36. Quem a meu filho beija, minha boca adoça

1.2K 217 33
                                    

Em uma tarde, passando pelas ruas, Rumiko o viu. Ela o reconheceria de qualquer forma, mesmo a distância, mesmo o cabelo vermelho vibrante não estando penteado para cima, no rabo de cavalo curto, diferente dos demais, ele não precisava estar de uniforme de herói para não passar despercebido por ela.

Era seu menino, carregando sacolas de compras, saindo de um supermercado. Ele se virou para a entrada, esperando por alguém e de lá saiu o senhor Masaru Bakugou com mais umas sacolas e apalpando os bolsos, à procura de algo. Ficou feliz ao achar a chave, deveria ser a do carro, ajeitou os óculos e ambos conversavam animadamente.

Algo comum, Eijirou estava certamente ajudando o senhor Bakugou. Era a sensação de um cenário doméstico familiar e sentiu falta disso, tão simples, uma atividade qualquer que tinha com o único filhote.

Lembrando-se de quando ele ainda era pequeno e cabia na cadeirinha do carrinho de mercado, balançando as pernas rechonchudas para lá e para cá, sempre agitado, os olhos grandes curiosos, com a fruta que ele comia atrapalhado usando os dentes, mais e mais afiados com os anos. Bom que ele tinha aquele babador de tubarão, ele fazia uma bagunça.

Na última vez que fizeram isso, ele estava no primeiro ano da U.A., em altura estava ainda em seu ombro. Correndo animado, sem interesse nas bolachas doces, queria saber de carne e mais carne, para a preocupação das mães. "Você tem que comer mais legumes e verduras, Eijirou", ele sabia e concordava, mas em casa elas tinham que colocar no prato dele ou ele não comeria.

A família Bakugou tem hábitos alimentares bem equilibrados, ela notou vendo a quantidade de verde nas sacolas. Não era atoa que o filho deles não tinha as "frescuras" de seu menino, até foi boa influência e desde então percebeu a mudança de Eijirou, que passou a comer mais e pedir por:

— Lasanha, mamãe. De berinjela, igual ao do Bakugou.

— Bakugou-kun também sabe fazer isso? — Perguntou Rumiko.

— Ele fez no dormitório algumas vezes.

Misaki ficou tão contente em ouvir e já se levantou da mesa, se referiu a ela mesma na terceira pessoa:

— Okaa-chan está indo no mercado comprar as berinjelas agora! — Tirou as pantufas e vestiu as sandálias de salto alto.

— Eu vou junto, okaa-chan! — Correu atrás dela, calçando as crocks vermelhas dele.

Rumiko só admirava rindo daqueles dois. Realmente Misaki não iria querer a oportunidade.


Mas as duas não estavam perdendo muitas oportunidades com o filho por todo esse tempo?

Misaki apareceu do seu lado, percebendo-lhe distraída, iria perguntar, até olhar na mesma direção e vê-lo também. Estava ainda mais feliz dele continuar a pintar o cabelo de vermelho tão berrante, era fácil de reconhecer.



Eijirou ouviu um alto assobio, soado três vezes. Ergueu a cabeça, que estava abaixada para acomodar as compras no porta-malas, o coração batendo com força. Será possível? Para ele, aquele assobio lhe dava nostalgia da viagem de praia, os três assobios de sua mãe Rumiko avisando para ele voltar, estava indo fundo demais para o gosto dela, seria perigoso. E ele voltava para a beira com sua pranchinha.

De quando brincava com os primos, se sujava de lama, ouvia os assobios de aviso de que o almoço estava pronto.

Na saída do jardim de infância, a mamãe Misaki o chamava pelo nome em tom modesto, a mamãe Rumiko era mais prática, mesmo ela sendo uma alfa tão alta, difícil de perder de vista caso necessário, os assobios eram ainda mais altos, não tinha como não a encontra-la.



Formado, forte, saudável, herói formidável. Filho formidável.

Não dizem que se é um bom filho, mais chances de ser um bom namorado? Bom marido? Criou um alfa que certamente estaria sendo um bom par para o alfa dele.

Deveriam ter estado ali para ser seu apoio, não o ter colocado ainda mais pra baixo. O que ela não teve, o que as duas não tiveram, era o que gostariam de ter dado completamente para o Eijirou. Mas houve falha, por muito tempo, houve afastamento, ele só estava tentando se proteger, como elas fizeram. Se não queriam o mesmo tipo de relação que tinham com os pais, do Eijirou com elas, por quê se comportar da mesma maneira?

Tem a ideia de quem não está dentro da norma, precisa pedir o aceitamento dos outros, de forma que os terceiros tem o poder da permissão sobre vidas que não são a deles em primeiro lugar.

Eijirou não tinha que se desculpar por ser quem era. Misaki e Rumiko foram percebendo mais e mais que eram elas que tinham que pedir desculpa por terem falhado. Foram carinhosas, eram mães carinhosas, mas falharam em fazer o filho se sentir acolhido e respeitado.

A casa deles deveria ser onde Eijirou se sentisse amado. Não havia nada nele para mudar, nada nele queriam mudar. Como mães, o melhor era estar junto a ele o que vier no futuro.


Lá estava ele, ajudando Masaru Bakugou. Claramente a família que ele não nasceu, mas agora tem.

Quem a meu filho beija, minha boca adoça

Se tudo fosse acertado, num futuro melhor, seria bom Katsuki Bakugou no almoço em família para comerem lasanha de berinjela.



Eijirou quis chorar pela saudades e por ver as duas, acenando com a mão, sorriso no rosto, ao se aproximar dele e do sogro.

— Eijirou! — Gritou sua mãe Misaki, os olhos cheios d'água, iguais aos grandes da Rumiko que Eijirou puxou.

— Mamães... — disse ele com carinho.

Sou assim como vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora