Gatinhos fofinhos e Super Cass ao resgate

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CW: autodepreciação.

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Domingo, 16 de janeiro de 2022

São Paulo, Capital

Catra suspira aliviada ao chegar em seu apartamento e encontrá-lo vazio.

Acaba de voltar para São Paulo, mas Luz ainda ficará no Paraguai com a mãe até o final das férias escolares. Espera que elas recuperem bem o tempo perdido, deve ser difícil para a tia Camila ter sua filha tão nova, morando tão longe.

Um ano depois de pôr em prática aquele plano mirabolante, Catra repensa ele, jogando-se em sua cama dividida com a quase-ex, refletindo o quanto sua vida mudou no ano anterior. Especialmente, naquele dia quando Luz chegou: não apenas começava a saga da sua priminha no Brasil, como também foi o Momento X em que criou uma razão para Adora, até então uma vocalista indie a quem admirava de longe, para vir falar com ela.

Nunca imaginou que aquele momento mudaria tanto a sua vida. Que a presença de Luz aqui a faria mudar tanto. Claro, sempre soube que alguma mudança teria, mas imaginara até então que seria somente alguns pequenos remanejamentos nas suas finanças e horários.

Catra respira fundo, as palavras de Adora de três dias atrás retumbando em seu ouvido feito um tambor. Aquilo não pode ser sério. Não faz o menor sentido que seja. Porque é que aceitou tão facilmente que ela viesse para o Paraguai? Que entrasse tão fundo assim na sua vida? Ela vai se tornar só mais um grande arrependimento no futuro, não é? Só mais uma das muitas facas de dois gumes com que já se cortou. Ela tenta relaxar os músculos, espalhada sobre o colchão num momento raro em que ele é totalmente seu. Precisa relaxar. Porque é que está sempre tão ansiosa e estressada com tudo? Às vezes, parece insuportável, mas aí ela suporta e continua em frente e torna a perceber, mais uma vez, que sempre consegue sobreviver ao insuportável. Não deixa de ser horrível, de qualquer forma.

"Cadê o Melog?", se pergunta a mulher, sentando-se na beirada da cama de imediato. Ela se levanta, vai até o apartamento no final do corredor, bate na porta duas vezes. A velha madame Razz é quem a atende, elas trocam rápidas palavras e a idosa guia Catra até o sofá, onde Melog relaxa e King, do braço do sofá, o observa com aquela sua clássica cara de gato arteiro, doido para fazer o gato maior brincar com ele. Rindo por dentro, Catra observa de longe, esperando se eles vão fazer alguma graça.

– Onde está a Eda?

– Na editora. Ia ter um evento de um lançamento novo.

– Ah, entendi. Legal.

Catra observa enquanto King subitamente pula sobre Melog e eles trocam vários golpes de pata, antes de King recuar novamente com os olhos esbugalhados e os pelos todos eriçados, ao passo que Melog fica deitado no sofá com a barriga pra cima em posição defensiva. Ela ri baixinho, ainda mais quando King torna a tentar se aproximar de Melog, pé-ante-pé, até partir para um ataque rápido mais uma vez.

Suspira, perdida no que fazer. Deveria levar Melog de volta, quando está se divertindo tanto com King? Sente como se fosse uma grande estraga-prazeres, não só na vida dos dois gatos. Será que não seria melhor se só permitisse que eles ficassem juntos sempre e saísse de sua vida? Não estará sendo um peso nos ombros de Luz, Scorpia e Adora? Se a ajuda financeira que se esforça tanto para prover não significa nada, então não há nada que ela possa fazer.

A cascata descontrolada de pensamentos angustiados continua a tomar a mente de Catra, levando-a a um mundo paralelo de ansiedade que, desde quando deixou sua cidade natal, nunca conseguiu superar. Achava que bastava deixar aquele lugar horrível para trás. Fora tão ingênua. Mas o que pode fazer agora? Não pode voltar atrás, não pode dizer à sua versão de 18 anos o quanto ela é ingênua e ignorante e avisá-la que deve tomar algum outro caminho. De qualquer forma, que caminho seria esse? Deveria ter ido para o Paraguai, naquela época? Ter ido viver do outro lado da fronteira, na Cidade do Leste, ganhando bem menos do que ganha em São Paulo, longe de todo o estresse, da vida problemática em que se meteu, e nunca ter tido a chance de ir para a faculdade, de conhecer Scorpia e Adora, de mandar dinheiro para a tia Camila e Luz de tal forma que, um dia, Luz poderia frequentar uma escola particular enquanto sua mãe estuda para o vestibular da sua tão sonhada faculdade de veterinária? Terá valorizado demais esses sonhos materiais? Não entende o que exatamente o mundo tanto está exigindo dela.

Do Outro Lado - (Catradora / Lumity)Onde histórias criam vida. Descubra agora