-Isso é coisa séria, Jake.
-Eu sei que é - Jake suspirou. - Não pediria para você se meter nessa história se não fosse. E, se você não falar com ela ou com a Rê, eu vou ter de conversar com a sua mãe sobre isso, porque alguém no mundo ela tem de ouvir.
-Ok, me diz mais uma vez por que você acha que ela tem um transtorno.
Jake listou para Dylan todas as suas razões, se sentindo um pouco idiota pois, se ele não se enganava, os dois haviam tido aquela conversa há bem pouco tempo. Ela não continha muitos detalhes nem as informações que Oyekunle passou, mas era basicamente o mesmo assunto e, de lá para cá, nada havia sido feito. Dylan disse que convenceu sua mãe a levar a Loly a um check-up, dizendo que ela havia passado mal algumas vezes, mas Loly tinha desconversado e aquilo não dera em nada.
Era muito injusto, pois Jake sabia que Dylan estava ao seu lado, mas a impressão que tinha era que lutava aquela batalha sozinho. Ele era uma pessoa com a vida cheia e mais bons amigos do que podia contar. Mas agora se sentia muito solitário e aquilo doía que era um inferno.
-Pelo menos uma avaliação de um psicólogo ou de um psiquiatra, Dylan – Jake falou, ao fim da narração. - Só para eu ter certeza de que não estou ficando maluco.
-Pode deixar. Fica tranquilo, Jake, a gente vai dar jeito naquela doida.
O que seria uma frase muito estranha de se ouvir há alguns meses, quando Loly parecia tudo, menos doida. Aliás, ela parecia ser a pessoa mais certinha do mundo. Não tinha nada contra uma certa maluquice no dia a dia, mas aquilo pertencia a outra categoria.
O dia da Renata começava cedo, mesmo nos finais de semana. Ela acordava antes do marido, tomava um suco e ia até o parque com seu tapete de ioga. Depois voltava para casa, mais ou menos na hora em que ele acordava, e os dois tomavam o café da manhã, lendo o jornal e planejando o resto do dia.
Não era exatamente uma vida ruim.
Naquele domingo, ela tinha mais tempo livre pois, com a reforma da casa da Malu ainda a ser concluída, não havia aqueles almoços faraônicos que mobilizavam o dia inteiro. Eventos típicos de uma família Gonzaga. Ela gostava do ritual que construíram juntas, mas também não se importava de tirar uma folga de vez em quando. Uma vez, seu marido reclamou que eles não tinham seus próprios costumes. Talvez fosse verdade. Desde os anos 80, quando Renata e Malu tinham apenas uma à outra, elas foram construindo um universo à volta delas e, agora, quem quisesse que se adequasse.
Sentada em seu tapete de ioga, ela abraçou os joelhos e ficou sentindo o ar fresco, vendo as pessoas passeando com os cachorros, correndo, praticando esportes. Não havia nascido ali, mas aquela era definitivamente a sua cidade. Era apaixonada por Londres.
O celular tocou ao seu lado e ela franziu o rosto, incomodada com a interrupção. O nome na tela dizia que era Dylan, o que a deixou ligeiramente apreensiva. Eles haviam se falado no dia anterior e, com o aniversário dele e, certamente, outro telefonema na quinta, não conseguia imaginar por que ele estava ligando novamente.
-Mãe, sabe aquela conversa que a gente teve? Da Loly precisar ir ao médico? - Ele disse, depois das amenidades.
-Sim, e ela não foi. Mas agora vai ter de fazer os exames, porque ela vai fazer plástica.
-Plástica?! - Dylan ficou chocado. Na sua cabeça, suas irmãs eram absolutamente perfeitas, por mais que ele implicasse com elas de vez em quando.
-Sim, ela vai botar silicone. Mas não conte porque é segredo, hein? Principalmente para o Jake.
-Pô, mãe! - Dylan disse, com nojo. - Eu não precisava saber essas coisas!
-O que é que tem? - Ela perguntou, inocente.
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Quando a Vida Acontece
Storie d'amoreA difícil tarefa de se tornar adulto, contada a partir de três pontos de vista. Baby, que sempre foi encarada como a mais louca da turma, ou pelo menos a com gênio mais forte, se vê diante dos desafios de levar para frente um ateliê de moda e de ent...