Estou fora de órbita.
Minha mente perdeu a força pra se concentrar na realidade, meu corpo se fez presente mas minha consciência se afastou de tudo. Me vi tão cheio de dor e tão sufocado que corri pro único lugar seguro que me restou, minhas lembranças.
Vi Jisung na minha frente, tão lindo e sorridente que uma parte de mim soube que não era real, mas eu ignorei. Me lembrei daquele dia que eu o levei pra ver as estrelas comigo, onde a luz da fogueira iluminou seu rosto e me fez paralisar por alguns segundos com a sua beleza surreal e o brilho alaranjado em seus olhos.
Me lembrei com tanta clareza que pude então escutar o som da sua voz, tão doce e tão baixinho, como se estivesse me chamando pra ir mais fundo e me prender pra sempre naquela memória, porque ela seria o único pedaço que me restou dele.
E eu quis, eu quis tanto me lembrar um pouco mais, aperfeiçoar um pouco mais os detalhes do seu rosto ou ouvir sua voz um pouco mais alta, mas eu não consegui. Aos poucos, ele foi desaparecendo no ar e dando lugar a parede acinzentada que fez meu coração doer e me forçou a voltar pra realidade. Eu me odeio tanto, eu nem tenho forças pra imaginar um pouco mais, eu nem consigo fugir pra dentro de mim mesmo pra encontrar um pouco de conforto. É como se a vida real me desse um soco no estômago e me trouxesse pra cá, pra esse maldito lugar, pra essa maldita vida cheia de arrependimentos.
Me prenderam em uma cela, e eu estou sentado no concreto suspenso que deveria ser uma cama, mas se parece mais com um asfalto. Olho pra parede marcada com caneta preta, com palavras de outras pessoas que passaram por aqui, e me pergunto por quanto tempo vou ter que ler as mesmas palavras todos os dias porque essa vai ser a única coisa que vou ter pra olhar.
— Ei – alguém bate no metal da cela, e quando olho vejo Hyunjin do outro lado da grade.
Me sinto aliviado por finalmente ver um rosto conhecido. A única coisa que fizeram comigo foi me trazer pra delegacia e me prender nessa cela sem nenhuma outra explicação.
É bom ver Hyunjin agora, é como encontrar um amigo quando se está sozinho no meio de uma guerra. Eu me levanto correndo e o olho através das grades como se ele fosse minha salvação, mas ele não sustenta o olhar muito tempo e logo abaixa a cabeça pra destrancar a cela.
— Hyunjin! – eu o chamo com alívio, mas algo me diz que ele não está tão feliz por me ver – Que bom que veio.
Ele entra e encosta o portão, eu penso em dar um abraço nele porque o que eu mais quero agora é um abraço de um amigo, mas assim que vou até ele vejo que ele desvia o olhar e abaixa a cabeça outra vez. Eu recuo, sinto uma pontada no peito mas tento ignorar. Eu não devia ter pensado que ele veio aqui pra me ver ou me abraçar, afinal de contas, estou sendo acusado por assassinato e Hyunjin está quase se formando na academia de polícia.
— É... Oi – ele pigarreia e diz sem me olhar, está envergonhado e não sabe exatamente o que dizer.
Me sinto quebrado outra vez, acho que confiei muito na nossa amizade depois que voltamos a nos falar com frequência. Eu coloquei nele a responsabilidade de me apoiar e acreditar em mim sempre, porque era isso que eu também faria por ele, mas parece que essas coisas são descartadas assim que algum de nós é acusado por um crime.
— Oi – engoli em seco – Como ele está? Me diz.
Não posso evitar perguntar, eu provavelmente vou perguntar isso pra todo mundo que eu conheço até que alguém me responda que ele está bem, que se recuperou, que está vivendo uma vida normal e feliz, dando aulas de piano pra crianças.
— Eu não sei – deu de ombros e me olhou brevemente – Não estou sabendo de muita coisa.
— Alguém precisa cuidar dele, Hyunjin. Ele não pode passar por isso sozinho, alguém precisa ficar do seu lado.
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- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)
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