Capítulo 27

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Eddie foi buscá-las no aeroporto e deixou Baby e Millie em casa. Baby, à sua maneira, agradeceu a madrinha por toda a sua ajuda. Mais uma vez, esta havia feito pela afilhada muito mais do que devia e muito mais do que a jovem merecia. Millie, acordada várias vezes fora de hora e sentindo a longa viagem, estava um enjoo insuportável. Baby resolveu não a torturar e deixar que ela não fosse à creche, e que Deus a ajudasse durante o dia, tentando tomar pé de tudo que havia acontecido no ateliê e Loly havia anotado para ela e cuidar de um bebê ao mesmo tempo. Eddie levou suas malas até o apartamento e se despediu com um beijo no rosto. Baby agradeceu também e rodou a chave na fechadura. Havia ficado fora por cinco dias, e pareciam cinco anos. Nesse período, sua vida e a da Millie podiam ter dado um duplo mortal carpado, fato que a matava de expectativa e pavor.

Abriu a porta e, mal deu dois passos, Millie começou a reclamar de tudo. Baby fez uma mamadeira para ela, que a filha bebeu deitada no sofá enquanto a mãe examinava a sala à sua volta e pensava o quanto aquilo era familiar e diferente. Na semana anterior, tudo saiu do lugar, e agora ela havia viajado para a Califórnia e passado dois dias na praia e alguns outros com o homem por quem havia sido apaixonada a vida inteira, jantado e conversado com a mulher dele, convencido a sua filha a dar-lhe um upa, enquanto o cara que havia persuadido que era pai da Millie não sabia de nada.

Achava que seria simplesmente decente dar-lhe uma satisfação.

Os olhinhos da Millie estavam fechando. Baby a observou até que ela realmente adormeceu, colocou almofadas só para o caso de algum imprevisto e, deixando a porta aberta. Foi bater na casa do vizinho. Queria ter se preparado mais. Queria não estar com roupas amarfanhadas de viagem, rosto cansado e cabelo menos cuidado que de costume. Mas achava que, para um bom pedido de desculpas, nada disso importava.

Zach abriu a porta. Se ficou surpreso ao vê-lo, não demonstrou nada. Ele encostou no umbral e não a convidou para entrar, coisa que ela não poderia fazer mesmo, pois Millie estava sozinha no fim do corredor. Mas Baby reparou algumas coisas. Que ele estava sempre com um ar meio desleixado, mas que lhe caía bem. Um ar de quem passava a maior parte do tempo trabalhando em casa, um jeito produtivo. Que ele era bonito, muito bonito. E que, mesmo que não fosse, ela sentiria a falta dele, pois Zach era uma das melhores pessoas do mundo. Sincero, honesto. A forma como se entregou à Millie sem saber que ela poderia ser sua filha. Como se rendeu completamente a ela quando achou que a tinha feito. Tudo isso era de partir seu coração. Era um coração peludo de ogra, mas ele estava lá.

-Queria te dizer umas coisas, agora que já se passou mais de uma semana. Não sei se você esfriou a cabeça, mas espero que sim – Baby disse, objetiva, apesar de todos os seus pensamentos.

-Pode falar – Ele disse, no mesmo tom seco.

-Quando a mágoa passar, você pode voltar a participar da vida da Millie, se quiser.

-Minha mágoa é com você. A Millie não tem nada a ver com isso.

Baby não soube o que responder. Uma parte sua esperava sinceramente já ter sido perdoada.

-Que bom, porque dia vinte, eu não sei se você lembra, é aniversário dela. Eu... nós ficaríamos felizes se você pudesse ir à festa. Estou planejando na casa do meu pai...

-Você ou a Lily? - Zach sorriu com o canto da boca.

-A Lily? O que a Lily tem a ver com isso? - Baby franziu a testa.

-A menina com nome parecido. Que trabalha com você - Zach estalou os dedos, perdendo o ar de importância.

-A Loly? - Ela continuou estranhando.

-Quer saber, Baby? Não importa. Nada dessa merda importa. Porque eu gosto da Millie pra caramba e gostaria de fazer alguma coisa pelo aniversário dela, mas não vou a uma festa onde a sua família inteira sabe que eu sou o otário que acreditou por duas semanas que ela era a minha filha.

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