A viagem de duas horas e meia entre Arraial do Cabo e o Rio de Janeiro foi feita por Manuela no mais completo silêncio, sentia os olhares de sua mãe, que sentada ao lado do marido na poltrona do outro lado do corredor ficava monitorando o estranho comportamento da filha que olhava frequentemente pela fresta que abria na cortina da janela do ônibus, para em seguida se afundar o máximo que podia no assento que ocupava.
Manuela tentou agir o mais normalmente possível levando em consideração o terror que a dominava, sua cabeça estava a mil, as mãos apertavam compulsivamente a bolsa em seu colo, angustia apertando seu coração. Não conseguia parar de pensar no que havia visto, quanto mais pensava menos entendia.
O que Leon havia feito com ela? Que estranha "marcação" era aquela? Ainda sentia dolorido e ardendo o local em que ele fizera o esquisito contorno com o dedo, era como se tivesse sido atravessada por um raio que a queimou profundamente, a lembrança da dor excruciante a apavorava, assim como o temível arco dourado que cercavam a íris dos olhos cor de avelã os transformando em um facho de luz cegante.
O que ele era? Não podia acreditar que fosse humano, pelo menos não completamente, não conhecia nenhum homem capaz de fazer algo tão assustador sem a ajuda de efeitos especiais e por mais que quisesse fazer de conta que tudo não passara de uma bizarra brincadeira de Leon, a realidade era evidente demais para ser ignorada. Ele havia entrado em seu quarto sem que o visse, de uma forma que ela nem fazia ideia qual foi, pois tinha deixado à porta e a janela trancada antes de dormir.
Até então o surgimento surpreendente dele em seu quarto de hotel era sua principal preocupação e desconfiança, mas depois daquele incidente fora do normal todo o resto eram apenas detalhes insignificantes.
Ele não havia mudado de fisionomia durante o aterrorizante evento, não lhe cresceu pêlos no corpo ou surgiram presas, nem lhe nasceu chifres e um rabo, mas decididamente ocorrera algo de outro mundo naquele quarto e não estava se referindo ao orgasmo alucinante que ele lhe proporcionou com a boca.
Não queria acreditar no sobrenatural, no extraterreno, era uma mulher de fé, mas coisas que a ciência não podia explicar nunca tiveram sua total credibilidade, não era dada a crendices e misticismos, no entanto nada do que conhecia até aquele momento conseguiria justificar o que tinha acontecido. O que ele era e o que queria com ela eram perguntas recorrentes em sua mente, não queria nem pensar nas consequências que isso teria sobre sua vida.
O ônibus de turismo estacionou em uma rua estreita próxima ao Cristo Redentor na qual vários carros já estavam estacionados, teriam que andar um pouco, uma vez que os estacionamentos mais perto da atração turística já estavam lotados, os passageiros empolgados começaram a descer nem bem o veículo parou, todos ansiosos para conhecer o famoso ponto turístico, nenhum pouco preocupados com o percurso que fariam a pé.
Quando seus pais desceram Manuela tratou de juntar-se a eles, andando ao lado deles enquanto olhava vez ou outra para os lados e para trás temendo encontrar um homem alto de olhos claros espreitando por entre a multidão.
- Filha, está tudo bem? – Questionou dona Joana com o cenho franzido de preocupação.
- Está sim. – Se apressou em confirmar.
- Então por que está olhando por cima do ombro como se estivesse com medo de encontrar uma assombração? – Insistiu desconfiada.
- Assombração? – Manuela sorriu sem graça. – Claro que não! Só estou olhando a paisagem, tudo é tão bonito por aqui.
- Manuela eu não nasci ontem! – Repreendeu em voz baixa para que seu Damião não ouvisse.
- Que bobagem mamãe! Está tudo bem. – Sorriu com uma confiança que estava longe de sentir.
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EM SUAS MÃOS
RomanceJá dizia o velho ditado: Cuidado com aquilo que deseja, você pode conseguir. Manuela Cavalcante descobriu tal verdade ao se ver como alvo do desejo de um homem extremamente belo, sexy e poderoso. Um homem cheio de mistério, movido por uma paixão obs...