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Se eu fosse escolher um lugar no mundo que fosse tão ruim ou até pior que o próprio inferno, sem dúvidas esse lugar seria o maldito departamento de polícia de Seul. É lá que o maior e mais cruel demônio da legião do inferno habita, um homem de meio metro e caráter questionável chamado Seo Changbin.

Mais uma vez, me vejo sendo pego por uma armadilha que eu mesmo armei, e perdendo um jogo que eu jurava conhecer as regras. Nunca achei que tivesse total controle dessa situação, mas por um momento cheguei a pensar que estivesse indo pelo melhor caminho ou tendo as melhores jogadas. Na verdade, quem quer que esteja do outro lado do tabuleiro só me fez ter a falsa ilusão de que estava ganhando, quando na verdade eu só aceitei inconscientemente ficar parado enquanto era atacado por abelhas.

Agora, estou sentado na mesma cadeira preta de plástico desconfortável escutando vários dedos teclando, pessoas falando, e encarando o mesmo filtro de água que vejo todas as vezes que venho a esse lugar. Me lembro que das outras vezes que estive aqui me senti tão amedrontado e assustado que minhas mãos suavam e minha boca ficava seca, mas sempre arranjei forças em Jisung, pois sabia que a única pessoa que tinha direito de sofrer era ele, e eu só deveria ser forte pra sustenta-lo caso ele caísse. Agora, sou eu que estou caindo, e como eu já esperava, não tem ninguém pra me segurar pois eu deixei todos eles caírem sozinhos e não segurei ninguém. É um castigo, eu sei disso, mas ainda não quero aceitar.

Deixei Jisung dormindo tranquilamente na nossa cama, tirei sua cabeça do meu peito com cuidado pra que ele não acordasse, e deixei nossa casa pensando se essa seria a última vez que nos veríamos. Me lembro de ter checado o celular antes de entrar no carro, as últimas mensagens que mandei pra Gahyeon não foram entregues, e meu coração não sabe mais o que sentir assim como minha mente não sabe o que pensar.

E então, de volta a esse mesmo lugar, eu percebo que dessa vez não me sinto tão assustado como antes, me acostumei a viver sempre na beira da queda e já esperava que fosse cair um dia, só não achei que seria tão cedo. Passei a noite toda em claro pensando no ponto final dessa história, em como foi difícil lutar contra o amontoado de coisas que me sufocam desde aquela noite com Bang Chan, e agora termino tão miserável e sozinho. Não tenho minha irmã, e até o final do dia perderei Jisung e todos os meus amigos, não vou ter nada além de mim mesmo e as memórias que construí junto a quem amo. Eu rezei a noite toda pra que isso fosse o suficiente pra me salvar, mas pela manhã eu pensei que esse não pode ser o meu fim. Eu não posso deixar que alguém decida como a minha vida acaba.

Eu vou mentir.

Eu sei que isso vai complicar mais as coisas, eu sei que o amontoado de erros meus vai triplicar de tamanho e talvez acabe me deixando sem ar. Entretanto, olhando pra trás e vendo quanto tempo suportei, não acho que valha a pena me entregar antes do fim. Enquanto o juíz não anunciar minha pena no julgamento final, eu vou lutar com todas as minhas forças por uma vida feliz ao lado de Jisung, uma vida onde não há nenhuma mancha de sangue nas minhas mãos, porque quando paro pra pensar sem escutar a voz da culpa, realmente não há nenhuma.

— Minho? – Changkyun da um riso fraco e para em frente a porta da sala de Changbin. É claro que ele também está se divertindo com isso, nesse momento parece que todo o resto do mundo está rindo da minha cara e eu sou o único que não percebe, ou finge não perceber.

Eu respiro fundo disfarçadamente, me lembro dos fios loiros de Jisung sobre meu travesseiro antes de sair de casa e penso no quanto quero voltar e acorda-lo com beijos. Eu me agarro nisso, no último fio de esperança que eu insisto em falar que existe, me agarro na vontade de fazer as pazes com Gahyeon e penso em como temo que todos os meus amigos me olhem com medo. Mentir não é mesmo a melhor opção, eu sei disso, mas minha vida agora é fazer escolhas erradas.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora