Capítulo 26

36 15 3
                                    

-E agora? Eu ganho um abraço?

Millie se soltou do colo de Baby, colocou os braços ao redor do pescoço do Victor e o apertou:

-Upa!

Ele a apertou também, curtindo o momento com um sorriso de feliz abandono. Baby se sentiu um monstro horroroso, mas achou que tinha de lembrar:

-Ela é só talvez...

-Eu sei – Victor interrompeu. - Mas, não importa o resultado, ela abraça bem pra caramba.

-É, ela é boa nisso – Baby respondeu, sem saber como fazer para pegar a filha de volta.

Seu dilema foi resolvido porque a Jo, aquele cisco de pessoa, a abraçou, a impedindo de qualquer coisa.

-Foi um prazer, Baby. Volte sempre, tá? E vamos juntas a um show da Taylor Swift.

-Puta que pariu! Olha isso, mãe! Juntamos as duas, criamos dois monstros! - Victor falou e a madrinha riu:

-Não é? Era de se esperar que a Baby, sendo criada pela lenda que é o pai dela, tivesse escapado do pop baunilha.

-O pai da Baby é uma lenda? De quê? - Jo perguntou, interessada.

-Um dos maiores guitarristas do mundo – A madrinha respondeu.

-Pensei que a lenda da guitarra fosse você - Jo, como boa puxa-saco, falou. A madrinha sorriu, modesta, e Victor respondeu por ela:

-O Olimpo é um lugar grande, Jo.

Diziam que a madrinha realmente era lendária, mas nos últimos anos, depois de um surto que atingira um dos seus braços, e ainda que ela tivesse feito tratamento e reconquistara boa parte dos seus movimentos, ela nunca mais havia sido a mesma. Pelo menos, era o que diziam por aí. Baby era ignorante demais para julgar.

Millie se jogou de volta para o colo da Baby, que a pegou. Sentindo que precisava dizer algo, mas sem saber exatamente o quê, estendeu a mão para Victor:

-Sem ressentimentos?

-Sem ressentimentos – Ele a apertou. - Eu entro em contato assim que sair o resultado do exame.

-Eu fico aguardando.

Baby, Millie e a madrinha entraram no carro de aplicativo em frente ao hotel e se despediram pela janela à medida que se afastavam, Millie a mais empolgada de todas, acenando como se sua vida dependesse disso. Baby percebeu que a roupa da filha estava com o cheiro do Victor depois daquele breve "upa". Também notou que, como havia acumulado muito ressentimento contra a Jo ao longo dos anos, talvez jamais fosse sua amiga, como esta parecia desejar, mas também não a odiava mais. E não conseguia chamá-la de Pirralha.

-Eles são felizes, né, madrinha? - Ela perguntou, olhando as ruas passando fora da janela.

-Graças a Deus!

Baby ficou calada, pensando que queria aquilo. E que talvez não quisesse a família do Victor com o Victor, e sim uma família assim com mais alguém.

-Valeu por me forçar a vir.

-Eu não te forcei! - A madrinha falou, chocada.

-Mas também não me deu opção.

-É, não.

-Eu precisava disso.

-E o que você vai fazer agora?

-Além de planejar o aniversário da Millie? Não sei – Ela falou, pensativa.

Baby não sabia se devia procurar o Zach, se a vaca da irmã dele ainda estava na cidade, se ele a odiava ou se já havia se acalmado. Esperava que fosse o último caso, pois, se ele ainda estivesse com raiva, ela não sabia o que mais lhe dizer para ser perdoada.

Quando a Vida AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora