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Guryong Village, Seoul
Sete meses antes do crime.
19:46

— Ei, garoto.

O homem olhou para os lados checando se tinha alguém por perto, mas a essas horas todos os moradores da vila estavam se aconchegando em algum lugar pra passar a noite.

— Ei – sussurrou mais uma vez – Olha aqui.

Bang Chan que cochilava encostado em sua bicicleta, abriu os olhos de uma vez e levou um pequeno susto ao ver o homem desconhecido lhe encarando.

— Quer ganhar uns trocados fazendo um favor pra mim?

— Claro – ele se levantou de uma vez se empolgando com a ideia. O dia foi difícil hoje, não conseguiu muito dinheiro mesmo fazendo vários bicos, e estava juntando forças pra voltar pra casa sem comida outra vez.

— Vá até Gangnam, vai ver um estúdio de tatuagem chinês, entregue isso aqui – estendeu um pedaço de jornal dobrado.

— Gangnam? – Chan franziu o cenho.

— Isso, entregue a um jovem de cabelo vermelho, ele vai te dar algo em troca – disse – Vou ficar aqui esperando você trazer pra mim.

— O que ele vai me dar em troca? – o garoto perguntou por curiosidade.

— Quer ganhar doze mil wons ou não?

— Quero – respondeu sem nem pensar duas vezes.

— Então vai logo – mandou – Te pago assim que voltar.

Bang Chan não podia questionar muito, estava sempre precisando de dinheiro e eram poucas as coisas que não faria em troca de alguns trocados.

Ele subiu na bicicleta, guardou o jornal dobrado no bolso e pedalou até o bairro vizinho. Começou a ficar nervoso quando viu os faróis dos carros caros, e as luzes dos apartamentos milionários que haviam ali perto. O garoto tinha medo de alguém dizer algo contra ele, talvez lhe acusarem de ser um ladrão ou exigir que ele voltasse pra Guryong, já que suas roupas surradas e os pneus sujos de sua bicicleta evidenciavam que ele não pertencia ali.

Não demorou muito pra que visse uma placa de neon vermelho com caligrafia chinesa, leu o nome Antares e pelos desenhos da fachada notou que era o estúdio de tatuagem que o homem falou. Chan deixou a bicicleta encostada em um poste, e com o coração na mão abriu a porta do estabelecimento fazendo um sininho tocar assim que a porta foi toda aberta.

A sala de espera estava vazia, por isso Bang Chan permaneceu no mesmo lugar esperando que alguém aparecesse. Reparou em todos os detalhes da sala, desde as tatuagens e desenhos colados na parede, até a mesa digitalizadora enorme onde um dragão estava sendo desenhado na tela. A luz vermelha oscilava entre mais fraca e mais forte, algumas decorações chinesas estavam penduradas na parede ou em cima da mesa de desenho, e no geral havia tanta poluição visual naquele cômodo que Chan ficou até um pouco tonto conforme a luz oscilava.

Quando estava cogitando a ideia de se sentar em uma das cadeiras de espera, ouviu passos e vozes de pessoas conversando que ficou mais alto a medida que eles voltavam pra lá. Primeiro, Chan viu um homem totalmente tatuado aparecendo com um plástico enrolado no braço, e em seguida um garoto mais baixo de cabelos vermelhos atrás dele explicando sobre a cicatrização da tatuagem.

Assim que ambos o viram, Bang Chan sentiu o olhar dos dois percorrer seu corpo todo e a expressão familiar de desprezo aparecer em seus rostos. Ele já esperava isso, é assim que todos de Gangnam olham pessoas de Guryong, e nesse momento ele já se preparou pra ser chutado pra fora antes de ter a chance de dar o recado do homem desconhecido.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora