- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)

034

Guryong Village
Quatro anos antes do crime.

Jisung olhou pela janela do porão da livraria, conseguia sentir o cheiro forte de lixo que vinha da rua depois que a chuva espalhou a sujeira de Guryong pelo bairro todo.

Se colocou na ponta dos pés, se apoiando na janela pra tentar enxergar o tênis de Sicheng vindo de algum lugar. Olhou no relógio da parede, estava atrasado a dez minutos e isso fazia Jisung ter tiques nervosos devido a ansiedade. Não gostava de enrolações, e sabia que Sicheng também não gostava, é por isso que ficou tão nervoso quando o garoto disse que queria conversar com ele no final da tarde.

Voltou a se sentar na cadeira de madeira enquanto estava impaciente, mexia a perna direita fazendo a madeira ranger e irritar seus ouvidos. Queria que Chan chegasse logo, odiava ficar sozinho, mas nunca reclamava disso quando sabia que ele estava trabalhando pra conseguir dar uma vida melhor para os dois. Mesmo amando sua companhia, conseguia superar sua falta enquanto ele estava fora ajudando Sicheng com a livraria, ou fazendo qualquer outra coisa que Jisung sabia que era pro seu bem e pro seu melhor.

— Poxa – murmurou pra si mesmo bufando – Por que ele está demorando tanto?

Esperou por mais alguns minutos, e percebeu que o sol já estava se pondo em Guryong. Ele fechou a única janela do porão com medo de chover outra vez e a água molhar dentro do cômodo, depois decidiu deitar no seu colchão no chão e esperar ouvir qualquer barulho de alguém chegando em casa. Ficar sozinho estava começando a lhe deixar desesperado.

Logo ouviu as correntes da porta serem mexidas, e correu pra frente dela até finalmente ver Sicheng entrando sozinho. Estava vestido com um moletom vermelho que parecia ter saído direto da loja, uma calça jeans escura, e tênis brancos e limpos. Ele provavelmente recebeu bastante da livraria esse mês, certamente lhe daria um presente que Jisung teria que recusar, pois era isso que ele sempre fazia quando sua condição estava um pouco melhor.

— Oi, perdão pela demora – ele sorriu fraco e um pouco desanimado – Acabei me atrasando.

— Tudo bem – Jisung não se importou de verdade – Você parece muito elegante.

Sicheng franziu o cenho confuso, mas assim que viu o olhar de Jisung apontando pra sua roupa, gargalhou debochando de si mesmo.

— Ah, isso? – puxou o moletom com o dedo indicador e o polegar – Não é nada demais.

— Sei – riu – Vem, o Channie já deve estar chegando.

Jisung lhe puxou pro quarto onde os três costumavam se sentar e conversar juntos no colchão, e mesmo relutante, Sicheng lhe acompanhou e se sentou acanhado do seu lado.

— Eu... – pigarreou – Acho que o Chan demora um pouco mais hoje.

— O que? Por que? – perguntou confuso, ficar sozinho com Sicheng lhe trazia o mesmo conforto que com seu irmão. Não fazia tanta diferença.

— Porque eu preciso conversar com você a sós.

Ele respirou fundo, as mãos suavam tanto que fizeram barulho quando ele esfregou uma na outra. Coçou os olhos e a cabeça de tanto nervoso, não sabia como começar a dizer algo que esteve guardando dentro do peito esse tempo todo, e nunca se quer deu uma pista.

— Hyung... – Jisung colocou a mão em seu joelho como uma forma de conforta-lo, e se sentou mais a sua frente pra olha-lo nos olhos – Pode falar.

O olhar dele não ajudava muito, fazia o coração de Sicheng tremer como nas outras vezes que o olhava. Era horrível, de todos os outros sentimentos dolorosos que já havia experimentado na vida, nada se comparava ao de aceitar e entender que estava apaixonado por alguém. Era como colocar uma espada quente goela abaixo, forçar pra tirar, e mesmo assim sentir ela queimando todo o seu interior e ainda por cima gostar disso.