CAPÍTULO XXIV

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Manuela ficou tensa em seus braços, em seu rosto uma expressão angustiada que ela tentava disfarçar com um sorriso trêmulo, sentiu o peito apertar diante da possível evidência de que ela já o repelia mesmo sem ter conhecimento de todos os fatos que levaram a perda de sua condição celestial.

Afrouxou o abraço que mantinha seus corpos colados sentindo-a escorregar lentamente para o outro lado da cama onde se cobriu com os restos do lençol, seu coração falhou uma batida quando viu suas atitudes, uma clara tentativa de mantê-lo à distância.

- Não sou perfeito. – Sussurrou deitando-se na cama e cobrindo os olhos com o antebraço. – Longe disso, sou falho, com defeitos bem humanos que por ser uma criatura originada da luz do Pai Celestial eu não deveria ter. – Sentiu os olhos de Manuela sobre si, mas se manteve na mesma posição. – Muitas vezes sou controlado por meus impulsos, minhas paixões e não meço as consequências dos meus atos. – Suspirou aborrecido consigo mesmo por sua inconsequência. – Mas, sempre darei o meu melhor para você. – Assegurou com sinceridade.

Pode ouvi-la segurar a respiração para expeli-la em uma golfada sôfrega pouco antes de senti-la escalar seu corpo e sentar-se sobre seus quadris tirando impetuosamente seu braço de sobre seus olhos fazendo-o encara-la surpreso.

- Estou cansada de ser a última a saber de tudo, principalmente de coisas que me atingem diretamente, vivi assustada olhando por cima dos meus ombros por muitos anos. – Ficou calado deixando-a continuar com sua estranha conversa, esperando-a concluir seu discurso enquanto buscava mentalmente algo para dizer caso no fim daquele desabafo ela lhe dissesse que se arrependia de terem ficado juntos. – Não vou passar a eternidade assim!

- Manuela... – Começou, mas ela colocou o indicador sobre seus lábios calando-o enquanto o fitava decidida.

- A partir de hoje Senhor Roberts o senhor me conta absolutamente tudo. – Decretou severa, seu olhar preso ao dele, a expressão de quem não admitia ser contrariada. – Mesmo que seja algo que você considere terrível e que acredite que não sou capaz de aguentar, ainda sim vai me contar, entendeu? – Retirou o dedo de sobre a sua boca e aguardou a resposta.

- Sim. – Concordou sentindo a esperança aquecê-lo por dentro.

- Sim o que? – Questionou ela autoritária.

- Sim senhora. – Respondeu sorrindo suavemente.

Estava adorando aquele lado imprevisível e até um pouco mandão dela, era tão sexy quanto tê-la nua sobre ele, lhe dava ideias bem criativas de como aproveitar essa nova faceta de seu Pedacinho de Céu, ela se inclinou para frente e lhe deu um beijo rápido antes de voltar à posição inicial e proferir de chofre.

- Você é o Diabo?

- O que? – Indagou sem acreditar que ela lhe fizera mesmo aquela pergunta.

Manuela manteve o olhar preso ao seu, a expressão séria deixava evidente que aquela era uma pergunta que deveria responder com toda honestidade, obviamente o faria, mas o fato dela dentre todas as pessoas levantar tal questão o surpreendia e também o magoava, não soube exatamente o porquê já que não era a primeira vez que lhe faziam esse questionamento.

- Você ouviu. - Disse austera. – Então me diga a verdade, você é o anjo caído da Bíblia? - A maneira que o olhava com um misto de receio e expectativa deixava claro o quanto era importante sua resposta. - Você é Lúcifer?

- Não.

O silêncio reinou no quarto por longos minutos, até que foi quebrado por ela ao indagar.

- Como pode ter certeza? – Ela apertou os olhos, nada satisfeita com sua resposta simples. – Você mesmo disse que não lembra mais seu nome celeste. – Sua cabeça parecia funcionar a mil por hora, analisando cada palavra que ouviu nas últimas horas como se buscasse as inconsistências de sua história. – E se não lembra seu nome justamente porque você é o Lúcifer?

EM SUAS MÃOSOnde histórias criam vida. Descubra agora