Mandei todas as coisas que pertenciam a aquela mulher e Benjamin. O que me deixou um pouco intrigada, foi o fato dos dois permanecerem no quarto ao qual pertencia a mim e a Benjamin e deixá-lo intacto com os perfumes e roupas que eu usava, apenas foi adicionada algumas roupas no closet. Meus vários roupões de ceda permaneceram nós cabides. Meus perfumes e até a penteadeira antiga que eu costumava sentar e chorar quase todas as noites.
- Ian! - Digo dentro do quarto observando as várias coisas que me trazem lembranças ruins.
- Sim, mãe!
- Você poderia encontrar alguém para tirar todos esses móveis - Pego um roupão de ceda azul. - e essas roupas?
- Mas são todos seus!
- Foram de uma versão que não existe mais. - Passo o olhar em volta do quarto. - Todo esse lugar, me trás uma angústia e lembranças ruins. Eu quero mudar tudo para mim sentir bem aqui dentro.
Ele sorrir e passo o braço pelos meus ombros.
- Então tá! Mas o que a gente vai fazer com esse tanto de coisas?
- Não sei, manda fazer doação, queima, sei lá. Só não quero mais lembranças ruins.
Olho para a cama sentindo um nó na garganta, meus olhos estão marejados só de lembrar da noite em que chorei por perdeu o meu filho naquele acidente.
- Tudo bem, mãe?
Balanço a cabeça e fico cabisbaixa.- Lembrei da noite em que Ícaro morreu.
Ian passa a mão pelas minhas costas na intenção de me confortar, mas nunca existe conforto para uma mãe que perdeu um pedaço de se.
- Já passou mãe.
- Nunca passa Ian. - O abraço forte. - Nunca passa meu filho.
Por vezes, é horrível olhar para Ian e saber o motivo pelo qual o irmão dele correu por aquela rua naquele dia... naquele mês... Naquele maldito ano... Pois vejo a imagem do meu outro filho diante de mim, claro, por serem gêmeos. Essa dor, eu vou carregar sozinha e quieta até o final da minha vida ou quem sabe, até o final da vida de alguém.
...
Catarina dormiu aqui a noite passada com Valentina, é ótimo que tenhamos resolvido nossas desavenças. Não sei bem se Valentina me perdoou por ter causado um momento ruim na infância dela, mas não consigo a olhar sem imaginar o dia em que tive o ápice da minha loucura.
Estamos sentados a enorme mesa na sala de jantar. Bolo de cenoura com chocolate, café, suco de maracujá, frutas, doce de leite, Nutella, pães e Leite deixam a mesa farta para o café da manhã.
Gustavo é o último a sentar a mesa conosco, ele beija o meu rosto e senta ao meu lado.
- Bom dia! - Ele cumprimenta.
- Bom dia! - Catarina, eu e Valentina respondemos em couro.
- A mesa estar, como deveria estar há muito tempo. - Diz Valentina orgulhosa.
- Nem tanto, mas tá bom.
Olho para Ian sem entender o motivo que o fez dizer esse comentário de mal gosto.
- Ian, Você sempre teve esse mal humor assim? - questiono.
- Acho que foi porque eu acordei cedo, mas geralmente sou bem humorado.
- Têm horas que tenho nojo de ser irmã desse idiota.
- Ah! - Digo após tomar um gole de café. - Então, isso não é um problema minha querida.
- Porque?
- Porque vocês não são irmãos.
- Eu já sabia! - exclama Ian. - Benjamin contou depois que nós expulsou de casa.
Valentina olha para mim com uma cara de malícia e diz:
- Então, você deu uma puladinha de cerca e quis questionar a minha mãe quando se envolveu com o Benjamin?- Bem, eu fiz uma incriminação artificial a sua mãe sabe bem disso.
Valentina vira para Catarina que toma uma xícara de chá em silêncio.
- Você sabia disso, mãe? - Valentina pergunta a Catarina séria.
- Uhum.
- Então, porque não disse isso para mim na noite em que te contei aquele segredo.
- Não era o momento meu amor.
- Acho que ela não contou nada para você, porque ela já estava apaixonada por mim. - Debocha Ian.
- Não é hora pra brincadeira meu filho.
- Eu não estou brincando. A gente transou depois da festa de casamento do Benjamin.
- Que história Catarina? - Pergunto furiosa.
- Eu posso explicar!
- Para mim não tem explicação nenhuma. - Valentina levanta da mesa revoltada. - Você é igual ao Benjamin, seria melhor que morresse logo naquela cama de hospital.
Valentina sai da sala de jantar. É possível escutar os passos dela subindo as escadas depressa.
- Eu pensei que a gente poderia ficar tranquila de novo uma com a outra, mas... Você não muda Catarina. -balanço a cabeça em negação. - Quero que saia dessa casa. Valentina permanece porque ela é uma das donas, e também porque tenho uma dívida com ela.
- Eu posso explicar, Malu.
- Vai embora daqui! Você não ouviu a minha mãe falando?
Vejo lágrimas escorrerem dos olhos de Catarina, porém, não consigo sentir nenhuma empatia por ela. Não têm como retomar uma amizade com uma pessoa que nunca muda, permanece sempre no mesmo ciclo.
Catarina é acompanhada por uma das empregadas até a saída.
- Muito bem mãe, você fez a coisa certa.
Viro meu rosto e levanto deixando-o sozinho a mesa. Acho que não consigo encarar nem mesmo o meu filho, que pareceu dizer com tanto orgulho que se deitou com Catarina.
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Um Acordo Entre Amantes (Editando)
RomanceO último livro da trilogia Amante, conta o desfecho de personagens marcantes como Catarina, Maria Luiza, Benjamin e Rosa. Revelando as consequências e traumas vividos após dez anos da tragédia que deixou Catarina adormecida, juntamente com Maria Lui...