- Narrador... Toc! Toc!
O que quer, moço? Se for os números da Mega Sena, sem chance.
- Não não. Queria que você pulasse esta cena do carro.
Virei o quê, o gênio?
- Narrador, não seja sarcástico.
Eu não estou sendo. Não posso te ajudar nisso.
- Porque não pode, você que manda na história.
Filho, eu sou um trabalhador vocal idealizado, meu trabalho é ler e transmitir em voz real ou mental as reações, a trama, as falas...
- Já vi que não terá acordo. E se eu suborna-lo!? Pensa. - É... Querido, o que acha dessa oncinha maravilhosa que está saindo da minha carteira de couro sintético...
- Max, o que está fazendo? - Seus olhos encaram com rejeição a ação do namorado.
- Olha só, a onça tem uma amiga. Nossa! Ela vai comer a garoupa... não! Salve-a! O que eu faço narrador? Oh não, ela é muito jovem para ser servida com arroz branco!
Soque no...
- Opa! Calma aí. - Max se ver surpreso diante aquela graça, e diante aquela mudança drástica de humor do narrador.
Não quero ficar calmo. Eu não acredito que você ia me subornar.
- Isso não foi suborno, isso é troca de favores. - Dizia guardando o dinheiro.
Max, não me engane, você está querendo me subornar. Sabia que são atos dessa natureza que acaba ferrando o povo brasileiro? Sabia que a corrupção está nas pequenas atitudes? Ser honesto é ser cidadão. O que foi, roubaram-te a língua?
- Mas... sim, tem razão, desculpa. Eu fui imaturo...
Desculpas aceitas. Agora retorne à história e nunca vá por esse caminho. Porque todos acabam perdendo, e esse "todos" são a base da sociedade.
- Amor... - Max buscava de qualquer jeito amparo ou um buraco para enfiar a cabeça.
- Nada de amor. Você me decepcionou.
- Eu só ia tentar... - Abria as mãos como se o que fez fosse leve.
- Sua tentativa foi a mais errada.
- Desculpe, está bem? Eu errei. Sou honesto em assumir.
- Vou pensar no teu caso. Se eu fosse perversa, você estaria lascado.
- Tudo bem. Vamos mudar de assunto.
- Eu sei que você é daqui e que sua mãe só tem você. - Amanda alivia a voz.
- Não, mãe tem o Roberto, eu sou o caçula.
- Ah, o Roberto. Verdade, o que trabalha na Coca-Cola...
- Sim. Você o conheceu. Amanda, estás com amnésia?
- Não, por que a pergunta?
- Por nada. Espera que eu vou abrir essa última porteira para sairmos desse labirinto, e está escurecendo. Eu não sei para que tanta porteira... Ok, pode vim! - Amanda seguia o caminho, terminando o seu ato de punição. - Agora o caminho não terá interrupções. Vou te contar a história. Mamãe se separou do meu pai por conta de traição e aquele safado me batia! Chegava bêbado e me batia. Até que um dia ele nos abandonou, disse que ia embora e não deu satisfações verdadeiras, disse que ia comprar cigarros e beber, e desde esse dia, que falou essa porcaria, nunca mais voltou.
Mamãe nas primeiras semanas até relevou, mas depois ficou preocupada com ele e logo pediu ajuda aos policiais, só que sem sucesso. Achamos depois de um mês que ele havia morrido por não voltar, e pensávamos que era só mais um blefe dele, porém, não foi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor de papel
RomanceOlá. Sejam bem-vindos a essa loucura que lera já, já. Chamo de loucura, pois os personagens não se comportam diante o que é "convencional". A trama perpassa por um passado duvidoso entre os protagonistas, e que na medida que for lendo, coisas serã...