesse mostrar o imenso mural de fotos dela nos mais variados anos de vida, família, filhos, netos, uma fotografia mais recente de Victor e Millie. Um enorme grupo de pessoas que acolhia e incluía. Que estava incluindo Louis naquele exato momento, e eles mal haviam começado a se conhecer.
-E aí? - Tom entrou no quarto com Ella. - Ficou maneiro, Malu. Ficou bem híbrido, bem legal.
-Tenho medo de perguntar híbrido de quê, Tom, mas obrigada – Malu se virou, educada. - Oi, Ella.
-Oi, Malu – Ela disse, receosa. - Trouxe uma flor para a casa nova. Quase nova. Bom, você entendeu.
-Ah, que amor! - Malu sorriu, toda feliz. Se havia uma pessoa que podia ser comprada, era ela.
Tommy acordou dos seus devaneios deprimentes e achou melhor apresentar:
-Louis, a Ella você já conhece, e esse é o meu pai, Tom.
-Thomas Lewknor II? - Ele deu um meio-sorriso e estendeu a mão: - Muito prazer.
-Hum... é. Muito prazer.
Nem Tom nem Tommy acharam por bem esclarecer que, na verdade, o pai se chamava Thomas Lewknor Júnior.
-Bom, vamos lá para fora? Tem comida! - Malu, como sempre, achava que isso atraía qualquer um. Tommy ficou um pouco para trás, correndo os olhos em volta. Ouvindo as pessoas dizerem que ele precisava fazer alguma coisa da vida porque sua mãe não duraria para sempre. Pois ele estava fazendo alguma coisa, e tinha medo de que isso tivesse acionado um gatilho. Que fosse acelerar o processo.
-Está tudo bem? - Louis pegou a sua mão. - Eu não posso entrar na sua cabeça se ela não está aqui.
-Você está entrando na minha cabeça? - Tommy sorriu, intrigado.
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Quando a Vida Acontece
Roman d'amourA difícil tarefa de se tornar adulto, contada a partir de três pontos de vista. Baby, que sempre foi encarada como a mais louca da turma, ou pelo menos a com gênio mais forte, se vê diante dos desafios de levar para frente um ateliê de moda e de ent...