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Feliz ano novo! Eis aqui meu presentinho de fim de ano pra vocês.  ❤️

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21 de outubro de 2005
Pequim, China.

Gahyeon tocou o ferro frio e suas mãos suadas deslizaram pela superfície. Poderia ter perdido o equilíbrio se não fosse tão jovem e cheia de si, sabia muito bem controlar seu corpo quando ele se desconectava de sua mente, aprendeu durante muito tempo a forçar suas emoções guela abaixo e manter a coluna reta e os ombros pra trás.

Dessa vez, ela repetiu os mesmos movimentos mas suas mãos continuavam escorregando pelo ferro gélido da sacada pelo suor excessivo de suas pequenas palmas. Respirava descontroladamente, o peito queimava conforme o ar entrava e saía com tanta rapidez, e a visão ficava embaçada quando ela tentava fazer a ansiedade se dissipar com tanta pressa.

Achou que precisava tomar um ar e que seria uma boa ideia respirar um pouco, mas seus lábios tremiam e seus olhos queriam chorar. Olhou pra trás por um segundo, e pensou que antes não tivesse olhado, viu Lee Minho dormindo com o rosto sereno e tranquilo e pensou que nunca mais poderia olha-lo sem sentir tanta dor no peito.

Ouviu o bater dos sapatos no chão de madeira, e logo avistou o salto alto do scarpin nude que a mulher calçava. Levantou os olhos e encontrou seu rosto, um sorriso de pena lhe foi oferecido e Gahyeon só sentiu mais dificuldade pra respirar. Não podia estar vivendo isso, era um peso muito grande que colocaram em suas costas, um segredo muito cruel pra que ela guardasse consigo pra sempre.

— Hyeon, minha menina.

A garotinha respirou ofegante, e pegou de volta o ursinho de pelúcia que havia deixado cair no chão. Queria acordar daquele pesadelo, queria que tudo não passasse de um sonho ruim e aquele dia fosse anulado de sua existência. Mas Gahyeon sabia que era tudo verdade, seus pés tocavam o concreto gelado e seu corpo tremia, não era um pesadelo então. Não adiantava rezar pra que tudo que ouviu fosse mentira.

— Mãe – chamou com firmeza, sem se deixar desmoronar na frente da mulher, pois sabia que seria repreendida por isso – Eu preciso falar...

Sua mãe se aproximou, a garotinha molhou sua saia branca de lágrimas e sentiu ela abraça-la de um jeito frio, como se suas mãos não fizessem tanta questão daquele abraço e ela fosse subitamente se afastar depois de alguns segundos. Gahyeon sentiu o abraço mais firme, e as pontas das unhas grandes e afiadas machucavam levemente a pele de seu pescoço.

— Fique em silêncio – ordenou – Esse é nosso segredo.

Ela não queria guardar segredo algum, era muito nova pra carregar fardos tão pesados, e não sabia se conseguiria viver com isso se não vomitasse tudo que atormentava seu coração pra fora do seu corpo. Doía demais olhar pra Minho, mas doía mais ainda ter que puxar o ar e continuar quieta, sem poder pronunciar nenhuma palavra pois provavelmente seria repreendida outra vez.

Então, ela não contrariou a mulher. Fechou os olhos com força pra não deixar nenhuma lágrima cair, e tentou pensar que aquele abraço era apenas um jeito diferente que sua mãe tinha de amar. As vezes as unhas acabam arranhando sua pele, mas mesmo assim os braços continuam em sua volta, então ainda é um abraço. Ainda é amor, apesar de tudo.

E quando se ama, é preciso guardar segredos, verdades são dolorosas demais pra serem ditas. É por isso que naquela noite, por mais que seu peito doesse como se tivesse sendo perfurada, Gahyeon tomou sua melhor decisão. Por amor, escolheu o silêncio, porque era menos doloroso do que o som de Minho chorando.

***

Gangnam, Seul.
Quarenta e seis dias após o crime.
01:57

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora