O pequeno auditório estava dominado por conversas e Baby se sentiu bastante sozinha. No ano anterior, Tommy estava lá com ela, até que ela arrancou o convite dele este ano e o deu para o vento. Desde que resolveu ter sua filha como produção independente, ela pensou muito pouco sobre como seria essa parte de ter filhos. Quem lhe faria companhia no Dia da Família, apesar de haver outros pais solteiros por perto, e o que fazer no Dia dos Pais? Esperava contar com eventuais conselhos da Rê, mas esse dia nunca chegou. Agora havia um pai há muitos e muitos quilômetros de distância e outro que, pelo visto, não apareceria.
Ela resolveu parar de prestar atenção na entrada e focar nos outros pais do auditório. Os casais tradicionais ainda eram maioria, mas havia três casais gays, outra mãe solteira, um cara sozinho. O olhar deles se cruzou e ela se virou para a frente rapidamente, pensando que tudo o que não queria era que alguém puxasse assunto exatamente naquele momento em que ela precisava mais que nunca ficar desacompanhada. E se o Zach entrasse? E se a visse com alguém? Que mensagem aquilo passaria?
Infelizmente, ela sentiu que se sentavam ao seu lado, e já virou incorporando o espírito da ogra para pedir que o homem desagradável desse licença.
-Então, como funciona isso? - Primeiro ela viu seu pescoço tatuado, depois registrou seu perfume e, quando finalmente ouviu a sua voz, já estava em vias de perder o juízo.
-É... o quê?
-O Dia da Família - Zach esclareceu, olhando para ela como se ela fosse louca. - Como funciona? Do que se trata? É um nome legal, mas é o quê?
Baby o encarou por uns dois segundos, sorrindo enquanto tentava não rir. Disfarçou com um pigarro e disse:
-É que é uma creche moderna, como você deve ter notado.
-Eu já notei – Ele não sorriu, mas também não estava sério. Havia alguma fagulha no seu olhar e, de mais a mais, ele estava ali, certo? Era a isso que Baby tinha de se apegar.
-Então eles não comemoram mais Dia dos Pais e Dia das Mães porque existe família sem pai, sem mãe, com dois pais, com duas mães, etc e tal. Logo, o Dia da Família - Ela terminou, apontando o palco com as duas mãos como se fosse uma apresentadora de TV.
-Entendi. E essa família que você me convidou para fazer parte? Como ela é?
Ótimo, então eles teriam a conversa difícil primeiro, o que estava de bom tamanho para a Baby. Ela não gostava de suspense. Se era para tirar o horror do caminho e depois se concentrar na parte prazerosa (levando-se em conta que esta realmente viesse), estava de bom tamanho.
-Eu ainda estou tentando organizar esta família, mas sei que estamos todos nela e não tem jeito de fugir. Se sair, configura abandono.
Zach sorriu contra a vontade.
-Ah, é?
-Claro que é. Imagina se eu resolvo virar mochileira e largo a Millie em uma cestinha na porta do orfanato? É abandono.
-Ela ia dançar com a cestinha na cabeça.
-Provavelmente. Ia ser adotada em dois segundos porque fala sério, quem resiste?
-Ninguém.
Os dois fizeram um breve silêncio. Por fim, Zach disse:
-Se eu for embora é abandono, então?
-Ah, é - E em seguida, com mais seriedade. - A Millie te ama, Zach. Ela sente a sua falta. Você vai ver como ela vai ficar feliz em te ver hoje. De uma certa forma, é abandono, sim.
Internamente, Baby tentava se lembrar de todas as preces que conhecia para pedir que Millie realmente se lembrasse dele. Seria cruel e horroroso se isso não acontecesse e ela ficaria com a cara no chão e o coração partido.
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Quando a Vida Acontece
RomanceA difícil tarefa de se tornar adulto, contada a partir de três pontos de vista. Baby, que sempre foi encarada como a mais louca da turma, ou pelo menos a com gênio mais forte, se vê diante dos desafios de levar para frente um ateliê de moda e de ent...