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05/05/17
Dia do crime

Nunca pensei em como seria a sensação de entrar em choque. Se em algum momento da minha vida eu tivesse parado pra pensar nisso, eu diria que uma pessoa em estado de choque não pode sentir nada, se torna estagnada e paralisada, presa em seu próprio corpo e mente sem conseguir sentir qualquer coisa. Mas eu estaria errado.

A sensação é a mistura do pânico, o medo, e a culpa, mas também engloba todos os outros sentimentos ao mesmo tempo, e na mesma intensidade, em uma descarga elétrica que atinge profundamente e de uma só vez. O resultado dessa mistura de sentimentos acaba paralisando todas as áreas do corpo, e você fica preso em seu próprio inferno, sem conseguir buscar uma saída ou um caminho, porque nenhum caminho parece certo quando você não sabe pra aonde ir.

Como se um raio tivesse me atingido, consigo sentir a culpa invadir meus poros e o futuro assombrar minha mente. Há tantos pensamentos juntos que é a mesma coisa de não ter nenhum. Não consigo lembrar dos meus valores, de qual a coisa que mais amo no mundo, de qual é minha maior fraqueza, e é como se tudo tivesse parado em uma tela preta e só o que é capaz de me atingir é o medo sufocante que adormece todo o meu corpo e me impede de reagir.

De repente, consigo formular um pensamento lógico, como se de todas as coisas que eu estivesse pensando essa fosse a pior delas.

O que eu fiz?

Sinto meu pulso fraco e minha respiração lenta.

O que foi que eu fiz?

Minha cabeça dói e a tontura me atinge, a pressão arterial diminui e eu me sinto fraco.

Quem sou eu?

Não posso acreditar. Não sei quem eu sou, ou quem acabei de me tornar. O sangue escorre pela minha têmpora, não sinto dor por mim, mas pelo corpo morto no chão.

Minha visão fica cada vez mais escura e não posso escutar nenhum som. Não sei quanto tempo durou a sensação de inconsciência, mas uma voz me salvou de um possível desmaio.

- Minho! - gritou. Sinto duas mãos chacoalharem meu rosto e consigo ver o rosto dela ainda mais desesperado do que o meu estava anteriormente - a gente precisa sair daqui!

Ainda é difícil me movimentar, na verdade, tudo é difícil. Assim que reconheço Gahyeon, meu corpo se vê obrigado a voltar a realidade e se mexer. É aí que eu começo a sentir pânico de verdade.

Me afastei do rosto sem vida e sinto que meu coração bate muito mais forte agora, talvez pelo desespero ou pela agonia de imaginar que um tempo depois a pele do homem estaria gelada. Meus pés se movem com rapidez e sinto cada parte do meu corpo formigar, mas assim que vejo Gahyeon ainda machucada, consigo recuperar minhas forças pra sair dali.

Entrei no carro com pressa, não me importando em disfarçar os hematomas no meu rosto que poderiam causar problemas caso a polícia me visse. Coloquei o cinto com rapidez e liguei o motor, cantando os pneus quando acelerei e movi o carro com o mesmo desespero que estou sendo movido pela culpa.

- Meu Deus! - ela afundou o rosto nas mãos em um choro agoniante - Meu Deus o que aconteceu? O que a gente vai fazer?

A última coisa que eu queria pensar era em Deus. Mesmo que eu nunca tivesse acreditado ou duvidado da existência de um, pensar que ele estaria recebendo a alma do homem que matei faz tudo ficar pior.

- Minho! - ela gritou de novo - Minho o que a gente faz? Ele tá morto! O que a gente faz?

- Eu não sei, porra! - os gritos dela estavam me deixando mais nervoso e desviar dos carros na rodovia estava ficando mais difícil - Calma Gahyeon! Vamos pra casa primeiro, você ta machucada.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora