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— Bom dia, Gahyeon.

Essa foi a primeira frase que ouviu quando entrou na sala de depoimentos da delegacia. Um homem estava sentado na mesa com seu distintivo pendurado no pescoço, e logo Gahyeon se lembrou de já tê-lo visto antes. era o delegado Ten. Ao seu lado estava Changbin com roupas sociais pretas, e sentado em uma cadeira no fundo da sala, Hyunjin segurava uma prancheta e escrevia algo no papel.

A garota pensou no quão estranho era receber um bom dia daqueles, cercada por desconhecidos que a olhavam como se ela fosse culpada por algo, e acompanharam cada movimento seu até que se sentasse na cadeira em frente ao delegado.

Gahyeon pensou em Minho, se lembrou de quantas vezes ele foi obrigado a se sentar na frente de Changbin e omitir tudo que aconteceu. Só agora ela entendia o quão corajoso ele tinha sido, e novamente seu coração doeu com a saudade.

— Você está melhor? – o investigador perguntou não só por educação, mas porque realmente se preocupou com ela depois de ver seu estado no dia anterior.

Gahyeon assentiu, sem querer esticar muito a conversa. Queria terminar isso logo, a saudade de Minho aumentava a cada segundo, e ela precisava vê-lo o mais rápido possível assim que isso terminasse.

— Certo, vamos começar a gravar seu depoimento. Se comprometa a dizer apenas a verdade, caso contrário, isso pode te trazer problemas com a lei.

A garota sentiu um frio na barriga, e novamente imaginou como Minho se sentiu todas as vezes que Changbin lhe disse isso e ele mesmo assim escondeu a verdade. Dessa vez, não precisava mentir ou esconder nada, afinal de contas, seu irmão já estava preso. Não tinha mais nada a perder.

— Tudo bem – ela concordou um pouco nervosa, sentindo o olhar de todos eles em cima dela.

Changbin ligou o gravador e colocou mais próximo da garota, e ela se sentiu levemente intimidada pela luz vermelha que não parava de piscar. Parecia uma tortura psicológica, Gahyeon tinha medo até do som da própria respiração, e temia suas próprias palavras.

— Me diga, como conheceu Xiaojun? – perguntou o delegado.

Ela odiava se lembrar disso, havia prometido pra si mesma que nunca deixaria essas memórias voltarem, pois apenas a menção do nome falso do garoto lhe causava náuseas.

Precisava ser forte assim como Minho foi todas as vezes que se sentou nessa cadeira, por isso, fechou os olhos por alguns segundos e deixou que sua mente trouxesse aquele maldito dia de volta. O dia que arruinou sua própria vida por conta de um coração partido.

— Eu... Eu estava em uma festa da faculdade, nós costumávamos sair todas as sextas-feiras.

Era assustador a forma como se lembrava de cada detalhe daquela noite, desde as cores das luzes que piscavam na boate, até a música que o DJ tocava no momento em que viu os fios vermelhos de Xiaojun brilharem no meio da multidão.

— Naquela noite eu estava triste por conta de algumas coisas, acabei bebendo e chorando muito.

— Que coisas? – Ten perguntou. Gahyeon quis dizer que falar sobre aquilo era um pouco invasivo demais, mas não era como se tivesse escolha. Eles estavam ali não só pra escuta-la, mas pra analisar desde o tom da sua voz até sua linguagem corporal. Era assustador, e Gahyeon tentava não deixar seu nervoso tão evidente, mas era praticamente impossível. Se negasse falar sobre algum assunto, talvez isso lhe causasse mais problemas do que poderia imaginar.

— Eu estava apaixonada por outra pessoa, mas nós não poderíamos dar certo – respondeu – Por isso, eu fui pra festa beber e tentar preencher esse vazio com alguma coisa. Então, Xiaojun apareceu e quis me pagar um drink, eu aceitei porque eu não tinha mais nada de interessante pra fazer.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora