CAPÍTULO XXXVII

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O grito apavorado alcançou os dois homens que se enfrentavam no fosso da escada os fazendo tensionar o corpo simultaneamente, Chris foi o primeiro a se recuperar da surpresa, acertou o rosto do oponente com a lateral da Katar, o potente golpe deixando Theodoro desacordado e saiu apressado para a rua à procura de Manuela. Sabia que aquele grito desesperado era dela e torcia para não chegar tarde demais para salvá-la do que quer que a estivesse aterrorizando.

Um acidente de carro a poucos metros de onde estava chamou-lhe a atenção, mas não mais do que a criatura imensa que caminhava ameaçadora em direção a uma mulher que imediatamente reconheceu como a esposa de Leon.

Ao se ver como centro da atenção da criatura demoníaca Manuela deu um passo atrás e começou a correr no sentido contrário de onde estava, seus pés esmagando a grama, seus cabelos ricocheteando ao sabor do vento, a respiração saindo em sopros desordenados como as batidas de seu coração apavorado.

O som de galhos se partindo, de passos pesados contra o chão ecoavam em seus ouvidos e lhe confirmavam que a criatura estava em seu encalço, a energia densa e funesta que ela emanava parecia um campo de força que tentava suga-la de encontro ao monstro, resistia jogando o corpo para frente e se impulsionando em sua corrida desabalada para o mais longe possível.

Percorreu a extensão do parque que o separava das ruas que o ladeavam chegando a uma área de ruas movimentadas que naquele momento estava repleta de turistas, passava pelas pessoas sem diminuir o ritmo, os pés descalços batendo de encontro ao asfalto, a respiração quase falhando enquanto corria sem saber para onde ir.

Os rostos das pessoas por quem passava eram apenas borrões distorcidos, alguns a olhavam surpresos, outros confusos, mas ninguém parecia assustado o suficiente por estar diante de um ser tão apavorante quanto aquele que a perseguia o que a fez pensar que tinha despistado o bicho maligno.

Virou-se para trás com o intuito de checar se havia se livrado da entidade quase caindo no processo ao tropeçar não soube se nos próprios pés ou em algo que estava no chão durante a ação de olhar para trás e ainda continuar correndo.

Para seu desespero viu que o monstro ainda a seguia e acelerou o passo o quanto seu corpo já cansado conseguiu, passou a entrar e sair de ruas que não fazia a menor ideia de onde a levaria em uma tentativa desesperada de se livrar da abominação que não a deixava em paz.

Quando deu por si estava entrando em uma rua estreita e mal iluminada entre dois prédios altos, seus pés descalços em contato com a água pútrida que escorria das grandes lixeiras que ladeavam as paredes laterais dos prédios, apressou-se para tentar percorrer o mais rápido possível o trecho sombrio e deserto, já que não se via viva alma naquela parte da cidade, mas ao chegar ao seu fim percebeu que não havia saída.
O beco escuro terminava em uma imensa parede de tijolos que a impedia de continuar sua fuga, virou-se para fazer o caminho de volta, mas o barulho de garras arranhando as paredes assim como das lixeiras sendo arremessadas de encontro a elas, das garrafas vazias sendo chutadas, de grunhidos e rosnados lhe garantiram que não teria como fazer o mesmo percurso sem enfrentar o monstro que a perseguia.

Tremeu olhando apavorada a sua volta em busca de algo que pudesse servir de arma, encontrou a alguns passos à frente próximo a uma grande lixeira encostada a parede no fim do beco um pedaço de madeira que parecia muito com uma perna quebrada de uma mesa, na ausência de algo melhor agarrou a peça com as duas mãos erguendo-a na altura do abdômen como uma espada improvisada enquanto assistia apavorada a imensa sombra negra surgir, seus olhos amarelos brilhando sinistros e seu sorriso maquiavélico se tornando maior quando a viu parada no trecho sem saída da viela suja.

Sem demora o monstro investiu contra Manuela, seu tronco se esticando de encontro a ela levando a parte superior de seu corpo gigantesco onde uma imensa boca aberta cheia de dentes afiados aguardava ansiosa para devorar a pequena mulher acuada, o rosto disforme parou a centímetros dela, suas gengivas se projetando para fora aumentando o alcance da mordida direcionada sobre o ombro feminino com a óbvia intenção da arrancar um suculento naco do membro estreito sem que para isso precisasse mover a parte inferior do corpo do lugar em que parou alguns metros atrás.

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