Comi tua filha 😎

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Desculpa a demora pra postar, eu ando mto sobrecarregada e cheia de problemas, mas tá aqui. /Brias

Aviso de gatilho: abuso e homofobia

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Começo de setembro

– Clementina Noceda! – Algum guarda grita da porta da pequena cela superlotada. Catra, que como por quase 100% do tempo dos últimos dias se encontrava recostada à parede no fundo da jaula, encarando o chão e mergulhada nos próprios pensamentos, levanta a cabeça lentamente, como se pudesse enxergar através do quarteto de mulheres bem à sua frente que conversam, distraídas, para ver a cara feia de algum policial folgado – CLEMENTINA! Eu não tenho o dia inteiro!

Ela se levanta, preguiçosa, sem a menor vontade de encarar e dirigir a palavra a um porco de farda. Sabe muito bem a índole dessa raça, nos sete anos que trabalhou para Prime viu mais de uma vez eles molhando as mãos pra proteger rico safado. Se pergunta qual foi o problema, dessa vez: esqueceu de pagar a propina mensal, foi, Prodan?

– Sim?

O guarda abre a porta da cela.

– Vai, cê tá livre. Seu advogado tá na espera.

– Aleluia, finalmente.

Há algumas semanas, o pai de Adora assumira o caso. A princípio, ficara muito desconfiada da índole daquele cara que agora a representa, protagonista da primeira música autoral da Panic Velcro, fonte de tanto sofrimento para a família da loira por tantos anos.

No entanto, de alguma forma ele pareceu tomar o trabalho com total seriedade. Arrancou cada detalhezinho de Catra sobre as circunstâncias da sua prisão e, a cada momento, notava como ele dava um sorrisinho como quem canta vitória antes da hora. Há uma ou duas semanas, ele falou algo no sentido de que fazê-la aguardar em liberdade "já estava no papo".

Quando falou com a loira pela última vez, conseguiu arrancar dela como convencera seu pai, o "palhaço real", a defendê-la. Pensa que, antigamente sentiria que deveria tê-la estapeado por isso, mas a Catra de hoje não sente essa vontade: somente aceita a realidade à sua frente, resignada. O que importa é que, nesse ponto, Luz já tem dinheiro o suficiente para completar a sua educação.

Quando dá com o homem no que seria o "hall" do presídio, branco, de terno, numa postura digníssima de metidez que a faz pensar numa versão mauricinho de Adora, o advogado deixa escapar por um momento aquela mesma expressão de quem se acha que sempre vê no rosto da loira. Se pergunta se ela sabe o quanto puxou dele.

– Não disse? – Indaga. É claro que ele se refere à sua liberdade.

– Valeu – ela murmura, sem graça. O homem lhe dá as costas, revirando os olhos em desprezo.

– "Valeu"... ai, ai, esses jovens de hoje.

– Foi mal. Valeu, sogrão.

O mais velho a encara com a expressão mais confusa do mundo. Depois, dá um tapa na própria testa e sai murmurando algo tipo "não acredito, minha filha é mulher de bandida".

Quase faz Catra rir. Quase.

É com alívio que ela recebe seus itens de volta na recepção e parte para casa, logo após uma curta conversa com Alador sobre como seguirá o processo até a próxima audiência. Sequer liga para avisar Scorpia e Luz: se pergunta como serão suas reações.

Ficou tanto tempo confinada naquela cela que tem até um certo estranhamento quando põe os pés na rua novamente. Uma parte da sua mente diz que aproveite, que com certeza serão seus últimos meses, que não terá chance quando o processo começar. Outra parte ainda mantém as esperanças, afinal, não tem a menor ideia de como funciona um julgamento desses, o que virá a seguir... o Prime é um tipo de intocável, não é? Então, ele provavelmente vai dar um jeito de fazer parecer que não tem nada de errado com a empresa dele uma hora ou outra.

Do Outro Lado - (Catradora / Lumity)Onde histórias criam vida. Descubra agora