-Eu posso fazer um site para vocês - Jake disse, vendo os cartões de visita que Loly havia mostrado e depois de tudo o que ela tinha narrado. Que tinha trabalhos e comissões e que não queria pedir favor, que iria pagá-lo; aliás, ela e Tommy iriam, assim que ela o convencesse a abrir a mão.
Tudo bem que ainda não estavam ricos. Também era verdade que possuíam um longo caminho para trilhar até chegar lá. Mas se Loly era capaz de pagar as suas contas e ainda se dar alguns luxos, como umas roupas e cosméticos novos e ainda dar os cartões de presente para o Tommy, por que ele continuava cobrando pedágio para que entrassem na sua porcaria de apartamento e vivia alardeando que comia batata com salsicha? Aliás, por que ele ainda continuava naquela porcaria de apartamento?
-Se você comprou os cartões, Loly, eu só aceito pagamento pelo site se vier do Tommy.
-Não - Ela protestou. - Os cartões foram um presente de aniversário.
-Ok, mas você só paga se ele for pagar também. Não é justo Loly.
Era injusto, mas só mais ou menos. A ideia e os contatos eram dele. Aliás, a primeira cliente havia surgido através do Tommy, e ele nem tinha obrigação alguma de dividir com Loly. Só o fizera por bondade do seu coração. E porque ela tinha feito um curso de análise cromática. De qualquer forma, estava com fome demais para lutar. Era seu primeiro dia sem comida e, apesar do inibidor de apetite, estava achando muito pior frear a vontade de comer que da primeira vez.
-Vou só te mostrar o que tenho em mente – Jake a beijou no canto da boca, puxou um banco na cozinha para que ela se sentasse ao lado dele em frente ao computador, e começou a mostrar o que estava pensando. Levando em conta as cores e os padrões do cartão de visita, ele montou algo bem elegante e incrivelmente rápido, embora dissesse que era só um esboço.
-Eu amei, Jake! Você é incrível! - Ela se levantou e o abraçou por trás. - Mas agora eu tenho que ir.
-Espera! - Ele protestou, um meio sorriso nos lábios disfarçando a decepção. - Eu amei, você é incrível, tchau? Isso é tudo o que eu ganho?
-Eu marquei com a minha mãe - Ela explicou, só não entrou em detalhes. Suas próteses de silicone não deixavam de ser um presente para ele também e uma surpresa. Hoje era dia da consulta com o cirurgião e ela só queria que Jake soubesse quando não houvesse mais jeito. Provavelmente ele teria de ser avisado quando ela se internasse, mas, se pudesse fazer aquilo conforme a sua vontade, ele só saberia no dia do resultado final. Juntando jejum de setenta e duas horas e os quilos que provavelmente perderia com a internação, de repente ela até fizesse um strip tease para ele.
Loly pegou a bolsa que estava sobre o futton e se desculpou, andando para trás em direção à porta, enquanto ele lhe dava um beijo de despedida.
-Me desculpe mesmo. Mas quero tanto ver o resultado! Só me prometa que não vai continuar até que a gente te pague.
-Isso já é uma coisa que eu não posso prometer.
-Argh, vou convencer o folgado do Tommy – Ela disse, com fingida impaciência, e lhe deu um último beijo – Te amo.
-Te amo – Ele respondeu e, muito relutantemente, a deixou ir.
Sua mãe já a esperava na sala de espera do consultório, lendo uma Hello! de umas três semanas atrás, a família real estampando a capa. Loly a abraçou apertado, animada.
-Pronta para entrar para o maravilhoso mundo das mulheres peitudas? - Renata perguntou. - É um lugar incrível, Phoebe!
-Eu sei! Quer dizer, imagino.
-O Jake já sabe da prótese?
-Oi? - Loly perguntou, incrédula. Se fosse dada a essas coisas, tinha certeza de que teria virado uma beterraba da cabeça aos pés.
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Quando a Vida Acontece
RomanceA difícil tarefa de se tornar adulto, contada a partir de três pontos de vista. Baby, que sempre foi encarada como a mais louca da turma, ou pelo menos a com gênio mais forte, se vê diante dos desafios de levar para frente um ateliê de moda e de ent...