CAPÍTULO XXXVIII

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Manuela levou a mão aos lábios cobrindo um bocejo, espreguiçou-se alongando o corpo em seguida, sentou-se esfregando os olhos cansados que ardiam como se nem mesmo os tivesse fechado, sua mente ainda era uma bagunça enevoada que fazia coro com seu corpo dolorido.

Seus olhos abertos não focavam nada em particular, mas a sensação de que algo estava fora de lugar a fez piscar várias vezes consecutivas até clarear a visão turva, a primeira coisa que se deu conta é de que estava sentada no chão, não no piso de alguma construção, mas no chão de terra escura levemente úmida recoberto por folhas, ao seu redor grandes árvores verdejantes de copas altas, os primeiros raios de sol tentavam se infiltrar por entre as folhas e galhos, mas apenas suaves feixes de luz pontilhavam o terreno de onde se levantava uma névoa densa e fria.

Se ergueu assustada sem saber onde estava, olhou ao redor dando um giro de trezentos e sessenta graus tentando ver algo que não fosse os grandes pinheiros e a bruma que os envolvia.

- Olá. – Sussurrou temendo acordar alguma fera que morasse naquela floresta. – Tem alguém aqui? – Perguntou num tom um pouco mais alto, para sussurrar logo depois. - Além de mim?

Suas palavras ecoaram no silêncio reinante fazendo-a estremecer e se abraçar em uma precária tentativa de conter seu temor, deu um passo para frente cogitando se deveria enveredar pelo ambiente desconhecido e possivelmente hostil encolhendo-se de dor ao sentir uma fisgada no solado do pé por ter pisado em um galho seco caído no chão, percebeu que ainda estava descalça, mas a roupa que vestia era outra, notou ela levantando a borda do tecido azul escuro espeço que lhe alcançava o calcanhar, reparando também as mangas bufantes que se ajustava em seus antebraços, fazendo-a lembrar de roupas de época.

Franziu o cenho ainda mais desorientada ao juntar esse detalhe às demais esquisitices as quais se dava conta, como havia ido parar naquela floresta? Perguntou-se olhando para o alto em direção a copa das árvores, sabia que não havia ido sozinha já que não fazia ideia de onde estava nem nunca antes tinha visto lugar semelhante.

De repente uma enxurrada de lembranças começou a passar em fleches por sua mente, recordou-se de um monstro imenso e negro de dentes afiados e olhos malignos que a perseguiu e tentou devora-la, tremeu relembrando a sensação de estar presa entre os rolos formados pela calda escura na qual se converteu as pernas do bicho, da dor das garras rasgando-a e da apavorante sensação de morte eminente, olhou por sobre o ombro temendo encontra-la as suas costas, mas outra imagem surgiu em sua cabeça, a criatura sendo retalhada por afiadas lâminas de gelo e se desfazendo em uma borra negra que desapareceu pelas frestas no chão. Havia um homem, deu-se conta ao rememorar os momentos que se seguiram à destruição da criatura, uma silhueta difusa que se desculpou por ter demorado a chegar, não sabia quem era, por mais que forçasse sua mente não conseguia lembrar-se de seu rosto, mas aquela voz não lhe era estranha.

- Oi! – Gritou imaginando que havia sido o tal homem que a trouxera para aquele lugar inusitado.

Tapou os lábios com as mãos imediatamente buscando silenciar-se ao ser assaltada pelas dúvidas quanto às intenções do desconhecido, se realmente tinha sido ele quem a levara para aquela floresta e a deixara deitada no chão, exposta às intempéries do clima e das criaturas que habitavam o lugar, certamente suas intenções não eram as melhores e não conseguia pensar em outra resposta para explicar sua presença naquele local.

Ouviu o som de galhos se partindo e de passos se aproximando rapidamente, virou-se em direção ao ruído levando as mãos ao peito na altura do coração esperando assim acalmá-lo ao mesmo tempo que temia pelo pior, seus olhos arregalados presos nas sombras sob as árvores a permitiam apenas vislumbrar a figura que se aproximava a passos largos, pode perceber que o visitante era humano ou pelo menos tinha o corpo de um já que sua face permanecia escondida pelas sombras das folhas.

EM SUAS MÃOSOnde histórias criam vida. Descubra agora