Capítulo um - Segundo andar.

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Rosa

As luzes do Leblon nunca foram tão cheias de esperança e arrependimento, pressiono as mãos no volante e respiro fundo, dirijo até o hospital ao qual Catarina se encontra internada a todo esse tempo.
O médico responsável pelo caso de Catarina, disse que ela está começando a mexer os dedos em resposta a perguntas simples que são feitas.
Digamos que foi preciso muito tempo para que eu pudesse perceber que cometi um erro, um não, vários erros. Sempre me mantive a pá de tudo que desrespeita a Catarina, inclusive pago uma enfermeira que trabalha há anos no hospital para me manter informada sobre o quadro de Catarina.
Infelizmente não sou uma pessoa que vive de lamentação, meus vários pesadelos que não me deixam dormir a noite são provas que não posso viver chorando. Fiz muita gente sofrer por causa de um homem, mas esse mesmo homem, também abriu feridas no meu peito que são irreparáveis. Calmantes, bebidas alcoólicas e outros relacionamentos, não vão trazer o que eu perdi no passado e o quanto me arrependo de ter feito coisas para satisfazer as vontades de uma pessoa que sentia prazer me vendo sofrer.

Benjamin é o tipo de homem que se sente satisfeito vendo as mulheres sofrerem por sua causa, ele machucou todas as mulheres que passaram pela vida dele, exceto a mãe. Aquela mulher pode ter sido a grande culpada por ele ser o homem que é hoje, Agata sempre apoio o filho com seus discursos de que "homem de fato faz isso", "ele é homem nasceu para namorar mesmo, não para ficar preso a mesma mulher".  Detalhe, as vezes que a ouvi falando essas frases, Benjamin já estava casado com Maria Luiza, acredito que na época ele não tenha traído ela, pois diversas vezes me insinuei no intuito de ficar novamente com Benjamin e fui rejeitada. Uma coisa tenho que reconhecer, o homem é bom de cama.

Benjamin é uma pessoa difícil de se compreender, pois é como se ele objetificase ou tivesse o perfil perfeito da mulher que será a próxima a entrar em sua lista de uso, pois o único interesse dele é se divertir durante um tempo e depois descartar miseravelmente como um resto que já não serve mais para nada. Acho que a vez de Catarina chegou no momento em que ela fechou os olhos naquele acidente, Benjamin não teve o mínimo senso de esperar ou ficar ao lado da "amada" ao longo do coma.

Eu até hoje me perguntou E não ia se casar? Não estava apaixonado? O amor acabou da noite para o dia? Eu sempre soube a resposta de todas essas perguntas que me fiz, não seria difícil de esperar que ele fizesse algo diferente, um homem fraco e miserável, sempre será um homem fraco e miserável. Não muda, nunca.
— Para onde estamos indo? — Pergunta Aylla.
— Ao hospital. — Respondo.
— O que faremos no hospital a essa hora da noite?
— Pegar um fio de sutura para costurar essa sua boca tagarela.

Odeio pergunta idiota, por mais que ela não saiba, prefiro que fique em silêncio.

— Desculpa. — Ela encolhe os ombros baixando a cabeça. Coitada, estou quase com pena, só que não.

Reviro os olhos.
— Ok, apenas fique em silêncio, eu sou o suficiente para falar demais.
Coitada, Aylla sofreu mais do que imaginei, ela foi comprada pelo sheik que casei na Turquia, seria a segunda esposa dele até que eu rodeia a baiana e envenenei aquele velho desgraçado, mas as pessoas pensam que foi um infarto o que é menos mal. Aylla foi vendida pela família para o meu falecido marido que o diabo o tenha no inferno, não é porque morreu que eu vou dizer que era bom, na verdade... ele até me encheu de ouro e diamantes então não foi tão ruim assim, pensando bem, era obrigação daquele sugar daddy.

Entro no estacionamento do hospital e o coloco na terceira vaga do lado esquerdo. Saio do carro, assim que Aylla vai saindo do carro me coloco na frente dela impossibilitando que a mesma saia do automóvel.
— Acho melhor que você fique.
— Tem certeza? — Indaga.
— Absoluta. Eu vou voltar rápido, então não é preciso que você vá comigo.
— Ok.
Fecho a porta do carro e tranco ao apertar no portão do controle.
Caminho até o elevador cobrindo o rosto com a mão por causa das câmeras de segurança, pois ainda sou procurada pelo acidente de Catarina, maldito Benjamin.
Aperto no botão para o 2° andar, e em questão de segundos estou no destino. As porta do elevador abre, uma enfermeira com óculos de grau levanta a cabeça e se levanta, em seguida, caminha em minha direção. É Leila, sua pele é branca com pintinhas marrom na mão, acredito que ela tenha vitiligo, a mesma têm olhos verdes, cabelos pretos e é mais baixa que eu, percebo assim que ela para na minha frente. 
— Olá! Você deve ser Rosa?
Leila não sabe que sou a responsável pelo acidente de Catarina, ela entrou na equipe há cinco anos atrás, desde então, apenas sabe o necessário sobre a paciente em questão.
— Sim.— Estendo a mão para cumprimentá-la, logo, ela aperta minha mão. — Você deve ser Leila, estou errada?
— Não. É um prazer enfim conhece-la pessoalmente, digo, fora das vídeos chamadas.
— Claro. — solto a mão dela. — E como está minha prima?
Este é outro detalhe, eu disse que sou uma prima de Catarina que cresceu com ela na Paraíba e que ficou muito preocupada quando soube do acontecido anos depois do acidente. Acho que se eu investisse no teatro, provavelmente eu seria a melhor atriz da companhia.
— Venha comigo! — Leila caminha pelo vasto corredor branco. Tenho que admitir que sinto um pouco de medo em entrar em hospital. Leila entra na penúltima quarto do corredor e lá está Catarina, seus olhos fechados ainda imóvel. — A filha dela e a cunhada, são as únicas que ainda vem aqui.

Leila me contou por telefone, que raramente vem uma visita ver Catarina. Entre Valentina e Fernanda, Valentina é quem vem visitar a mãe quase toda semana.

Leila e Valentina sempre conversam, então fui informada que a filha de Catarina está passando por uma depressão depois que soube do casamento do pai com outra mulher, sem falar que foi posta para fora de casa junto com o irmão Ian, pelo simples fato de que a nova senhora Salvador não quer que os enteados permaneçam em casa. Valentina está morando com Fernanda, enquanto Ian está morando sozinho em um dos apartamentos da mãe dele na Barra da Tijuca.

Leila falou que Valentina nunca se conformou com o fato do seu pai ter abandonar Catarina um ano depois do acidente, pois há quase nove anos ele está com a noivinha dele. És a questão, porque casar agora?

Pedi a Leila que não contasse nada para Valentina sobre a volta da reposta motora de Catarina.

— Você acha que ela pode acorda depois de todo esse tempo? — Pergunto.
— Segundo os médicos, sim. Ela nunca respondeu a estímulos desde o acidente, mas agora é diferente.
— Leila, você pode nos deixar a sós?
— Claro, pode ficar a vontade.

Leila saí do quarto e fecha a porta, sento em uma cadeira ao lado de Catarina e pego sua mão.
— Um dia uma pessoa muito especial disse, que o perdão é a coisa mais bonita que alguém pode dar a outra pessoa. — hesito. — Eu não me orgulho do que fiz a você muito menos a Maria Luiza, mas só eu sei das minhas feridas e o que perdi. — Respiro fundo no intuito de conter as lágrimas. — Eu matei um inocente por causa de Benjamin. Para satisfazer os desejos dele. Você não sabe o quanto me arrependo disso, não sabe a dor que levo no meu peito por todos esses anos.

Baixo a cabeça e olho para chão limpo de um quarto de hospital, uma lágrima cai do meu olho.

Jamais expressei em palavras o que sinto, apenas rebelei meu ódio em pessoas que queriam amar um desgraçado filho da puta que só me fez sofrer. Acho que percebi tarde, pois posso ter me tornado uma pessoa pior do que Benjamin foi com todas nós.

Sinto Catarina apertar minha mão, logo, levanto a cabeça surpresa. Catarina abre as pálpebras devagar mostrando seus olhos castanhos, a mesma vira a cabeça para os lados analisando o lugar.

— Seja Bem vinda ao mundo de novo, Bela adormecida. — Digo.

Um Acordo Entre Amantes (Editando)Onde histórias criam vida. Descubra agora