Capítulo 5

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Quando Zach chegou à rua, Millie já estava sentada na cadeirinha do carro e Baby, em pé do lado de fora, mandava um texto para Tommy falando para ele começar a mexer aquele traseiro porque ela estava a caminho. Tentava controlar sua rispidez natural pensando em todas as formas elegantes que poderia ter escapado daquela cilada. Mandar flores. Comprar um ursinho de pelúcia de dois metros de altura na loja mais cara da cidade. Escrever um lindo cartão com uma poesia bem tocante. Mandar fazer uma escultura com a cara da Pirralha Júnior.

Mas agora não dava mais tempo de tomar nenhuma daquelas providências, e só lhe restou enfiá-las, a ela e a Millie, em seus melhores vestidos. Fez um lindo coque complicadíssimo no cabelo e a maquiagem no salão, pois era muito básica naquele quesito e aquele dia queria roubar completamente a cena. Queria que não lembrassem nem da Pirralha Júnior. Queria que se perguntassem o que haviam ido fazer ali.

Ao ver o olhar no rosto de Zach, provavelmente estava perto de atingir o resultado esperado. Não sabia há quanto tempo ele estava ali, mas, quando levantou os olhos, ele a encarava, encantado.

-Oi – Ela sorriu, sedutora pelo simples fato de gostar de conquistar. Victor podia ignorá-la, mas era bom saber que nem todos os homens a desprezavam.

-Acho melhor mudar de roupa, vou parecer um mendigo ao seu lado.

Baby o olhou de cima a baixo. Ele vestia uma camisa amarela de listras grossas, calça preta e sapatos da mesma cor. Não era convencional, mas ela gostava disso, de gente diferente do padrão. Gostava do seu perfume também. Os cabelos ligeiramente crescidos e a barba... e aí lembrou que o Victor também tinha barba. Era bem frustrante, porque até o fato de alguém ter um nariz e dois olhos a fazia lembrar do Victor ultimamente, ainda que ninguém no mundo tivesse o nariz perfeito da sua paixão eterna. Sentia-se uma adolescente cheia de hormônios por pensar obsessivamente no Victor vinte e quatro horas por dia, como se não tivesse outros interesses. Estava louca para ele voltar para os Estados Unidos para que ela pudesse retomar a sua vida e agir como alguém de quase trinta anos.

-Você está ótimo. Trouxe tênis e roupa de banho?

-Ainda não descobri para que tênis e roupa de banho em um batizado, mas trouxe.

-Os eventos da minha família são imprevisíveis. Vamos?

Zach sorriu, deu a volta até a porta do carona e a abriu. Imediatamente, Millie fez festa quando ele entrou.

-Me conte quem vamos ver – Zach pediu, depois de falar com o bebê no banco traseiro.

-É o batizado da neta dos meus padrinhos – Baby explicou, saindo com o carro. - Talvez você já tenha ouvido falar deles. Malu e Tommy Lewknor?

Zach levou um susto.

-Malu, a guitarrista? E Tommy, o baterista? Você é afilhada deles?

-Sim – Ela respondeu, percebendo que, apesar de tudo, ela e Zach não sabiam tanto assim um do outro. - Eles são amigos de longa data dos meus pais. A madrinha estudou com a minha mãe, e o meu pai tinha uma banda com o padrinho, os Angels of Hell.

Zach assobiou baixinho, chocado.

-Qual deles é o seu pai?

-O guitarrista, Mick McCallen. Bom, eles eram muito amigos e continuaram assim ao longo dos anos, e a gente se encontra todo domingo para um festival de comilança sem fim.

-Alguma chance de eles fazerem um som hoje?

-Todas as chances. É basicamente tudo o que eles fazem: comer, tocar e procriar.

-Nada contra. Comer e tocar – Zach riu. - O seu amigo Tommy tem alguma coisa a ver com eles?

-Sim, é filho dos meus padrinhos. O nome daquela bicha metida a besta é Thomas Lewknor III, por causa do pai e do avô. Uma puta falta de imaginação de quem vive de ser criativo.

Quando a Vida AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora