Capítulo 14

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Vincent Castelli

     Nem me lembro quando foi a última vez que dormir neste quarto, muito antes do meu atentado, passo mais tempo na minha cobertura, venho a casa dos meus pais praticamente aos domingos depois da missa, minha mãe não abre mão dos almoços de domingo, tão pouco de ver todos os seus filhos na missa e na primeira fileira, segundo D. Marisa, não importa o que fazemos, como fazemos, importante é nunca deixar a escuridão tomar conta dos nossos corações

     Não me custa nada agradar minha mãe, apesar de não acreditar muito em Deus, pelo menos ele não está presente quando as pessoas clamam por ele, no entanto, eu estou e sou eu quem decido se eles vão ou não sobreviver.

     Me viro na cama procurando uma posição favorável, se eu estivesse na ilha com Lara ela estaria enrolada em mim, me fazendo de travesseiro, seu cheiro, seu ressonar leve, o movimento do seu peito subindo e descendo, as pálpebras que mexiam em reflexo involuntário quando dormia, passo cada detalhe em meus pensamentos, sereia que falta que você me faz, sinto o meu corpo relaxando com as recordações e enfim o sono chega.

     Acordo disposto para o que tenho em mente, por habito me levanto cedo, envio uma mensagem para Lucca avisando que vamos para o escritório e que ele deixe tudo pronto para a noite. A casa ainda está em silencio, sigo até a cozinha e preparo uma xicara de café, quando me sento para toma-la minha mãe adentra a cozinha, beija a minha cabeça como se eu ainda fosse uma criança.

     ― Bom dia, querido.

     ― Bom dia, mamma. E o pappa?

      ― Ainda dormindo ― começa a mexer na geladeira montando a mesa para o café ― Não estar muito cedo pra você já estar de pé? Devia estar deitado e não pronto para o trabalho.

      ― Tive mais de setenta dias de descanso, o que mais quero agora é voltar à ativa.

      ― Filho ― respira ― só quero ter certeza que estar bem, não deixou um médico examina-lo, ficou setenta e três dias naquela ilha, com uma alimentação limitada, vivendo literalmente em uma caverna, com uma moça que pode ter alguma doença, você já pensou nisso? ― para na minha frente com uma das mãos no encosto da cadeira e a outra na cintura.

     ― Ela não tem nenhum problema de saúde, irá conhece-la e verá por si só.

     ― Já ouviu o ditado, "quem vê cara não vê coração" ou "por fora bela viola, por dentro pão bolorento"? tanto você quanto ela precisam passar por um check-up para ter certeza de que está tudo bem entre vocês, que não pegaram uma doença tropical ou uma...

     ― Ninguém pegou nada mãe, não inventa. Eu estou bem, tenho certeza que Lara também ― a corto antes que fala alguma besteira, me levanto deixando a xicara de café em cima da mesa ― e antes que pensa que ela possa ter me passado alguma doença sexualmente transmissível, fique sossegada, não que a senhora ou qualquer outra pessoa precisa saber, mas ela era virgem, então se eu não me conhecesse era provável de eu ter passado alguma coisa para ela e não o contrário.

     Saio da cozinha sem olhar para trás, sem dar tempo para ela falar alguma coisa, Lucca já estar do lado de fora me esperando, a porta do meu Alfa Romeu já estar aberta para mim, apenas entro, ele dá a volta no carro e senta atrás do volante.

     ― Pra empresa ― ele assente ― tudo certo para mais tarde?

     ― Sim, como o Sr. Ordenou.

     ― Bom. Mais alguma coisa que preciso saber?

     ― Ainda no Iate fiz um levantamento sobre a vida dela, estar tudo aqui nesse dossiê ― me entrega a pasta, olho a foto da moça ali, me lembro bem dela.

Salvando o MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora