Capítulo 20

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Por Eivy

Ainda de olhos fechados, senti uma brisa fria tocando meu rosto. Pisquei algumas vezes e a forte claridade do dia fez meus olhos pulsarem no mesmo ritmo das batidas do meu coração.

Analisei o ambiente ao meu redor e não o reconheci. Grandes cortinas brancas meio abertas revelavam uma densa floresta lá fora.

— Ah, Você acordou! Finalmente. — Uma mulher entrou comemorando enquanto batia palmas de felicidade — Como se sente, querida?

— Eu... Bem... Estou bem. Quem é você?

Ela se aproximou mais e sentou-se de frente para mim. Ela era muito bonita. Lábios carnudos, cabelos pretos como a noite e pele negra.

— Me chamo Laura. Meu marido te resgatou há alguns dias na floresta. Estava muito ferida e perdeu muito sangue.

Minha respiração começou a ficar mais forte quando flashes do ocorrido vieram à tona. Toquei minha perna e senti a dor no exato lugar onde me lembrava de ter sido baleada. Três dedos abaixo da costela, outro tiro também havia me atingido.

Me veio uma ânsia de vomito ao relembrar do meu sequestro em frente ao meu prédio até a cabana, onde servi de isca para Dylan ser pego...

Ah, meu Deus! O Dylan!

— Onde ele está? O que aconteceu? — A questionei na tentativa falha de me levantar. Mal consegui dobrar a perna para ficar de pé e a dor me fez recuar.

— Fique calma! Está tudo bem, srta. Louise! A pessoa que fez isso com você já foi encontrada! Agora você precisa ficar em repouso. Mais tarde o médico vem te ver.

— Médico?

— Sim, querida. Meu marido tirou a bala de sua perna. Por sorte, ela estava em um lugar de fácil acesso e que permitia a remoção.

— Fui para o hospital? E por que não estou em minha casa?

Percebi que ficou calada por alguns instantes. Comecei a ficar assustada.

— Preferimos não leva-la a um hospital porque não suportaria a viagem. Você perdeu muito sangue. Sem contar que não sabíamos quem queria fazer mal a você .

Um calafrio percorreu minha espinha ao lembrar de como saí em disparada no meio da floresta na tentativa de sobreviver àquele desgraçado.

Depois de um breve suspiro, ela continuou:

— Meu marido é um cirurgião cardiotorácico. Foi ele quem cuidou de você. Não se preocupe, está em boas mãos. O outro tiro foi de raspão. Felizmente, não houve complicações.

Minha cabeça estava dando várias voltas com tanta informação. Ela continuou falando sobre como me encontraram, mas eu não prestava atenção. A todo momento eu só pensava em Dylan.

— Você está bem? Parece confusa...

— Estou, é só que...

— É muita coisa para assimilar não é, Eivy?

— Como sabe meu nome? — perguntei com desconfiança. Em nenhum momento mencionei como me chamava.

— Estava no noticiário, sites, jornais. Todos souberam o que aconteceu.

Respirei fundo antes de perguntar o que tanto estava me causando aflição, pois se a resposta fosse a mesma que eu tinha em mente, talvez não suportaria.

— Laura...

— Sim? — Ela, de maneira gentil, segurou em minhas mãos como forma de demonstrar segurança.

— Você sabe se alguém... — Senti meu coração acelerar. — Se alguém se feriu ou... Morreu?

— Não. Ninguém mais se feriu. Ontem, vimos no jornal que a pessoa que tentou contra sua vida foi identificada há alguns dias. Na verdade, se não me recordo mal... o julgamento será amanhã. Estávamos apenas esperando você acordar para chamarmos a polícia. Nos últimos dias, houve uma tempestade de neve. Foi difícil procurar ajuda. Ainda bem que Eduard tinha alguns equipamentos aqui.

— Espera. Julgamento? Já? Há quantos dias estou aqui?

— Acredito que uns quatro, ou cinco.

— Ah, meu Deus! Todos devem estar me procurando! Minha mãe, meus amigos... Até o Dylan...

— Sim, foi por causa desse homem que não decidimos chamar a polícia antes. Ele é muito rico. Li num site que é um dos homens mais influentes da cidade. Com certeza viria atrás de você se soubesse seu paradeiro, Deus sabe do que ele seria capaz de fazer se...

— Do que tá falando? — interrompi. — Dylan jamais me faria mal, pelo contrário.

Laura me encarou, como se eu estivesse dito algo assustador.

— Como assim? A polícia pegou ele em flagrante. Seu sangue estava no local, a arma, a cabana...

— Dylan me salvou! — gritei tentando me levantar novamente, mas ela me impediu.

— Se ele não estivesse aparecido... Ele não é o culpado por isso!

— Calma. Me explica com calma.

Respirei fundo e comecei a lhe contar tudo. Ela escutou cada palavra em silencio e só me interrompeu quando comecei a chorar. Minhas mãos ficaram trêmulas ao lembrar da floresta escura, o frio, todo o sangue e a dor que estava sentindo. A última coisa que me recordava era de ver uma estrada e tentar alcança-la.

— Como eles podem achar que o Dylan faria isso comigo? Se estão acusando ele... quer dizer que Sebastian se safou. Não posso ficar aqui enquanto alguém é injustamente julgado.

— Fique calma. Quando o Eduard retornar, peço para que lhe ajude com isso. Não pode sair assim, precisa de cuidados.

— Não, o que eu preciso é falar com a polícia sobre o Sebastian! Foi ele quem tentou me matar.

— Você vai ter essa oportunidade! Vou ligar para o meu marido e pedir que traga uma cadeira de rodas para você poder se locomover sem se esforçar muito. Mas por enquanto, tem que ficar aí...

— Quando ele retorna? — perguntei impaciente.

— À noite.

— À noite?! Não posso ficar aqui esse tempo todo! Chama a polícia, eu dou meu depoimento aqui mesmo.

— Eivy, querida. Por favor, não fique nervosa, você está fraca! Precisa se recuperar. Vou fazer uma comida reforçada para não se sentir mal. Nesse momento, tem que cuidar de si mesma. Ficamos dias tentando fazer com que não piorasse; você teve muita febre. Descanse e amanhã cedo nós a levaremos até o tribunal. Prometo. — ela argumentou me cobrindo com o lençol.

— Mas você não tem um celular pra ligar?

— Vou buscar o meu... só me prometa que não vai ficar nervosa. Se passar mal, não saberei o que fazer. Eduard está longe...

— Está certo. — Inspirei fundo e acalmei meus batimentos cardíacos.

Não podia negar que me sentia péssima. Meu corpo ainda estava fraco e dolorido.

Laura saiu apressada e eu voltei a me confortar nas cobertas. Mesmo angustiada, minhas pálpebras pesaram. Contra vontade fechei os olhos. 

A Minha Vez, Eivy - Livro 2 CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora