Capítulo 19

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Acordei com uma forte claridade incomodando meus olhos. Pisquei algumas vezes para me acostumar e logo me dei conta de que não estava em minha cama. O cheiro de baunilha presente no quarto invadiu minhas narinas e me faz recordar dos últimos acontecimentos. Busquei nas cobertas quentes o corpo de Eivy, mas não encontrei.

Suspirei fundo me sentindo um idiota por ter dormido tanto ao ponto de não ter percebido ela levantar. Olhei as horas no relógio em cima da sua escrivaninha e me surpreendi: já se passavam das nove. Me levantei depressa procurando minhas roupas. Todas estavam dobradas numa cadeira de frente para a janela. Calcei os sapatos e corri para a sala. Decepcionado por não encontrá-la naquele cômodo também, peguei as chaves do carro e desci as escadas correndo.

Me senti tão tolo por pensar que ela estaria ali.

Sem dúvidas, se arrependeu e fugiu. Também pudera. A tratei tão mal todos aqueles meses... Mas ela não poderia ter deixado uma mensagem pelo menos? Pensei antes de cantar pneus na partida.

Só me dei conta de que estava em frente à empresa quando estacionei, e Devan, meu funcionário, veio pegar as chaves.

Assim que cheguei na recepção, recebi olhares atentos da senhorita Davis. Percebi também que olhou por trás das minhas costas, como se procurasse alguém.

— Bom dia, Davis.

— Bom dia, senhor Cooper... — ela franziu o cenho, e bufei impaciente.

— O que foi agora, Davis?

— Nada, senhor...

— Tem alguma coisa pra mim? — questionei friamente para que soubesse que não estava em um bom dia.

— Não senhor.

— Muito bem, não quero ser incomodado. Se houver qualquer reunião, pode remarcar para outro dia.

— Está bem.

Saí depressa para minha sala. O jeito que ela me olhou parecia saber o que eu havia feito. Isso me fez sentir mais raiva ainda.

Não quis perguntar se a Louise já tinha chegado. Na verdade, não sabia bem o que falaria para ela. Detestava bancar o cachorro abandonado.

Assim que sentei em minha cadeira, recebi uma ligação da Denise. Sem vontade de ter que ouvir suas birras de criança mimada, desliguei o aparelho.

Depois de cinco minutos de puro silêncio, ouvi batidas na porta.

— O que foi agora, Davis?

Ela entrou rapidamente.

— Senhor, me desculpe, mas sua irmã acabou de ligar.

— E o que diabos a Denise queria?

— Ela disse que ligou mais cedo para o senhor buscá-la no aeroporto, mas... — Vi que ficou sem graça e tentei apressá-la.

— Mas?

— Ela disse que Eivy atendeu e não quis acordá-lo, senhor.

Ah! Maravilha, então a srta. Davis sabia...

Fingi limpar a garganta e gesticulei para que prosseguisse.

— O problema é que Denise disse que até agora Eivy não chegou no aeroporto.

Meu corpo entrou em alerta.

— E porque Denise não pegou um táxi? Sem dúvidas, Louise deve estar no trânsito.

— Sua irmã disse que o senhor iria ficar bravo se a visse chegando sozinha com um desconhecido ou algo parecido. A questão é que estou tentando falar com a Eivy há mais de uma hora e não consigo. Pela manhã, ela me mandou uma mensagem dizendo que iria se atrasar e que...

— Que? — Alterei a voz.

— Pegaria uma carona com o senhor. Eivy sempre me manda a localização quando pega um táxi ou motorista por aplicativo. Estou com receio que tenha acontecido alguma coisa.

Droga...

— Continue tentando falar com ela. — Pedi mais nervoso do que gostaria. — Vou sair. — Peguei minhas chaves e o celular. — Qualquer informação, me liga.

— Certo!

Liguei o aparelho e disquei o número do meu chefe de segurança, lhe pedindo para buscar Denise no aeroporto. Assim que desliguei, percebi uma mensagem de um número não salvo, nas notificações.

Quando abri, meu corpo gelou e uma onda de choque fez minhas pernas bambearem. Lá estava ela, com a cabeça sangrando, de vendas nos olhos e um pano na boca. Abaixo da foto, uma mensagem dizia:

Me encontre na sua cabana de pesca, venha sozinho ou, ela morre!


Meio desorientado, resolvi seguir as instruções de Sebastian. Não tinha nomes na mensagem, mas eu tinha certeza que era ele. Peguei a estrada em direção ao sul e fui ao encontro deles.

Com a chegada do inverno, a estrada estava começando a se encher de neve e ficar mais perigosa.

Depois de meia hora de viagem, finalmente avistei minha velha cabana, cercada por uma floresta fria e obscura. Fazia anos que não frequentava aquele lugar. Costumava ir lá com Jones e Denise quando tínhamos uma folga.

As luzes da sala estavam acesas, porém não conseguia ver ninguém. Antes de descer do carro, um frio perpassou por meu estômago me trazendo de volta a sanidade.

Disquei o número de Davis e pedi para chamar a polícia. Dentro da cabana, ouvi grunhidos semelhantes à voz de Eivy. Sem pensar, corri em sua direção. Ao abrir a porta, a encontrei amarrada no meio da sala, chorando.

— Eivy. — Tirei sua mordaça.

— Não! Sai daqui, Dylan... corre! — ela sussurrou, mas não obedeci.

Senti uma pancada forte em minha cabeça, que me fez tombar no chão.

— Que lindo é o amor... — A voz de Sebastian ecoou pela sala. — O que um homem apaixonado não faz, não é mesmo, meu caro, Dylan Cooper?

— Solta ela, Sebastian. Seu problema é comigo. — Pus a mão sobre a região atingida.

— Dylan. — Eivy me chamou.

Seu rosto estava banhado em lágrimas.

— Tá tudo bem. — Tentei tranquilizá-la, mesmo sabendo que aquilo não terminaria nada bem.

— Infelizmente, não posso deixar ela ir. — Sebastian voltou a falar. — Até vou com a cara dela, sério! Mas sem uma vítima, não há assassino...

— Do que você está falando? O que... — Antes mesmo de eu terminar a frase, Sebastian apontou a arma para Eivy e atirou em sua perna.

O zunido do disparo ecoou por meus ouvidos e se misturou com os gritos de Eivy. Pulei em cima dele, lutando com todas as minhas forças para desarmá-lo.

De alguma forma, Eivy se soltou e se arrastou para fora. No mesmo instante, fui atingido por um soco no rosto e caí desorientado. Sebastian cambaleou até a arma que havia caído no chão e correu para a porta, efetuando mais dois disparos. Eivy soltou um grito estridente. Depois disso, não consegui mais ouvi-la.

Desnorteado, me levantei e pulei em cima dele. Começamos uma intensa troca de socos, rolamos pela varanda e caímos na grama coberta de neve. Ao longe, escutei as sirenes da polícia se aproximando e um fio de esperança me atingiu. Fui acertado no rosto e o desgraçado correu para dentro da cabana, deixando a arma no chão. Peguei a pistola olhando ao redor, tentando achar a Eivy, mas só havia uma extensa mancha de sangue ali perto. Corri para dentro da cabana e encontrei as portas do fundo abertas.

Ele havia fugido.

Reconheci a minha nove milímetros pelas iniciais gravadas. Naquele momento, as coisas ficaram claras. Era tudo parte do seu plano desde o início: o assalto, o desaparecimento da minha arma, o acidente com a Eivy... tudo!

Os policiais entraram na casa e me renderam. Eu estava paralisado. Meu cérbero e corpo não estavam conectados. Mal ouvia o que os policiais falavam. 

A Minha Vez, Eivy - Livro 2 CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora