Capítulo 1
Charlie
Estar no carro com o Augusto é fácil, ele não faz perguntas e nem me pressiona para saber o que me fez sair correndo do meu próprio casamento. Mais uma vez, pela forma como minha família reagiu, eles sabiam o que estava por vir, mesmo quando eu mesma ainda não tinha me decido.
Não sei o que tinha na cabeça quando entrei no carro do Augusto, todo o desespero da igreja não vale a câimbra na bunda que estou sentindo. Ele está indo para onde? China? Entrando em uma estrada de pedras, isolada, as arvores e a escuridão da floresta tornam o cenário assustador.
— Preocupada que eu esteja te raptando?
Sorrio.
— Você é aquele que precisa se preocupar. — Falo. — Isso se parece com o cenário de um podcast sobre serial killer que ouvi há pouco tempo, o homem que levava suas vitimas para a floresta, matava e deixava os corpos jogados, ninguém se atrevia a ir até aquele lugar, pelo menos não alguém que fosse sair vivo de lá. Quando uma equipe encontrou, os corpos estavam decompostos, de muitos restava apenas a ossada. Não foi difícil chegar até o assassino, a cidade apontou o dedo para o encrenqueiro que espancava a esposa, no fim todos estavam certos.
Augusto me olha de canto de olho, ele esconde bem sua surpresa com as minhas palavras, mas sou observadora, vejo a forma como engole em seco. Satisfeita comigo mesma, deixo minha mente viajar.
O farol do carro é a única coisa que ilumina a estrada a frente, tento manter minha atenção no pedaço iluminado. Olhar para a escuridão da floresta só ajudaria meus pensamentos vagarem para minha família, e em como todos devem estar preocupados.
Augusto nota que estou olhando para frente, mas acaba interpretando errado minha ação.
— Está com medo do escuro? — Ele parece preocupado comigo.
— Apenas em me perder nele. — Forço um sorriso, sou boa nisso, eles sempre saem como verdadeiros. — Não tenho medo do escuro, na verdade, é o contrário.
— Não tem medo dos monstros? — Provoca.
— Monstros não existem, e se existissem, teriam mais medo de mim do que eu deles.
Augusto é uma pessoa legal de se estar perto, ele não fica me fazendo perguntas ou querendo saber a razão pela qual corri daquela igreja. Mesmo que seus olhos deixem bem claro que está curioso.
No fim estrada posso ver uma clareira, e no centro dela tem uma cabana de madeira, com grandes janelas de vidro. Mesmo tendo me trazido aqui achando que eu ia surtar por estar no meio do nada, ele acabou de me dar exatamente o que eu precisava. O aperto no meu peito diminui a medida que nos aproximamos mais e mais, até que ele para o carro, não espero por ele quando desço e caminho até a entrada.
— Gostou? — Pergunta, abrindo a porta.
— Sim. — Passo por ele, que ascende as luzes, iluminando o lugar.
Tudo aqui é simples e bonito, um refugio como deveria ser, sem as preocupações desnecessárias feitas para agradar alguém. É reservado, ninguém viria aqui se não soubesse o que estava procurando.
— Achei que fosse me pedir para voltar. — Admite.
Sorrio, me sentando no sofá de couro em frente a lareira.
— Quando eu era criança minha mãe foi sequestrada por um criminoso, ele ameaçou nós duas, o que nos fez correr pelo mundo nos escondendo dele. — Conto, minha mãe não sabe que me lembro de tudo com clareza, a maior parte do tempo finjo que não lembro, é melhor para nós duas. — Passamos um tempo em lugares assim, eram os meus esconderijos favoritos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Be Messed - Herdeiros do Crime 5
RomansaHerdeiros do Crime - Livro 5 O que os olhos não veem o coração não sente. Esse é o meu ditado favorito, e não se refere a traição e sim ao fato de que as pessoas sempre esperam o pior dos homens da minha família, os temem e respeitam pelo simples fa...