CAPÍTULO XV

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Dias Atuais

Manuela se espreguiçou na grande cama King Sige, sentindo a maciez do lençol de algodão egípcio sobre seu corpo, afastou o tecido para o lado vendo que ainda estava com o vestido da noite anterior, agora amontoado ao redor de sua cintura delgada.

Não pensou que conseguiria dormir na cama do inimigo, mas seu corpo cansado e seus olhos traiçoeiros haviam apagado tão logo trancou a porta quando Leon deixou o quarto.

Olhou para o criado mudo em busca de um relógio, o quarto permanecia na penumbra por conta das grossas cortinas que cobriam as janelas e não fazia ideia das horas, levantou-se sentindo o corpo reclamar, cada músculo dolorido como se tivesse sido atropelada, discutir com alguém sempre a deixava com a sensação de que tinha levado uma surra, seu mal estar físico refletindo seu desconforto emocional, odiava essa sua sensibilidade, descalça marchou até a cortina abrindo-a e fechando os olhos imediatamente ao ser atingida pelo brilho forte do sol que já estava alto, devia ser por volta de meio dia.

Não lembrava a ultima vez que havia dormido tanto, também não fazia ideia da hora que havia finalmente pegado no sono, depois de seu encontro com Leon ficara difícil dormir, a adrenalina ficara correndo por seu corpo por um longo tempo, sua mente revivendo lembranças que achava que tinha enterrado.

O beijo dele ainda tinha aquele efeito eletrizante que a arrepiava e incendiava, o cheiro era tão envolvente quanto se lembrava e sua presença marcante ainda a desconcertava, achava que era capaz de lidar com ele, mas o fracasso da noite anterior só comprovava que estava bem enganada, odiava deseja-lo com tanta intensidade e o fato de seu corpo traiçoeiro e sua mente não entrarem em acordo quanto a mantê-lo a distância a confundia e assustava.

Leon era uma força da natureza, não podia ser detido em suas aspirações e por algum motivo que não era capaz de compreender ele a queria, mesmo depois de vinte sete anos. Não era só dominação o que vislumbrava em suas feições másculas quando a olhava, era desejo puro, primitivo e por isso mesmo tão assustador, como impedi-lo de concretizar seu intento quando se via tão fraca diante de seus avanços?

Passou a mão pelos cabelos afastando-se da claridade excessiva, olhou a redor do quarto tentando se situar. Algo imediatamente chamou sua atenção, próxima da porta, recostada displicentemente a uma parede estava sua mochila, vacilou por um segundo achando que era apenas sua imaginação, na noite anterior quando trancara a porta ela não estava lá, o que significava que Leon entrara no cômodo quando ela estava dormindo, o que confirmava que uma tranca não poderia para-lo.

Não deveria estar surpresa levando em consideração o que já sabia sobre ele – O que não era muito – Mas obviamente ele não era apenas um milionário bonito e excêntrico, era um homem com conhecimentos e habilidades além do imaginado, desconfiada, caminhou pé ante pé até a mochila, esperando que ele fosse aparecer magicamente na sua frente no momento em que pegasse a bolsa gasta, sua velha companheira de fuga.

Abraçou aliviada o único patrimônio que possuía, mas o que de fato a alegrava era o conteúdo guardado no fundo falso da mochila, seria ele que a libertaria daquele maldito acordo de modo que não haveria mais perdas, pelo menos não para ela.

Pelo menos foi o que dissera Antônia, a mulher que vinha orientando-a e ajudando-a nos últimos anos, desde que se dera conta que a ajuda de Leon modificara de maneira irreversível sua vida.

Caminhou apressada até o closed onde se trancou para conferir se o conteúdo valioso de sua mochila permanecia no lugar em que deixara, sentou-se no chão retirando apressada as poucas peças de roupa que preenchiam seu interior. Uma pequena agenda foi jogada ao chão, um canivete seguiu o mesmo destino, suspirou ao se desfazer displicentemente do objeto, aquilo nunca seria uma arma real contra Leon e o que quer que ele fosse, mas de alguma forma carrega-la lhe dava alento.

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