CAPÍTULO XI

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O som abafado dos passos ecoava no corredor silencioso enquanto Manuela seguia o bonito moreno até a porta no fim deste, seus passos lentos como os de um condenado que caminhava até a forca, sentia frio e não pelas roupas molhadas ou pelo clima chuvoso, seu corpo tremia apesar do cobertor que estava em volta de seus ombros, a sensação de irrealidade a envolvia, um aperto no estômago completava o peso que sentia no peito.

Nunca antes um caminho lhe parecera tão longo e tão curto ao mesmo tempo, seus olhos presos à porta, temendo o que iria encontrar depois dela. Uma oferta havia sido feita e aceita, o peso dessa escolha pesava em seus ombros com tal intensidade que os vergava, os acontecimentos daquele dia passavam diante de seus olhos como um filme de realidade distópica enquanto seus pés a levavam cada vez para mais perto do desconhecido.

O moreno abriu a porta e a fez entrar na tão temida suíte na qual Leon Roberts estava hospedado, não reparou na opulência do lugar, seus olhos fixaram-se no homem que de costas para ela contemplava a paisagem chuvosa pelo vidro das portas francesas que levavam a sacada. Ele não se moveu quando os ouviu entrar, vestia-se com sua elegância costumeira, uma calça de linho cinza escuro, uma camisa de mangas longas azul marinho dobradas até a altura do cotovelo, sapatos de grife nos pés, os cabelos molhados como se tivesse acabado de sair do banho, em uma das mãos um copo de cristal com um líquido âmbar que parecia ser uísque, a outra descansando displicentemente na lateral de seu corpo.

- Você precisa de um banho. – Disse ele ainda de costas, olhando para fora. – Mostre a ela onde encontrar tudo de que vai precisar. – Ordenou com voz fria.

Manuela olhou confusa para o homem moreno que a guiou pelos ombros até o outro lado do quarto enquanto ela ainda olhava por sobre os ombros a figura parada diante da entrada para sacada.

- Por aqui. – Falou suavemente abrindo a porta do banheiro e deixando-a sozinha em seguida.

Quando a porta se fechou ela sentou-se sobre o vaso sanitário e enterrou o rosto entre as mãos, sentimentos contraditórios dominando-a. Como era possível alguém estar feliz e desesperada ao mesmo tempo? Sentia vontade de chorar, mas não tinha mais lágrimas, seus olhos ardiam drenados pela quantidade de choro que derramou naquele dia, havia descoberto da forma mais terrível que morrer não era o pior que poderia acontecer alguém, ver quem amamos morrer, sentir a inevitabilidade, a impotência diante do fato consumado era a pior tortura a que um mortal poderia ser submetido, a dor mais latente que se pode suportar sem ir a óbito, pois por mais que doa, e doía insuportavelmente, essa não era um dor que matava a quem sentia.

Havia barganhado, implorado aos céus, a qualquer força poderosa o bastante para operar um milagre que devolvesse a vida de sua família, suplicou a única força mística comprovada que conhecia e no fim suas suplicas tinham sido atendidas, por um preço, ele havia deixado claro que cobraria, e em sua angústia garantiu não se importar com isso e não se importava, não depois de ver seus entes queridos sendo levados para o hospital milagrosamente vivos, com apenas algumas escoriações leve, para ficarem em observação.

Eles eram os únicos "sobreviventes" do terrível acidente, tiveram "sorte" fora o que os bombeiros e paramédicos que os encaminharam ainda desacordados as ambulâncias haviam dito, pois apesar do estado de inconsciência seus sinais vitais eram estáveis, não apresentavam fraturas ou traumatismos aparentes, seriam examinados minunciosamente para verificação de algum dano interno assim que chegassem ao hospital, ao que tudo indicava os Cavalcante ficariam bem.

Agora era chegada a hora de pagar pela graça recebida, não se arrependia do acordo feito, não voltaria atrás jamais, estava tendo uma chance que ninguém teve antes, mas isso não a impedia de tremer diante da imprevisibilidade de seu futuro ou mais precisamente de seu presente, estava com medo, apavorada era a palavra que melhor a definia naquele momento, nunca alguém lhe parecera mais assustador do que Leon parado de costas para ela, indiferente a sua presença, dono de seu destino e não só do dela, mas das pessoas mais importantes de sua vida.

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