Capítulo trinta e cinco - Nós três até o fim.

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- Silêncio, você não quer deixar seu pai nervoso! - Adverte a enfermeira.

- Desculpa!

Paulo fica na minha frente, ele acaricia meu rosto que provavelmente está vermelho de raiva.

— Vamos tentar manter a calma Catarina. — Aconselha Paulo. — Nós vamos resolver isso.

— Como? Ele nem me reconheceu. Você viu... Ele... Ele nem sabe quem eu sou..

Meu marido me abraça forte, sinto seus braços confortáveis e fortes me acalentar.

— Têm que ter um jeito. — Ele fala mantendo a calma como ninguém. — Eu não vou deixar você sofrer, nem mesmo o seu pai.

— Ele tem que me reconhecer. Eu tenho certeza que se eu falar com ele sobre minha infância, ele vai lembrar. Eu sei que vai, Paulo.

Paulo se vira para enfermeira que acena indicando que sim. Acho que é um "sim, isso pode ajudar".

— Acha que se ela entrar e falar com ele, tentar lembrar de momentos distantes, isso pode ajudar? — Pergunta Paulo.

— Talvez — Ela responde.—, podemos tentar.

Paulo e a enfermeira abrem espaço para que eu abra a porta de madeira marrom que guarda meu pai em seu quarto, logo, respiro fundo e giro a maçaneta entrando no cômodo. Meu pai, fica seus olhos castanhos em minha direção, fecho a porta e me aproximo dele.

— Olá! — Digo com um sorriso triste e com faíscas de esperança no meu peito que me ajudam a manter a esperança de que ele vai saber quem eu sou.

— Oi! Você é a nova enfermeira? — E novamente ele não me reconhece, porém, respiro fundo e continuo sorrindo. — Porque eu já falei para outra que não gosto daquelas papas de goma que ela me trás. Faz tempo menina, muito tempo que comi um doce de gegilim, mas nada se compara ao que Fátima faz.

— Fátima? — Indago confusa.

— Sim, a minha mulher. Eu não vejo ela a bastante tempo. Nós tempos dois filhos pequenos,  o Ricardo e a Catarina. Ah! Eles só vivem brigando e correndo para a praia.

— Eles devem...— Engulo em seco. — devem ser bem sapecas.

— Demais! Vix, Maria. Não têm quem aguente.

Solto uma risada baixa.

— Também têm filhos? — Ele pergunta sorrindo.

— Tenho sim, uma. Ela é bem rebelde, uma moça de 17 anos.

— Quando me casei com Fátima eu tinha essa idade. Tive que escolher entre ela e outras três mulheres. — começa a gargalhar.

Eu sorrio junto com ele.

— Têm certeza que não me conhece? Nem um pouco?

— Sim! — ele responde. — você é a nova enfermeira.

Meu sorriso se desmancha. Sou uma linha apagada na história atual da vida do meu pai, porém, ele ainda lembra da minha infância com o Rick, as muitas brigas que nos levava a corridas a praia.

— Isso, eu sou sua nova enfermeira.

— Pois já sabe, não quero papa de goma.

— Decidido, sem papa de goma. Nunca mais vai ter isso aqui.

Ele coloca as duas mãos no peito e volta a sorrir dizendo:
— Gostei de você, lembra minha filha.

Inspiro o máximo de ar e o deixo assistindo seu jornal. Abro a porta e saio do quarto triste, mas com suas palavras que me deixam esperançosa em minha cabeça, gostei de você, lembra minha filha.

Um Acordo Entre Amantes (Editando)Onde histórias criam vida. Descubra agora