-E agora? Eu ganho um abraço?
Millie se soltou do colo de Baby, colocou os braços ao redor do pescoço do Victor e o apertou:
-Upa!
Ele a apertou também, curtindo o momento com um sorriso de feliz abandono. Baby se sentiu um monstro horroroso, mas achou que tinha de lembrar:
-Ela é só talvez...
-Eu sei – Victor interrompeu. - Mas, não importa o resultado, ela abraça bem pra caramba.
-É, ela é boa nisso – Baby respondeu, sem saber como fazer para pegar a filha de volta.
Seu dilema foi resolvido porque a Jo, aquele cisco de pessoa, a abraçou, a impedindo de qualquer coisa.
-Foi um prazer, Baby. Volte sempre, tá? E vamos juntas a um show da Taylor Swift.
-Puta que pariu! Olha isso, mãe! Juntamos as duas, criamos dois monstros! - Victor falou e a madrinha riu:
-Não é? Era de se esperar que a Baby, sendo criada pela lenda que é o pai dela, tivesse escapado do pop baunilha.
-O pai da Baby é uma lenda? De quê? - Jo perguntou, interessada.
-Um dos maiores guitarristas do mundo – A madrinha respondeu.
-Pensei que a lenda da guitarra fosse você - Jo, como boa puxa-saco, falou. A madrinha sorriu, modesta, e Victor respondeu por ela:
-O Olimpo é um lugar grande, Jo.
Diziam que a madrinha realmente era lendária, mas nos últimos anos, depois de um surto que atingira um dos seus braços, e ainda que ela tivesse feito tratamento e reconquistara boa parte dos seus movimentos, ela nunca mais havia sido a mesma. Pelo menos, era o que diziam por aí. Baby era ignorante demais para julgar.
Millie se jogou de volta para o colo da Baby, que a pegou. Sentindo que precisava dizer algo, mas sem saber exatamente o quê, estendeu a mão para Victor:
-Sem ressentimentos?
-Sem ressentimentos – Ele a apertou. - Eu entro em contato assim que sair o resultado do exame.
-Eu fico aguardando.
Baby, Millie e a madrinha entraram no carro de aplicativo em frente ao hotel e se despediram pela janela à medida que se afastavam, Millie a mais empolgada de todas, acenando como se sua vida dependesse disso. Baby percebeu que a roupa da filha estava com o cheiro do Victor depois daquele breve "upa". Também notou que, como havia acumulado muito ressentimento contra a Jo ao longo dos anos, talvez jamais fosse sua amiga, como esta parecia desejar, mas também não a odiava mais. E não conseguia chamá-la de Pirralha.
-Eles são felizes, né, madrinha? - Ela perguntou, olhando as ruas passando fora da janela.
-Graças a Deus!
Baby ficou calada, pensando que queria aquilo. E que talvez não quisesse a família do Victor com o Victor, e sim uma família assim com mais alguém.
-Valeu por me forçar a vir.
-Eu não te forcei! - A madrinha falou, chocada.
-Mas também não me deu opção.
-É, não.
-Eu precisava disso.
-E o que você vai fazer agora?
-Além de planejar o aniversário da Millie? Não sei – Ela falou, pensativa.
Baby não sabia se devia procurar o Zach, se a vaca da irmã dele ainda estava na cidade, se ele a odiava ou se já havia se acalmado. Esperava que fosse o último caso, pois, se ele ainda estivesse com raiva, ela não sabia o que mais lhe dizer para ser perdoada.
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Quando a Vida Acontece
RomanceA difícil tarefa de se tornar adulto, contada a partir de três pontos de vista. Baby, que sempre foi encarada como a mais louca da turma, ou pelo menos a com gênio mais forte, se vê diante dos desafios de levar para frente um ateliê de moda e de ent...