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Três meses depois
Dia do julgamento
08:15

Quando Gahyeon abriu os olhos naquela manhã, foi como se não tivesse dormido nada. Seu corpo estava cansado e dolorido, tinha olheiras debaixo dos seus olhos e seus fios de cabelo haviam ficado presos no travesseiro.

Estava fraca. Se levantou da cama sentindo seus músculos doerem, e caminhou até o espelho do banheiro pra ver como seu rosto estava diferente de três meses atrás. Havia perdido peso, suas bochechas gordinhas agora eram magras, e ela tinha olheiras escuras debaixo dos olhos. Era a aparência de quem nunca mais comeu ou dormiu corretamente, e passou noites em claro chorando desesperada e perdida.

Não tinha fraquejado em nenhum momento, esteve presente em todos os horários de visita, e expulsou todos os repórteres que ficaram em frente a sua casa. Foram três meses que Gahyeon se fez tão forte como uma rocha, e só se permitiu desmoronar no silêncio da noite, sozinha, onde ninguém pudesse ver o quanto se sentia fraca. Três meses que prestou depoimentos, fez várias reuniões com o advogado, e mesmo quando a situação não estava boa ela deu seu melhor sorriso pra Minho e lhe assegurou de que tudo ficaria bem. Mas Gahyeon não tinha certeza se ficaria.

Deu tudo de si durante todos aqueles dias, mas sabia que a decisão final não era sua, e isso a desesperava. As vezes, saía das reuniões com Seungmin com o coração cheio de esperança, lembrando das palavras do homem lhe pedindo pra que confiasse em seu trabalho. Quando chegava em casa, toda essa esperança era morta pelos repórteres, pela solidão, pelo nome da sua família nos jornais da TV e pelas ligações perdidas do seu pai. Não conseguia sustentar tanta coisa ao mesmo tempo e ainda por cima sozinha, se sentia tão fraca e perdida que acabava se esquecendo de si mesma. Não comia, não dormia, e às vezes nem conseguia tomar banho. Costumava apenas se deitar na cama com o estômago vazio, e ali ficava em claro até o dia amanhecer.

Na noite passada não foi diferente, os pensamentos de Gahyeon gritaram dentro de sua cabeça a noite toda, e ela não conseguiu dormir por nenhum minuto. Se olhava no espelho agora, pensando que o dia que esperou tanto tinha finalmente chegado, e ela não se sentia nem um pouco esperançosa com isso.

O medo matava toda e qualquer expectativa, e o pânico lhe fazia querer abandonar tudo e fugir pra bem longe dali, mas não podia deixar Minho. Tinha medo de não conseguir cumprir sua promessa de tira-lo da cadeia, medo de ter que passar o resto da sua vida sozinha, lhe visitando toda semana, sem esperanças de traze-lo de volta pra casa como sonhou tantas outras vezes

A garota jogou água fria no rosto, tentando fazer todos esses pensamentos lhe deixarem em paz por pelo menos hoje, estava cansada de agonizar o tempo todo sem nenhuma trégua. Abriu o armário do banheiro pegando um pote laranja cheio de pílulas, era um calmante que conseguiu comprar na farmácia e que nos últimos tempos tem sido sua única companhia. Colocou um pouco mais de pílulas dessa vez, pois sabia que o dia seria muito mais difícil do que já estava acostumada.

Gahyeon respirou fundo, tentando não pensar no pior mas sem conseguir ser otimista. Se forçou a tomar um banho rápido sem ter disposição nenhuma, e tomou um gole de café apenas pra não desmaiar e causar problemas maiores. Vestiu uma saia não muito curta e uma blusa formal, penteou os cabelos e borrifou um pouco de perfume. Pensava em Minho o tempo todo porque ele era a única coisa que a mantinha de pé.

As oito e quarenta e cinco, ouviu batidas na porta e seu coração disparou. Não podia acreditar que já era hora de ir, sentiu tanto medo que até sua respiração acelerou o ritmo. Gahyeon colocou o pote de calmantes na bolsa, temia perder o controle e acabar explodindo na frente de todos, sem conseguir aceitar o veredicto de seu irmão.

Evitou pensar nisso outra vez, ia acabar surtando se levasse em conta tudo que podia desestabiliza-la nesse julgamento. Ela fechou os olhos e respirou fundo, buscando dentro de si mesma uma força que agora era quase inexistente.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora