Rendendo-se à boiolagem

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Clqementina ainda não consegue acreditar: está, realmente, de fato, sem dúvida ou contestação alguma, oficialmente num ENCONTRO ROMÂNTICO com outra pessoa.

Pior ainda, é num encontro romântico com a burguesinha sem noção metida a punk mais insuportável de toda FEA/USP, aquela maluca que come a namorada de bêbados brigões de pau diminuto, segue a crush até o Paraguai sob desculpas esfarrapadas de cuidar da irmãzinha mais nova, late enquanto transa, escreve músicas enemies-to-lovers sobre Lula e Bolsonaro e tem o pior senso de humor que a humanidade já viu.

Senso de humor esse que a tem contagiado, nos últimos tempos.

– Você tá bem, Cat? – indaga Adora.

– Tô.

– Hm, cê tá quietinha, hoje.

Estão num dos últimos quarteirões antes daquele bar, paradas num semáforo. Cat olha pela janela, rosto apoiado no braço, pensativa sobre essa última semana.

Tudo parece estar indo tão bem. Bem até demais.

– Tô só pensando.

– Fica pensando não, vamos comemorar! Hoje é dia de relaxar e ficar bem.

– Então, tu tem certeza que vai pagar pra mim?

– Absoluta! Agora, ganho quase 3 mil por mês!

– Ia falar que isso não é muita coisa, mas aí lembrei que tu ainda mora na casa da mamãe. Privilegiada.

Adora solta uma risada histérica de porco. O semáforo abre e ela dá a partida no carro. Lança um olhar rápido para Cat e, com um sorrisinho exagerado, retruca:

– Mas morar com a mamãe me permite que eu te pague quantas bebidas e petiscos você quiser, então não reclama!

– Jamais. Adora, compra a AMBEV pra mim?

A loira segura uma gargalhada para não se distrair da direção.

– É toda sua, gatinha.

– Aff Adora, para de ser gay, sua gay – a loira quase não consegue segurar a risada.

– Cat, para me distrair, vou acabar batendo o carro!

– Tu que tá aí toda eufóricazinha e emocionada sei lá por quê. É só outro patrão pra te explorar.

– Afe, chata! Tô feliz porque tô com você!

– Ah, tá. Gayzona.

– Pra caralho – concorda Adora, soando orgulhosa.

A loira estaciona o carro não muito longe do bar e elas vão andando até ele. Hoje, uma banda feminina de côveres está tocando, mas as duas não dão atenção alguma e vão direto para a bancada.

– Inhaííí abiguinhe! – Adora cumprimenta aquelu viade cabelude que se apoia por trás da bancada, observando a banda. Elu desvia os olhos do palco e vem cumprimentar a loira.

– E aí, viadinhas? – elu responde, pousando os olhos em Catra e olhando-a fixamente.

– Ei, viade. Me dá a bebida mais cara dessa porra.

Elu levanta uma sobrancelha, surprese.

– O que houve com a moça que só bebia Glacial?

– Ué, nada – ela se defende – a Adora tá pagando, eu quero falir ela.

DT nota o olhar preocupado da outra.

– Certeza que vai pagar, loirinha?

– Ah, claro! Consegui um emprego novo e a Catzinha aqui merece – Adora puxa Cat pra um abraço de lado. A mulher tenta resistir e se desvencilhar, mas Adora é particularmente insistente no abraço, portanto ela desiste.

Do Outro Lado - (Catradora / Lumity)Onde histórias criam vida. Descubra agora