Gatilho: Transtornos alimentares
Tommy abriu o portão de casa carregando a mochilinha da Millie, uma mochila maior com suas próprias coisas para passar o final de semana, um saco de roupa suja, segurando a mãozinha da afilhada que se soltou para correr atrás de uma borboleta, uma cena que parecia recortada de um filme da Disney. Ele riu do clichê e tirou seu celular do bolso para filmar, enquanto Millie tentava chamar a sua atenção.
-Ieta, Tommy!
-É isso aí, Millie. Uma borboleta. Mas agora me chama de "dindo", vai. Só tem a gente. Prometo que não conto para a mamãe.
Nesse minuto, a porta da casa abriu e Malu apareceu, apoiada nas muletas.
-Dida, dida! Vem! Ieta! - Millie gritou.
-Vai, joga na cara – Tommy falou, ressentido, mas abraçou a mãe e lhe deu um beijo. - E aí, mamãe? Morreu de saudades?
-De você trazendo suas cuecas para eu lavar? Você nem imagina o quanto! Oi, Amelia! Que borboleta linda! Adivinha quem está lá dentro? A Emily!
Millie entrou, feliz, se por saber da presença da Emily ou não, isso ninguém saberia dizer. Uma vez Tommy perguntou para a mãe por que ela não chamava a bebê pelo apelido. Parece que, na época em que ela tocava na banda da tia Kate, a baixista se chamava Millie, apelidada por Malu de Millie Pavorosa porque ela era realmente um ser humano horrível. Com isso, sua mãe não queria associar as duas.
Millie ia gritando e saudando as pessoas no caminho, e Tommy saiu correndo atrás, para que sua afilhada não se acidentasse e ele não devolvesse um bebê em pedaços para a amiga, e sua mãe seguiu em seu passo mais lento, devido à dificuldade para andar. Não precisou se preocupar tanto. Millie quase se engasgava de gargalhar, pendurada de cabeça para baixo no colo do dindo, enquanto Emily fazia cócegas nela.
-Vocês estão torturando a menina! - Malu gritou, lá de trás.
-Ela está rindo, dinda! - Emily respondeu.
-Está. De nervoso. Eddie, o sangue da menina está todo na cabeça!
-Ok. Bora parar, Emily – O dindo virou uma Millie inteiramente roxa de cabeça para cima. - A Malu está certa. Virei vocês dois de cabeça para baixo quando eram pequenos e ninguém bate muito bem.
Emily soltou uma de suas risadas, como se houvesse escutado a melhor piada do mundo.
-Mentira! Mentira, papai!
-Emily, se você batesse bem, eu ia pedir exame de paternidade.
Eles foram para os fundos, para a piscina no quintal. Emily já estava com roupa de banho e Tommy botou a sua. Malu pediu que Eddie enchesse a piscininha de plástico para Millie e tirou a roupinha da menina, deixando-a só de fralda. Tommy voltou para a piscina minutos depois:
-Mamãe, me arruma uma vaguinha na sua viagem?
-Que viagem? - Malu perguntou, confusa.
-A Paris, a semana de moda? Me leva com você, me arruma convite para uns desfiles, umas festas legais, hein? Hein?
-Tommy, você voltou de Montevidéu há uma semana! - Malu virou-se para ele, usando a mangueira que enchia a piscina para jogar água em Millie. - Você sabe que eu faço qualquer coisa por você, mas, tipo, quando é que você trabalha?
Tommy deu de ombros.
-Contatos, né, mamãe? Fiz o desfile da Baby, foi superlegal, de repente me firmo nessa área.
-Por que você não investe nos contatos que fez com o desfile da Baby primeiro? E depois, dei meu último convite para a Renata.
-Para a tia Rê? Mas ela nem trabalha com isso! - Tommy reclamou, magoado. Não era fácil ouvir um "não" da sua mãe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando a Vida Acontece
RomanceA difícil tarefa de se tornar adulto, contada a partir de três pontos de vista. Baby, que sempre foi encarada como a mais louca da turma, ou pelo menos a com gênio mais forte, se vê diante dos desafios de levar para frente um ateliê de moda e de ent...