Capítulo 4

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Os dias se passavam tão rápido que era difícil assimilar todos os acontecimentos. Na mesma semana em que tive a reunião com os chefões sobre as minhas ideias para o hotel, também ganhei minha sala. Nem acreditei que teria um espaço só para mim na empresa! Pelo que Emma me disse, a sala era a única que estava vazia no escritório. Por ser pequena, não caberia nenhum setor com mais de duas pessoas. Para mim, não poderia ser mais satisfatório, sem contar que era no mesmo andar das salas de Dylan e Jones, o que facilitava bastante para sanar qualquer dúvida sobre o sistema ou coisas do tipo.

Minha sala tinha três metros quadrados, possuía apenas minha mesa com espaço suficiente para eu colocar meu notebook e alguns pequenos objetos. Nos cantos vazios, duas poltronas aconchegantes de tom marrom ficavam de frente para mim. Na tentativa de dar um contraste àquele ambiente sério, comprei algumas orquídeas artificiais e as posicionei ao lado dos assentos.

Organizei e reorganizei cada detalhe até estar tudo a minha cara, pois ali seria onde eu passaria a maior parte do meu tempo, então queria me sentir em casa. Pus algumas fotos de momentos marcantes meus na mesa para quando olhá-las diariamente, ser lembrada de quem eu era, já que sentia que há muito não estava sendo eu mesma.

❤️❤️❤️

Sentada observando um porta-retrato onde eu e Catharine estávamos sorrindo abraçadas, vi os meses se passando como em um piscar de olhos. Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto, Setembro. Naquele meio tempo, me aproximei bastante de Emma. Era realmente uma mulher de bom coração. Em alguma das nossas conversas durante o almoço, ela me contou um pouco de sua história. Seus pais a abandonaram ainda criança na casa de sua única tia. Elas passaram por inúmeras desventuras, mas superaram e deram a volta por cima. Fiquei tocada com tudo que me contou, desde as noites chorando chamando por sua mãe até a sua adolescência sofrida e cercada por dificuldades.

Me senti segura o bastante para contar a ela sobre Matheus. A partir daí, éramos a companhia uma da outra nas maratonas de séries no fim de semana, nas idas ao shopping para comprar roupas e sapatos e também nos momentos de solidão. No início, Catharine sentiu ciúmes, o que me divertiu muito, mas em um dos fins de semana que Emma esteve no meu apê, Cat fez uma videochamada na qual ficamos quase duas horas conversando e acabou se apaixonando pela minha nova amiga também.

No trabalho, tudo corria melhor do que o esperado. Dylan estava menos grosso do que o de costume. Teve até uma vez em que ele riu da piada do Jones e, nos cantos dos seus lábios, se formaram meia luas que o deixaram mais jovem e mais bonito. Fiquei surpresa, pois não havia notado que nunca o tinha visto sorrir. Ele deveria fazer isso mais vezes.

O projeto de incluir novas atrações para o hotel em Richmond demorou algum tempo, visto a necessidade de muitos recursos, mas saiu do papel e encontrava-se em funcionamento há cerca de dois meses. A recepção do público foi excelente e os feedbacks eram os melhores possíveis, a maioria positivos ou com sugestões de melhorias, o que me deixou mais feliz do que nunca.

Fui a um show certo dia para ver de perto o resultado do meu trabalho, mas fazia tanto tempo desde a última vez que me senti um pouco deslocada naquele lugar cheio de desconhecidos, sem contar que a banda do dia estava tocando músicas românticas e melancólicas. Isso me fez lembrar do Matheus. Antes do fim do show, fui embora. Mesmo fazendo mais de um ano que ele se foi, ainda sentia uma angustia quando me recordava de nossos momentos, mas diferente de antes, consegui sorrir ao lembrar dele, algo que nunca me imaginei fazendo. Não sentia mais o peso de antes. Estava leve, enfim, me adaptando.

Era estranho eu não me sentir atraída por nenhum outro homem. Ao longo daqueles meses, não tive vontade de sair para me divertir em festas e noitadas como antigamente. Meu corpo pedia por alívio as vezes, mas minha mente não pensava em fazer isso com outros caras. Meu prazer estava sendo comigo mesma, e na real? Estava tudo bem continuar assim.

No dia em que completava vinte e oito anos, acordei sem vontade de ir trabalhar. Mas se eu não aparecesse sem dar um motivo plausível, tinha certeza de que meu querido chefe iria me infernizar. Ele estava pegando no meu pé por conta dos atrasos. Fazer o que se gosto de dormir?

Levantei da cama com uma preguiça fora do comum. Liguei o celular e a primeira coisa que vi foi uma mensagem de Cat me desejando feliz aniversário:

Cat:

Oi, amiga. Finalmente chegou seu dia. Como se sente? Espero que mais ajuizada, rsrsrs. Vou tentar ser breve, tá? Sei que não gosta de frases clichês, mas sinto te informar: sou uma escritora de romance!

Então vamos lá:

Poucas pessoas têm o privilégio de ter alguém que esteja lá para tudo. Eu faço parte dessa pequena população. Nossa história começou cedo. Lembra de quando nos conhecemos? Na praça do condomínio. Perguntei o que fazia pra deixar seu cabelo daquela cor, pois queria um igual, rsrsrs. Desde aquele dia, tenho uma grande amiga do meu lado. Pra mim, você foi como uma bússola. Me mostrou a direção certa e caminhou comigo até chegarmos no ponto de segurança por diversas vezes.

Hoje é seu aniversário, mas sou eu quem devo agradecer. Obrigada, amiga. Obrigada por não ter perdido a essência, mesmo com toda a confusão que sua vida se transformou. Obrigada por estar aqui quando precisei, por não me deixar afogar em pensamentos. Obrigada por me ouvir sempre, obrigada por nunca ter desprezado minhas lágrimas. Obrigada por dar a si própria uma segunda chance. Te desejo o melhor da vida. Você merece o mundo. Te amo. Feliz aniversário!

00:05


Meus olhos lacrimejaram com seu texto. Liguei para aquela maluquinha a fim de conversar um pouco, mas a ligação caiu em caixa postal.

Decidi então me arrumar. Coloquei um vestido preto tubinho de manguinha com um decote (talvez) exagerado para o trabalho, contudo combinei com a Emma de fazermos algo depois do expediente para não passar em branco. Calcei um salto, deixei meus cabelos soltos e fiz algumas ondas nas pontas. Para finalizar, pus um batom vermelho vivo.

Após responder algumas mensagens de colegas me parabenizando nas redes sociais, peguei minha bolsa e pedi um motorista de aplicativo. No caminho, recebi uma ligação da minha mãe. Com uma voz de choro a caminho, ela expressou em um resumo da minha infância e adolescência o quanto me amava. Fiz de tudo para não borrar a maquiagem, mas não teve como não deixar as lágrimas escorrerem. Ah! Dona Fernanda despertava em mim a Eivy chorona e dengosa que tanto evitava.

Aquele ano havia sido muito duro para mim. Vivi coisas inexplicáveis e desconhecidas. Obviamente, Todos têm medo daquilo que não se conhece ou não se pode explicar; comigo não foi diferente. A morte de Mat, minha demissão, minhas loucuras com a bebida, ter que deixar tudo pra trás para recomeçar em outro país..., enfim. No final das contas, me sentia vitoriosa.

Felizmente a sexta feira chegou. Emma disse que me levaria pra tomar uns drinques. Não queria passar do ponto, mas se acontecesse, meu sábado se resumiria em uma cama, cobertores e dor de cabeça.

A Minha Vez, Eivy - Livro 2 CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora