Gatilho: Transtorno alimentar
-Ei, me dá essa caixa - O rapaz alto e magro, com cabelos cor de mel e um dos braços fechado de tatuagens, os olhos escondidos por trás dos óculos de grau, ofereceu. Ele possuía uma argola na orelha, o que o deixava com uma aparência um pouco anos oitenta. Era muito mais interessante que bonito e, o que contava mais pontos ainda a seu favor, era prestativo.
-Acho que... - Loly olhou para Emily, se perguntando se elas realmente precisavam de mais ajuda. Jake já estava carregando uma caixa, e a que sobrou para ela não era realmente pesada. Loly carregava uma caixa com as bolsas desenhadas pela irmã e, Emily, os seus desenhos e uma pasta com os papeis que usou na sua apresentação. Não que ela os tivesse usado, pois havia falado de cabeça.
-Passa a caixa para ele, Loly – Emily disse, sorridente e solícita. Se havia duas coisas que a descreviam bem, era sorrir muito e ser atenciosa.
Sem esperar resposta, Jake tirou a caixa das mãos da Loly e, em seguida, pegou os desenhos da Emily antes que elas pudessem protestar.
Eles pegaram as escadas, Loly alguns passos atrás, e não pôde evitar olhar para ele. Ela gostava de avaliar as costas tanto quanto a frente, e as dele não decepcionavam, principalmente o bumbum marcado pela calça jeans. Sem que se desse conta, começou a imaginá-lo sem roupa. Não era a primeira vez que fazia isso, nem olhar a sua bunda, nem o imaginar nu.
-Você assistiu à minha apresentação? - Emily perguntou, inocente do que Loly fazia alguns passos atrás dos dois.
-Claro. Você mandou super bem, Emily!
-Obrigada! - Emily agradeceu, encantada. - Minha irmã estava filmando, mas era para o canal dela. Conte sobre o seu canal, Loly.
Jake parou e se virou para ela:
-Você tem um canal?
-É, é uma brincadeira. É sobre moda.
-Não é brincadeira, não, Loly – Emily chamou sua atenção. - É um canal muito sério e muito bom e que faz muito sucesso. Tem muitos inscritos.
-Uns quatrocentos – Loly corrigiu, envergonhada. Arrependeu-se imediatamente de não ter mentido. Por algum motivo, queria impressionar um rapaz que conhecia desde que nasceu, com bunda bonita e argola na orelha, e nem ao menos sabia a razão. - Não é muito.
-É, sim – Ele respondeu. - Tenho um canal com vinte inscritos.
-E ele é sobre o quê? - Emily quis saber.
-Hinos de futebol – Jake falou para dentro e Emily riu com gosto, como se houvesse escutado a melhor piada do mundo, ou como se gostar de futebol fosse algo raro. Loly sorriu da inocência da irmã.
Para ser sincera, as bolsas da Emily não faziam muito o seu estilo. Não as compraria se as visse expostas em uma loja, apesar de ter umas duzentas delas, todas presente. Elas não seguiam tendência alguma, exceto a de ter vários bolsos. Emily possuía mania de bolsos, o que não deixava de ser prático e havia se tornado a sua marca. Mas eram bonitas e admirava demais o fato de algumas pessoas as terem como objetos de desejo, além, claro, de terem saído da cabeça da sua irmã. Por isso, dava sempre uma força em seu canal, embora, se fosse ser honesta, Emily fizesse muito mais sucesso e quem dava força ao canal era a irmã, e não o contrário.
Por isso acordou de madrugada e faltou a uma aula na faculdade para ouvir a Emily falar em um curso de administração. Quem fez a maior parte do trabalho foi o gerente da grife, que havia saído correndo para voltar ao ateliê e as deixou cheias de caixas e desenhos no meio do caminho. Não havia mesmo muita gentileza no mundo, nem quando Emily pagava o salário do cara. Loly odiava o gerente e seu jeito paternalista, sempre tratando a Emily como uma incapaz, apesar de esta ter lhe dado um emprego. Mas havia sido indicação da sua mãe, que disse que ele era excelente. Sua mãe tinha amigos bizarros, mas, de uma maneira geral, ao menos competentes eles eram.
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Quando a Vida Acontece
RomanceA difícil tarefa de se tornar adulto, contada a partir de três pontos de vista. Baby, que sempre foi encarada como a mais louca da turma, ou pelo menos a com gênio mais forte, se vê diante dos desafios de levar para frente um ateliê de moda e de ent...