Laura e Carla

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POR FAVOR, OUÇAM A MÚSICA!!! 

Segunda-feira

Ponto de vista de Carla

As coisas estavam cada vez piores em casa com o Sandro. Estamos juntos desde o último ano do ensino médio e fomos morar juntos logo depois da formatura na faculdade. Ele era um charme e eu me apaixonei logo de cara. Quem não se apaixonaria por um cara atencioso e gentil como ele.

No início eram apenas flores e felicidade. Mas algum tempo depois ele começou a colocar defeitos em mim e nas coisas que eu fazia e falava. E ficou pior depois que fomos morar juntos. Ele reclamava de tudo: da limpeza da casa à comida. 

As coisas pioraram quando eu comecei a engordar. Quando nos conhecemos, eu era bem magra. Ele estava sempre elogiando meu corpo. Quando ganhei alguns quilos, a coisa mudou drasticamente. Ele não se cansava de dizer que eu estava gorda, que comia demais, que precisava me exercitar e fazer regime. Além disso, ele ainda fazia questão de dizer que meus seios estavam caídos e não eram mais tão atraentes quanto antes. 

É claro que isso interferiu em nossa vida sexual. Ele agora passava mais tempo fora de casa do que antes. E o sexo, que antes era cheio de preliminares e jogos sensuais, se resumiu a uma atividade bem esporádica, rápida e mecânica. Eu diria que, completamente sem sentimentos. Eu desconfiava, já há algum tempo, que ele me traía com várias outras mulheres. 

Eu trabalho muito, em várias ocasiões faço horas extras por causa dos prazos dos projetos e quando estou de folga, gosto de jogar no celular ou no computador, como forma de relaxar. Pois isso também era motivo para brigas. Não que eu deixasse nada bagunçado, mas aos olhos dele eu era imperfeita demais e nada fazia certo. O irônico da situação é que ele não ajuda em quase nada na manutenção da casa. Sou eu quem faz tudo enquanto ele vai para academia treinar. 

Eu tentei o máximo que pude conversar com ele, para resolver nossas diferenças e melhorar o relacionamento mas, fui perdendo a paciência. E quando eu reagia aos comentários de Sandro, a desculpa que ele usava é que estava falando aquilo para o meu bem, porque me amava e queria que eu melhorasse. Como se ele fosse a perfeição. 

Quando eu cheguei em casa na sexta, depois do karaokê, ele não estava. E eu respirei aliviada, Mas meu alívio foi precipitado. Porque ele chegou uma hora depois de mim, quando eu já estava deitada na cama. Ao invés de se deitar e dormir como ele costuma fazer, ele começou a me acusar de negligenciá-lo e de preferir sair com meus colegas de trabalho a estar com ele. E foi aí que a briga começou. 

Acusações de todos os lados, drama, lágrimas. Eu já não aguentava mais aquilo. Dez longos anos de abuso psicológico. Eu falei em separação. Não era a primeira vez que eu tocava no assunto, tentando dar um fim àquilo, mas ele não queria. Dizia que me amava que não ia conseguir viver sem mim. Dizia também que, se eu o deixasse, ele iria fazer uma besteira e que a culpa seria apenas minha. 

E eu cansada de discussões, deixei que ele me tocasse, quando na verdade queria distância dele. E como era de se esperar, foi tudo mecânico e sem emoção. Não sei descrever o quanto eu me sentia frustrada com tudo aquilo. 

Só que eu não conseguia sair disso. Eu havia me acostumado à essa meia vida. Minha única alegria é ir para o trabalho. Meus colegas são maravilhosos, principalmente a Laura. Ela é tão alegre e amiga. É com ela que desabafo sobre meus problemas. Nós costumamos almoçar juntas e nos falamos por telefone ou mensagem todos os dias. 

Há algum tempo eu tenho reparado na Laura de uma maneira diferente. Eu sempre a achei linda, mas agora eu sinto algo mais quando olho para aqueles cabelos castanhos, curtos, os olhos castanho-esverdeados naqueles óculos de armação cor de rosa. Laura é esguia, seios pequenos e, apesar de sua estatura baixa,  ela exala sensualidade. Imagino que os homens devem ficar babando por ela. Mulheres também. Os lábios de Laura são um convite à luxúria. E eu tive muita vontade de beijá-la na sexta-feira à noite. Na verdade, passei a vê-la com outros olhos depois do karaokê, quando ela cantou aquela música para mim.

Combustão (Livro 3 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora