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Gangnam-gu, Seul.
Seis anos antes do crime.

As luzes violeta rodopiavam acima de Lee Minho, se misturando com o verde neon e o azul ciano que refletiam em seu rosto e faziam seus olhos arderem. Estava sentado no chão cheio de confetes, segurando um copo de refrigeirante quente e sem gás, e observando como o mundo a sua volta parecia tão diferente de si mesmo.

Se sentia entediado, tão deslocado que o desânimo lhe impedia de tentar aproveitar um pouco. Não queria estar ali, tentava afastar a lembrança de quando não ganhou nem um feliz aniversário de seus pais, e sua irmã agora ganhava uma festa inteira só pra ela. Estava acostumado a não ter nada, mas o impacto era ainda maior quando Gahyeon tinha tudo. Não conseguia entender, Minho às vezes pensava que tinha algo de errado com si mesmo.

Não carregava nenhuma memória de nenhum momento em que se sentiu amado, exceto pelas vezes em que Gahyeon tentou remediar as rupturas que seus pais deixavam em seu coração. Não cuidavam dele como cuidavam de sua irmã, compravam tudo que ele precisava pra viver e não mais que isso, lhe forçavam a estudar sobre a empresa que eram donos e usavam seus estudos como desculpa para não lhe dar nenhuma atenção. Minho achava que seu problema era não ter o potencial que seus pais precisavam que ele tinha, mas era muito mais que isso, Minho apenas não era a pessoa que eles queriam que fosse, e isso era mais difícil de consertar.

Quando se tratava de Gahyeon, era tudo diferente. Ela não só podia ter o necessário como também podia ter tudo o que queria, inclusive o carinho e atenção que Minho nunca chegou a receber. No começo, ele não conseguia entender qual a diferença entre os dois, e passou a odia-la quando percebeu que ela atingia todas as expectativas que ele jamais ia conseguir atingir. Tentou se desvincular de Gahyeon, tentou se afastar de tudo que o lembrava da irmã, pois sentia que esse era o único jeito de ficar sozinho e descobrir em qual parte da sua vida errou, mas ele não tinha errado em nenhuma.

Tanto Lee Minho como Gahyeon sabiam do abismo que os separavam, e da força da energia que os uniam. Não havia ódio verdadeiro nos sentimentos infantis e imaturos de Minho, e sua irmã jamais contribuiria pra que a diferença entre os dois mudassem a consideração que tinham um pelo outro. Ela cuidou de cada mínimo detalhe, desde quando se feriu ao cortar uma bala ao meio aos sete anos de idade pra dividir com ele, até quando lhe presenteou com um balão e um cupcake quando seus pais não lembraram do seu aniversário.

Ela cuidou dele como se fosse a irmã mais velha, e o coração de Minho não foi capaz de tira-la de dentro tão fácil. Mesmo assim, as coisas nunca mudaram, e as vezes mesmo quando Gahyeon amenizava tudo, ele ainda sentia como se não estivesse no lugar certo, como se precisasse fugir. Mesmo Gahyeon sendo a pessoa mais importante na sua vida, ela não era suficiente pra fazê-lo ficar ali, sendo afastado cada vez mais e sentindo como se a distância entre ele e sua irmã nunca pudesse ser quebrada. Precisava encontrar o lugar que pertencesse logo, pois aquela definitivamente não era, e nunca seria a sua casa.

— Achei você.

Quando olhou pra cima, viu seu rosto brilhando com o glitter vermelho em cima das pálpebras. Estava com o vestido vinho que ele ajudou a escolher, e o salto que Minho lhe deu no natal do ano passado. Ela sorriu, e se agachou pra ver o rosto triste de Minho que estava sentado no chão da festa.

— Por que não vem dançar com a gente? – perguntou – Levanta, tá todo mundo esperando você.

Ela puxou sua mão, mas Minho retirou com brusquidão. Bufou irritado, sem a mínima vontade de tentar interagir com os amigos de Gahyeon que nunca foram legais com ele. Minho sabia que ela só estava tentando ser boa de novo, mas ele estava farto de fingir não estar magoado com tudo, estava farto de fingir que estava tudo bem e que seus pais não eram um motivo válido pra afastar os dois.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora