CAPÍTULO XVII

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O sol estava se pondo, seus tons dourado e laranja se misturando ao cinzento das nuvens de fim de tarde, em pé no terraço do prédio em que morava, Leon observava distraído à mescla de cores proporcionada pela natureza, seus pensamentos longe, fixos na mulher que transitava pela cobertura abaixo de seus pés.

A cada dia que passava se sentia mais ligado a ela,  seus sentidos, seus pensamentos, seus planos, tudo tinha a ela como foco e direta ou indiretamente a envolvia, alguns poderiam chamar essa compulsão por Manuela de obsessão, de paixão os mais ousados poderiam até dizer que era amor, ele porém não se atrevia a nomear essa miríade de sentimentos que ela lhe despertava, pois não encontrava uma palavra capaz de descrever ou exprimir o que sentia.

Uma palavra porém, poderia descrever sua companheira constante dos últimos trinta dias, frustração, essa era sua consorte desde que trouxera Manuela para sua casa, viver sob o mesmo teto que ela sendo constantemente rejeitado estava se mostrando ser um martírio, não sabia até quando aguentaria sentir o cheiro dela pelos cômodos, ouvir seus passos, sua voz conversando amigavelmente com Jane, sua governanta e se manter longe.

Havia decidido dar espaço a Manuela após a última conversa que tiveram, percebera que forçar sua presença estava aumentando a aversão que ela sentia e mesmo contrariado se afastou, mas todas as madrugadas, quando ouvia sua respiração serenar entrava sorrateiramente no quarto e a olhava dormir.

Sabia que era errado, como tudo o que fizera em relação a ela desde que a conheceu, mesmo ciente disso não conseguia se impedir de entrar no quarto e passar a madrugada velando seu sono, admirando sua beleza e desejando ardentemente dormir e acordar ao lado dela, na noite anterior incapaz de se conter fora mais ousado, deitara ao seu lado e a puxara para os seus braços, sentindo maravilhado o seu cheiro e o seu calor.

Lembrou-se da felicidade que sentiu ao tê-la aconchegando-se em seus braços, aninhando-se em seu corpo como poucas vezes fez quando acordada, toca-la lhe dava um prazer sem igual, tê-la em seus braços era como finalmente chegar em casa depois de vagar perdido pelo mundo, só queria ser capaz de fazê-la entender isso.

Manuela era seu pequeno pedaço de céu na Terra e ao mesmo tempo seu inferno particular, nada que fazia ou dizia a agradava e começava a se preocupar com o fato de lhe restar apenas três anos para concluir o ritual, pois ao que tudo indicava não seria tão simples leva-la para cama, não tinha dúvidas de que ela o desejava, podia sentir, mesmo que ela negasse seu corpo não conseguia mentir, mas ela não o queria, aí residia o seu problema, parecia que mil e noventa e cinco dias não seriam suficiente para fazê-la baixar a guarda.

- Sabia que iria encontra-lo aqui. – A voz de Chris pode ser ouvida da entrada do terraço. – Sempre vem para cá quando está com a cabeça cheia.

Voltou-se para ele vendo-o alcança-lo em segundos com suas passadas largas, em uma das mãos trazia uma garrafa de uísque e na outra, dois copos.

- Creio que isso possa ajudar um pouco. – Falou mostrando os objetos que trouxera.

- Ajudaria se eu conseguisse ficar bêbado. – Suspirou recostando-se na mureta de proteção e recebendo o copo de cristal preenchido até a metade com a bebida cara, fixou seu olhar no líquido âmbar enquanto buscava em todo seu repertório mental uma forma de conquistar a mulher mais difícil que já conhecera.

- Pelo menos distrai e o gosto é bom – Comentou Chris solvendo um pequeno gole da bebida que se serviu. – Problemas no paraíso?

- Algumas dificuldades. – Amenizou ainda encarando a bebida fixamente, fazendo-a se mover em círculos suaves no recipiente de cristal apenas com a força da mente.

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