Amanheci especialmente animada no terceiro dia. Tive uma ótima noite de sono. Acordei mais cedo do que o previsto e ainda tive tempo para hidratar meus cabelos. E pelo jeito, surtiu efeito, pois a caminho do escritório, senti vários olhares tanto masculinos quanto femininos me observando.
Sempre tive cabelos naturalmente ruivos, apesar de as pessoas acharem que era tintura. Isso chamou atenção desde o primário. A maioria achava bonito e sempre elogiavam, tanto meu cabelo quanto minhas sardas na região do nariz, mas haviam os idiotas que me chamavam de cabelo de fogo no intuito de ofender. Nunca me importei muito, e quando me sentia ofendida, partia para cima e me defendia bravamente. Houve até uma situação em que saí aos socos com um menino insuportável que gostava de fazer bullying com os mais novos. Tudo resultou em um nariz sangrando para mim, e ele com um olho roxo. Fomos suspensos por uma semana, e ele nunca mais mexeu comigo.
Minha mãe disse que eu herdei meu lado ruivo do meu avô, que era descendente de escoceses. Diferente de mim, meus pais têm cabelos escuros. Papai possui olhos azuis, e minha mãe, um misto de verde com castanho claro. Catharine dizia que eu parecia uma princesa indomável. Até concordo com a parte indomável, mas estou bem longe de ser uma princesa.
Ao chegar à empresa, vi Emma tomando um café enquanto conversava com Amanda, a jovem que trabalha no setor de Recursos Humanos. Cumprimentei as duas e me direcionei para a sala do chefe.
— Bom dia, senhor Copper! — sorrio me sentando a sua frente.
Ele, que estava com a atenção presa ao computador, me olhou com uma sobrancelha erguida.
— Bom dia, Louise. Pelo visto está animada hoje...
— Estou sim. Tive uma boa noite de sono. — Tentei puxar assunto, mas ele apenas assentiu com a cabeça — Ah! Tenho algumas ideias em mente e gostaria que o senhor escutasse. Ontem, conversei com uma das hospedes do hotel e ela me deu uma ideia que pode funcionar.
— Já? Muito bem, estou ouvindo. — Ele relaxou em sua cadeira e segurou o queixo com uma das mãos estreitando o olhar, atento.
Respirei fundo e comecei a desenvolver o que eu tinha em mente.
— Bom, eu dei uma rápida pesquisada e vi que a grande maioria dos hotéis da cidade só oferecem o convencional: hospedagem, uma piscina para lazer, alguns ambientes aconchegantes e restaurantes. Poderíamos inserir algumas ideias não convencionais para atrairmos um público maior.
— Ainda não entendi aonde quer chegar, Louise...
— Pense comigo... — respirei fundo novamente para não atropelar as palavras — O senhor vai se hospedar em um dos hotéis com sua esposa e filhos...
— Não tenho esposa, muito menos filhos.
Revirei os olhos e o vi franzir as sobrancelhas.
— Hipoteticamente, o senhor e sua família se hospedam no hotel. Além da piscina, o que mais o hotel oferece para sua família se divertir? Se for um dia chuvoso, pior ainda, pois nem a piscina poderá ser usada.
— Normalmente, os hóspedes não costumam ficar muito tempo no hotel. Eles, na maioria das vezes, vêm a trabalho ou saem para conhecer os pontos turísticos da cidade.
— Esse é o ponto. Por que não inserir algo que os faça ter motivos pra ficar mais tempo no hotel?
— E o que você tem em mente? – Ele pende a cabeça para o lado enquanto mexia na ponta do queixo com o polegar e o indicador.
— Pensei em dois públicos. Primeiro uma sala de jogos para uma família se divertir com as crianças e, consequentemente, gastar mais dinheiro no hotel. Toda vez que vou ao shopping, vejo que a seção de jogos nunca está vazia, poderia funcionar. O hotel ofereceria a primeira ficha gratuita para convencer os pais a darem o primeiro passo e ceder a vontade dos filhos e as demais seriam pagas. — Percebi sua feição mudar, como se estivesse tentando visualizar o que eu dizia. — Segundo, seria direcionado para o público de dezoito a quarenta anos, também atinge casais e até mesmo pessoas mais maduras. Pensei em; uma vez por semana haver um pequeno show, atrações musicais na região da piscina para os hospedes não precisarem ir a casas noturnas, curtir músicas e dançar. Seria com bandas locais, voz e violão ou algo do tipo. Poderia ser num dia de sexta, final de expediente, ou sábado. Nos quiosques da piscina adicionaríamos mais variedades de drinques, para o consumo aumentar. O que acha? — cruzei as pernas um pouco apreensiva, já que não conseguia distinguir pelo seu olhar focado se estava gostando ou não das minhas ideias.
— Muito bem, Louise. Temos que ver alguns pontos a mais, mas de antemão, acredito que possa funcionar.
— Que bom que gostou! — sorrio batendo palminhas animada e um pouco aliviada.
— Fico feliz em ver que não fiz um mal negócio ao contratá-la.
Aquela era a sua cara de feliz?
— Obrigada, senhor Cooper.
— Até o fim da semana, nós iremos marcar uma reunião com Jones para discutirmos o orçamento e fazer um teste para validação da sua ideia.
— Ok.
Seu telefone tocou de repente. Aproveitei sua ocupação para começar minhas tarefas do dia. Me dirigi até a mesa de reunião e abri meu laptop, feliz. Feliz por finalmente ter algo para pensar além do Matheus, e feliz ainda mais por sentir que as coisas estavam voltando a se encaixar.
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A Minha Vez, Eivy - Livro 2 Completo
Romance"Depois de perder o namorado em um acidente, Eivy decide transformar completamente sua vida. Se mudou para outro país na esperança de voltar a ter uma rotina normal. O problema é que essa perda mexeu com seus sentimentos ao ponto de ela não querer...