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Jisung está a exatamente sessenta e sete minutos dentro da sala de Seo Changbin, mas pra mim que espero na recepção da delegacia, parece sessenta e sete anos.

Ainda era difícil pra ele, Jisung lidava melhor com seus traumas, mas essa melhora só aconteceu quando ele se viu obrigado a falar com outras pessoas pelo próprio irmão. Por mais que fosse mais fácil, não significava que ele tinha superado por completo, sua voz e corpo ainda tremiam e suas mãos suavam frio como se ele estivesse a ponto de gritar.

Imagina-lo agonizando por mais de sessenta minutos me faz entrar em desespero, e quando penso nas coisas que ele está contando e que eu provavelmente não sei, esse desespero duplica. Mesmo que eu esteja apaixonado por ele, não posso negar o fato de que ainda não sabemos nada um do outro, e que tudo que ele contar pra Changbin pode faze-lo trilhar um caminho até o beco e finalmente me encontrar.

Depois de tomar quatro copos de água, acabo rasgando o copo descartável em tirinhas como uma forma de me distrair, mas nada me faz parar de pensar no que acontece na sala ao lado. Minhas mãos esmagam o copo e eu respiro fundo, acabo sentindo o olhar de Hyunjin em mim através do vidro que separa sua sala da recepção. Eu lhe dou um sorriso pra fingir que estou tranquilo, ele sorri de volta mas não parece acreditar no meu fingimento.

Quando Jisung sai da sala de Changbin, seu corpo esta coberto de suor e a pele de seu rosto é pálida feito papel. Eu vou de encontro a ele, percebo sua respiração rápida e nervosa e a forma como seus olhos não olham pro que está a sua volta.

— Ei, Jisung – eu seguro seus ombros e me abaixo pra que ele olhe pra mim – Você está bem? O que fizeram com você?

— Isso é uma delegacia, Minho, não uma sala de tortura – escuto Changbin dizer e olho pra cima para vê-lo.

Está me intimidando de novo, ultimamente suas respostas voltaram a ser arrogantes, mas eu ainda não sei se esse é seu jeito e sua postura, ou se ele realmente tem algum problema comigo.

— Fizemos o que estava ao nosso alcance para deixa-lo confortável, ocorreu tudo bem, mas é natural que ele fique nervoso – explicou.

Eu acenti pois não queria causar problemas, mas não acredito no que ele diz. Não acho que Changbin seja o tipo de pessoa que saiba fazer alguém se sentir confortável, na verdade, ele foi criado e treinado pra pressionar as pessoas até que elas revelem quem realmente são. Eu não confio nele, ele representa uma ameaça pra mim. Changbin certamente ia descobrir tudo com um pouco mais de esforço, ele é bom no que faz, esse é o problema.

— Sim, é claro – tentei sorrir, e Changbin ainda me olhava como se eu fosse uma presa – Vamos, Jisung.

Peguei o pulso do garoto e dei as costas para Changbin, acenei brevemente pra Hyunjin e me curvei antes de finalmente deixar a delegacia. Abri a porta do carro pra Jisung e suas mãos que ainda tremiam colocaram o cinto de segurança sem a minha ajuda, e eu dirigi pra longe esperando nunca mais voltar ali.

— Você está bem mesmo? Fizeram algo com você? – perguntei um pouco desesperado.

Jisung abraçou o próprio corpo e acentiu, não estava chorando e isso já era um bom começo, mas estava assustado e nervoso, e talvez demorasse um pouco pra voltar ao normal.

— Estou bem – respondeu baixinho.

Consegui ficar mais calmo depois disso, e até diminui a velocidade do carro quando o desespero passou. Estacionei na garagem de casa e Jisung desceu sozinho, eu queria perguntar se ele precisava de alguma coisa, mas ele apenas me pediu pra deixa-lo ficar em meu quarto durante o resto do dia.

Com Gahyeon na faculdade e Jisung se isolando, o que me restou foi sentar no sofá da sala, ligar a TV, e esperar o tempo passar. Se minha vida fosse igual antes, eu ia me distrair e o dia ia passar rápido, mas depois de tudo que aconteceu, eu não consigo nem prestar atenção no que quer que esteja passando na TV.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora