Ponto de vista de Daichi
Em meio ao meu caos sentimental, eu havia me esquecido dos meus tios no domingo. Eu devia ter falado com Arthur mais cedo.
- Eu vou amanhã até a casa de meus tios, Kenzo e Theodorus. Gostaria muito que você fosse comigo conhecê-los. Eles são ótimos.
- Tenho certeza que sim. Mas amanhã eu prometi a Toya de irmos ao cinema.
- O que foi que você disse? - Ele vai a um encontro? Com Toya???!!! Com o cara que está arrastando um caminhão, um trator e uma escavadeira por ele? Ele vai me deixar sozinho no domingo para sair com outra pessoa??!!!
Uma vontade insana de pegá-lo feito um saco de batatas e jogá-lo de novo no mar se apossa de mim. Se ele pensa que vai sair em encontros com outras pessoas está muito enganado!!!! Ah, mas eu vou trancá-lo em casa! Acorrentá-lo ao pé da cama! Já sei!!!! vou transar com ele a noite toda e deixá-lo sem poder andar amanhã... E antes que eu possa segurar a língua, me ouço dizendo.
- Você não vai ao cinema com ele e nem com ninguém além de mim.
- Hein? Daichi Sato, o que deu em você? Está maluco???!!! Desde quando você é meu dono? Eu faço O QUE eu quiser e QUANDO eu quiser. E eu vou sair com Toya sim!!!! E nem tente me impedir!!!
- Ora seu moleque insolente!!!! Se eu disse que você não vai sair é porque não vai sair!!!
Chegamos em casa assim, brigando feito duas crianças. Eu só posso estar maluco! Nem quando eu era criança eu brigava de forma tão infantil!!! Esse moleque me tira do sério!!! Quem ele pensa que é?
- Eu não quero mais ouvir uma pessoa tão irracional assim!!!Você devia ter vergonha!!! Já tem 32 anos e está agindo como um menino birrento de três!!!!
- Olha aqui, moleque, você é que é infantil!!!! E já que você não quer desisitir do cinema, então eu vou com vocês!!!!
- Ah, mas não vai mesmo!!!! Nós não temos nenhum compromisso!!!! É apenas sexo!!! E assim sendo, você pode ir para sua casa agora, porque eu vou para a minha e dormir SOZINHO!!!! E amanhã eu vou ao cinema com Toya!!! E se você abrir a boca para me contradizer agora, eu peço demissão e saio daqui! Deixa de ser controlador e possessivo! Eu não sou sua propriedade!!!! E aproveite o tempo em que está sozinho para refletir sobre sua atitude!!!
Quando ele diz isso, já havíamos chegado ao nosso andar e ele fecha a porta do apartamento dele com mais força que o necessário bem na minha cara. Eu faço menção de botar aquela porta abaixo e continuar a discussão, mas estou tão cheio de raiva que vou direto para meu apartamento, troco de roupa, pego minha prancha e vou pegar onda para tentar me acalmar. Há um turbilhão em meu peito. Moleque insolente! Ele é meu!!!! De mais ninguém!!!!
Como sempre, o mar tem um poder relaxante e curador sobre mim. Eu fico ali, pegando onda até escurecer. Arthur não aparece na praia, como se pressentisse que eu estava lá. Eu volto para casa. Eu devia estar saindo para comer. Na verdade, eu devia estar com Arthur, aproveitando os momentos com ele, rindo juntos, beijando aquela boca fenomenal, me perdendo naqueles olhos cor de mar. Mas não. Eu estou aqui, morrendo de ciúmes do amor da minha vida. E de quem é a culpa?
Minha, claro. Se eu tivesse me declarado para ele, eu não estaria nesse impasse agora. Arthur tem razão. Eu não sou dono dele e nós não temos nenhum compromisso. Mas não é apenas sexo. Não para mim. Arthur tem meu corpo, mas também tem meus pensamentos e meu coração.
Desde que eu o vi naquele bar. O desespero que eu senti quando ele desmaiou. Os ciúmes que eu senti de Tatsuo. Os ciúmes que eu agora sinto de Toya. A raiva que eu senti de Rafael e por que? Apenas porque ele disse a mais pura verdade?
Eu não sou tão próximo de Rafael quanto sou de David, mas eu o conheço há muito tempo e ele não mede as palavras. Mas jamais é cruel ou maldoso. Ele apenas colocou em palavras aquilo que viu em mim.
Estou me sentindo o ser mais patético do planeta. E ainda assim não encontro a coragem para bater na porta dele e pedir perdão. E me declarar. E pedir que ele seja meu namorado. E dizer a ele que a minha vida não tem sentido se ele não estiver nela.
Eu costumava me enganar, achando que Daichi Sato não tem medo de nada. Bom, eu não tinha medo de nada até Arthur entrar em minha vida.
Eu tomo um banho demorado, deixando a água escorrer por meu corpo, mas ainda assim estou inquieto. Me seco, vou para o quarto e coloco uma calça de moletom. Deito na cama, com os olhos fixos no teto. E é assim que os primeiros raios de sol me encontram.
Eu ando feito um autômato pela casa, me preparando para sair. Meus tios estão me esperando. Aliás, estão nos esperando. Mas eu irei sozinho. Eu não quero ver ninguém, que dirá falar, mas com meus tios eu posso ser eu mesmo. Eles não julgam e não criticam. E seus conselhos são sempre sábios.
Meus pensamentos são tão profundos e torturantes que nem percebi que dirigi até a casa deles no automático. Ao tocar a campainha meu coração pára de bater. Estou nervoso e nem sei o que vou dizer.
- Daichi, sobrinho querido! Está sozinho?
É Theodorus quem abre a porta. O tio tem quase a mesma altura que eu. Cabelos ruivos já um pouco grisalhos e olhos azuis profundos. Em seus olhos vejo primeiro confusão, depois entendimento e, por fim, compaixão. No segundo seguinte sou puxado para um abraço apertado.
- Kenzo!!!! Vem agora, amor!!!!
Ouço os passos apressados de ojisan Kenzo que, ante a cena, faz o que ele faz de melhor: se junta a nós no abraço. Eu eu nem tinha notado que estava com lágrimas nos olhos até que os soluços tomam conta de mim. Eles me levam até o sofá e se sentam um de cada lado, me dando as mãos e pacientemente esperam que eu comece a falar.
E eu falo. Eu conto tudo. Tudo mesmo. Desde o início, apesar deles já terem ouvido parte da história no telefone. Só que, desta vez, eu falo do meu ciúme e da minha incapacidade de dizer a Arthur o que vai em meu coração. Falo da minha falta de autocontrole perto dele e da minha recém descoberta habilidade de fazer e falar besteira. Eles ouvem em silêncio, às vezes se olhando num entendimento mudo. Eles não me interrompem até que eu termine minha história entre lágrimas.
- Daichi, sobrinho, pode parecer estranho, mas se você falar para ele o que sente, será melhor...
- Tio, ele vai rir de mim! Ele mesmo disse que eu não tenho nenhum direito sobre ele ontem. Que era apenas sexo.
- Daichi, ele disse isso porque você ainda não se declarou. Ele está esperando que você diga, que você peça... não que você tome. Pelo que você diz, Arthur é uma alma guiada pelo amor. Você não teria chances se ele não sentisse mais do que desejo por você. Mesmo que ele não tenha visto isso no início. Acredite em mim. Não é, Theodorus?
- Eu também acho, Daichi. E porque Arthur é romântico, acho melhor você fazer algo à altura de suas expectativas.
- Mas o quê?
- Nós podemos conversar enquanto comemos. Você não precisa se desesperar. Você tem tanta coragem para desafiar seus pais e fazer coisas que a maioria das pessoas teme. Não tenha medo do amor e nem de se declarar. Principalmente porque você acha que Arthur merece ser amado. Ou não?
- Claro que sim, ojisan, mas ele merece o mundo! Será que eu consigo dá-lo a ele?
- Talvez ele não queira o mundo, apenas o seu amor... Pense nisso.
- Isso ele já tem!
- Então você só precisa demonstrar a ele, com atos e palavras para que ele acredite. E Daichi? Diga hoje, porque o amanhã pode não chegar...
Eu passo o dia com meus tios e me sinto muito melhor ao sair dali no final da tarde. Vou para casa já com uma idéia em mente, rezando para Arthur voltar para casa e para mim. E não ficar com Toya, tendo sido conquistado por ele.
N/A
Bem, Daichi menino birrento saiu para fazer das suas e meteu novamente os pés pelas mãos. Como Seiji disse a Iori, "coisa linda de se ver". O que será que ele vai fazer?
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Combustão (Livro 3 da Série Akai ito)
RomancePLÁGIO É CRIME! Estória original, escrita por mim, com personagens de minha autoria. Proibida a reprodução total ou parcial!!!!! Quando você vê seu primeiro amor se transformar em cinzas e todas as esperanças que você tinha desaparecem, o que você f...