Eu posso esperar para sempre...

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Ponto de vista de Júlia

Depois de uma semana inteira falando ao telefone e mandando mensagens, a sexta-feira havia finalmente chegado! E em algumas horas, o amor da minha vida estará comigo.

Eu passei este tempo todo pensando e planejando o jantar para Iori. Eu realmente queria que tudo estivesse perfeito. Eu gosto de cozinhar. Minha mãe diz que eu herdei isso de minha avó e minha tia. Elas duas gostavam muito de cozinhar para um batalhão.

A noite de quinta foi destinada à limpeza da casa e à arrumação. Aproveitei o plantão de Iori e sua impossibilidade de me ligar. Deixei as coisas para o jantar já preparadas para facilitar para hoje.

Acordei mais cedo e troquei os lençóis da cama. Eu não queria esperar mais. Minha alma o reconheceu no primeiro instante, e eu estava decidida a dar a ele a felicidade que, na outra vida, nos foi roubada.

Eu havia falado com Arthur na segunda de manhã. Ele mesmo ligou, estranhamente, para agradecer. Finalmente Daichi havia se declarado e eles estavam namorando. Ele ainda tentou se meter entre mim e Iori, mas eu o cortei. Na verdade, algo me diz que Arthur é o menor de meus problemas. Iori já havia me falado que sua família é tradicional e que eles terão muita dificuldade em me aceitar. Como Iori é primo de Daichi e eu vejo conflitos para eles aceitarem Arthur, imagino que comigo será o mesmo, ou pior, por causa do temperamento suave de Iori. Mas Iori me garantiu que, se for preciso, ele corta relações com eles. Não sei se isso será realmente necessário. 

Eu estava também mantendo contato com Seiji. Ficamos muito próximos e depois que ele soube que Iori que havia me encontrado, começou a me chamar de cunhada. Eu não contei a Seiji sobre minhas habilidades. Eu sei que pareço assustadora para a maioria das pessoas. Mas minha língua está coçando para dizer a ele que não recuse o convite do próximo fim de semana, embora eu saiba que ele não poderá ir.

A caminho de casa, me lembro que não falava com Eduardo há mais de uma semana. Pego o telefone e faço a chamada.

- Oi maninha!

- Oi irmãozinho! Como você... - E eu sei. Simplesmente sei o que aconteceu. - Você o encontrou!!!! Já sei que vai me mandar ficar quieta, que não gosta do meu dom. Desculpe. Tenho mesmo que parar de fazer isso com as pessoas.

- Julia, Eu não estou te reconhecendo! Você nunca pediu desculpas por ser quem é! O que deu em você? Ah! Ele chega hoje... entendi. Olha, vai dar tudo certo!

- E como você sabe????!!!

- Júlia, eu não sou como você, mas eu também vejo, ouço e sinto coisas. Em escala bem menor. Aparentemente meu dom é mais focado em mim e em Toya. O que não me impede de captar as vibrações vindas de outras pessoas. E sabe porque eu fazia pouco caso do seu dom? Porque eu via Toya. Eu podia senti-lo. Desde que eu tinha 5 anos de idade. E doía muito. Então eu escondi isso de todo mundo. Eu estava sempre namorando porque eu não aguentava cada vez que ele sofria, ou que estava com alguém que não era eu. - Eu estou boquiaberta. Não apenas pelo fato de Eduardo também ter o dom, mas por ele poder ver seu amor e senti-lo. Enquanto ele me conta como foi isso durante sua infância e adolescência, eu vou ficando cada vez mais impressionada com meu irmão.

- Júlia, será que você pode me entender e me perdoar?

- Não tem problema, Eduardo. Eu nunca fiquei triste com nenhum de vocês dois, porque eu sei que vocês me amam e eu não esqueci as inúmeras vezes que você e Arthur entraram em brigas para me defender: a esquisita da escola. Mas então o Arthur não sabe sobre você?

- Ele sabe porque eu contei a ele, já há uns dois anos. Quando nossos pais se mudaram e o Arthur teve que ir junto, se separando do namorado, ele só pensava em voltar. Eu via isso. E eu disse a ele que era uma esperança vazia. Que o destino dele não estava ali. Mas ele ficou bravo comigo e brigamos. Acabamos nos afastando por causa disso. Um dia eu liguei para ele e contei sobre mim, mas você sabe como ele é. Ele faz o mesmo com você. A propósito, nossos pais estão a caminho, Júlia. E vão ligar para você. Eles podem ficar aqui comigo. Você precisa de tempo com seu amor e Arthur, bem, digamos que Arthur respire Daichi 24 horas por dia. 

- Eles estão mesmo muito focados em si mesmos. Mas...

- Eu sei, Júlia. Vai ser difícil. Vamos nos preocupar com isso quando chegar a hora, ok? Qual o nome do seu bonitão?

- Ele se chama Iori. É primo de Daichi. 

- Toya trabalha com Daichi.

- Vamos combinar de nos encontrar? Já que aparentemente todos se conhecem, ou quase todos? O que acha? Ou esperamos a mãe e o pai?

- Eles não vão demorar... mas eu quero ver você. Eu chego amanhã com tudo para arrumar. 

- E para ver Toya, claro. 

- Sim. Eu esperei muito tempo e esperaria uma eternidade, se preciso fosse. Mas agora que eu o encontrei, só saio do lado dele se eu estiver morto ou se ele não me quiser mais.

- Nós nos vemos depois que vocês matarem as saudades. Talvez no próximo fim de semana? Agora eu preciso ir. Tenho comida para fazer. Tchau irmãozinho!

- Não se esqueça de que será maravilhoso! Tchau!

Eu chego correndo em casa, olhando incessantemente no relógio. Em duas horas ele estará aqui! Eu havia me decidido por fazer uma receita muito apreciada por minha avó. Eu não a conheci, pois ela morrera anos antes de eu nascer. Mas minha tia, que também já não estava mais conosco, havia me ensinado: Bacalhau à Brás. 

Eu ponho a mesa com capricho e vou tomar um banho. Eu já tinha escolhido o que vestir. E não, eu não sou dessas mulheres que têm uma guarda-roupa sexy. Escolhi um vestido simples, vermelho, que eu achava que combinava comigo e me deixava bem. Eu não sou magra nem gorda. Mas comparada a muitas mulheres, eu tenho mais carne do que gostaria. 

Penteio meus cabelos e os deixo soltos. Coloco sandálias de salto. Pois é, Iori tem mais de 1.80m e eu sou baixinha. Passo meu perfume preferido e me olho no espelho. Pois é, Júlia, chegou a sua vez de ser feliz.

Estou dando uma última olhada em mim mesma quando a campainha toca. Meu coração falha várias batidas. É até engraçado. Eu que costumo ser aquela que está sempre centrada e nada me abala, agora estou com as mãos trêmulas e sem saber direito como agir. 

Eu quase corro até a porta, respiro fundo e abro. Ali, na minha frente, está o homem que eu amo, ainda mais lindo do que quando ele me deixou no sábado. Eu dou passagem para que ele entre e assim que eu fecho a porta, me jogo em seus braços. Ficamos assim, abraçados por um bom tempo. 

- Eu estava com tantas saudades, meu amor! - Ele diz, me beijando os cabelos.

- Eu também! - Eu não quero desgrudar dele nunca mais. 

E quando eu levanto meu rosto, nossos olhos se encontram e o beijo é inevitável. Um beijo cheio de saudades. De saudades tanto nesta vida quanto na vida passada. Um beijo que encerra o capítulo da separação e inicia um novo capítulo, ainda incerto. A única certeza que temos, é o amor que sentimos um pelo outro. 


N/A

Agora é a hora meus amores. Algum pedido especial? Aproveitem que o capítulo ainda não está fechado. Já me pediram que fosse lindo e estou trabalhando nisso. Amanhã tem mais! Agora vou dormir porque está tarde! Amo vocês!!!

Combustão (Livro 3 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora