39. Corte de cabelo

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Era estranho não estar com Katsuki depois de anos de convivência, grudado nele, feitos um só organismo, aromas tão mesclados que eram praticamente o aroma de um alfa na mistura dos dois. Aroma de uma noite de encontro romântica: vinho e chocolate, ou melhor, mais rústico, videiras e cacau.

Ir morar com Katsuki foi uma transição muito fácil, do que se separar dele. De passar a ter cada um em um quarto no dormitório, depois passarem a transitar no quarto um do outro, ficar muito tempo no quarto, ao ponto dos instintos reconhecerem extensão do próprio território o cômodo ao lado. A dormirem juntos, ora em um, ora em outro, para terem um.

O apartamento tinha mais de um, o que era prático, claro que como casal que começou a viver juntos, tem toda aquela paixão e fogo para queimar, mas os trabalhos não pararam só porque os pombinhos estavam vivendo nas nuvens. Não era estranho, por exemplo, por chegar tarde do trabalho, para não acordar o outro que tinha que levantar cedo, ir para o outro quarto. Conveniente, comum dos casais.

Na verdade, o comum das gerações anteriores dos casais, era ômega dormir no piso de baixo e alfa no de cima, pois quem fosse ômega acordaria cedo para começar os serviços domésticos e quando alfa e os filhotes despertassem, teriam o café na mesa para irem depois ao trabalho e escola, enquanto ômega prosseguia em casa com o trabalho doméstico. Primeiro a acordar e último a dormir.

Depois passou o ômega a dormir mais cedo para poder descansar, nas gerações em que o trabalho doméstico passou a ser reconhecido como trabalho realmente, não "tarefas fáceis". Com as demais pessoas da casa realizando sua parte, ômegas passaram a ter tempo para hobbies e também a possibilidade de trabalhar fora, como alfas passaram a serem mais presentes a se dedicarem a suas casas, estarem com a família e filhos, e a possibilidade de terem alfas que faziam o trabalho doméstico, enquanto o companheiro ômega ou beta trabalhava fora. Isso quando ambos não o faziam e tinham diaristas para virem num dia da semana e realizar a limpeza.

Ou seja, até nessa situação de quartos, conviverem juntos, não terem mais um dormitório e sim vizinhos, as despesas juntos e etc., era gostoso. Eijirou se sentia praticamente casado com Katsuki, para ter esses tipos de preocupações.

Então, quando ele foi embora para o exterior, não era como um ter um marido a longa distância, porque seu par tinha que trabalhar longe? Ou a esperada das cartas do amado na guerra? Se sentia assim.

E seria diferente para Katsuki, afinal ele estava indo para um novo lugar, porém Eijirou estava no apartamento deles onde tudo iria lembra-lo dele.

Quando contou isso para Katsuki, ele resmungou novamente sobre Eijirou ser exagerado demais, ao que Eijirou achava divertido, entretanto prosseguindo com o mesmo pensamento.

Ao ir cozinhar, se lembrava de Bakugou na cozinha, a luz de fora contra os seus fios tom de areia dos cabelos do topo de sua cabeça e de seus cílios, — em uma manhã com leves raios de sol — concentrado.

— O que está olhando? — Ele nem lhe encarava, não precisava, atento ao arroz que fritava na frigideira.

— Estou te admirando. Não posso?

— Não — resmungou, enrugando a testa. — Me desconcentra.

Não tinha como Eijirou conter o sorriso maroto brincando em seus lábios, ao que ele se inclinava na ilha da cozinha.

Eu te desconcentro, é? ~

Cantarolava provocando.

— Ainda não se acostumou comigo com novo corte de cabelo? Fiquei tão bonito assim? — prosseguia atrevido.

Uma veia saltava da têmpora de Katsuki quando ele virou um pouco a cabeça para lhe olhar, contrariado.

— Já falei que não gosto de ninguém na cozinha quando eu estou cozinhando.

Sou assim como vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora