Drama de família gay

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Segunda-feira, 14 de junho

A preocupação com a prima tem tirado o sono de Luz. Literalmente. Claro, ela está muito feliz com Amity. "Por que não pode ficar tudo bem? Por que sempre tem que ter alguma coisa ruim acontecendo?", pensa. Clem parece mais afastada do que o normal, mais paranóica com o trabalho, e ela explode com mais frequência. Até Scorpia, que de certa forma se acostumou com o jeito de Catra, acha que há algo errado.

São nove horas da noite, Luz lava algumas louças enquanto Scorpia liga o PS4. Nenhuma das duas viu Clem neste dia, ela não foi para casa antes da faculdade. Foi direto para o trabalho e não voltou mais, o que parece mais frequente também.

– Fez a lição de casa certinho, Luz? – pergunta Scorpia, enquanto a mais nova fecha a torneira.

– Sim – responde, desanimada.

Scorpia levanta uma sobrancelha, estranhando a atitude de Luz. Ela faz um sinal de "vem cá" para a garota, que vai até ela vagarosamente.

– O que foi?

– Estou hã... pensando na Clem. Preocupada com ela.

As duas se sentam no chão perto da TV. Scorpia tem o controle do videogame em mãos.

– Eu também tô, nanica. Ela parece mais nervosa.

– Sabe de algo que pode ter acontecido?

– Sinceramente, não – elas ficam em silêncio. A mais velha mexe aleatoriamente no menu do console – a Catra nunca fala muito sobre o que ela sente com outras pessoas – Luz ainda estranha quando Clem é chamada de "Catra" – você deve saber que ela sofreu tipo, muito né? – a garota assente – e ela se mata no trabalho, e do jeito que ela fala do chefe, eu sei que ele é um bosta...

Mais quietude. Luz pensa um pouco para encontrar as palavras em português, o que ocorre cada vez mais raramente. Parece acontecer em momentos de conversas sérias.

– Scor, você acha que a gente convence ela a procurar ajuda?

– Profissional? – Luz assente de novo – sei não, Luz, ela é muuuuuito cabeça dura com essas coisas. Eu já falei sobre com ela. Quer dizer, tentei né, porque ela simplesmente muda de assunto à mera menção da palavra "terapia". Mas sei lá, tô achando que ela ta se desgastando tanto que talvez a gente convença ela.

Luz absorve as palavras, enquanto abraça os próprios joelhos. Pensa em como poderia quebrar o gelo e iniciar uma conversa sobre com Clem. Sua prima, que levava os animes até sua casa tão humilde no Paraguai, que fazia brincadeiras tolas que ela adorava, que a garota tanto ansiava por ver quando os recessos finalmente chegavam. A Clem, que era muito mais como irmã do que prima para Luz.

Ela precisa disso, Scor. Eu não suporto ver ela desse jeito. Eu não vou descansar até convencer ela!

Scorpia não precisa entender espanhol para perceber a determinação nos olhos daquela menina tão jovem, e ainda assim, tão madura e carinhosa. Um sorriso é trocado entre elas.

– A gente consegue, Luz! – a mais velha oferece a mão para um high-five, rapidamente correspondido.

– Sim! – concorda Luz.

[...]

Sábado, 19 de junho

A semana tinha sido corrida para as três moradoras da quitinete. Parecia até que o destino estava caçoando de Scorpia e Luz, justo quando elas combinaram de falar com Clem, a mais nova estava em semana de provas e Scorpia teria trabalho dobrado. Clem, como de costume, não parou em casa praticamente, o que dificultou mais ainda os planos de Luz e Scorpia.

Do Outro Lado - (Catradora / Lumity)Onde histórias criam vida. Descubra agora