4. bloom

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ㅡ Eu quero sair daqui… agora. ㅡ Eu digo quando afasto levemente nossos lábios. 

Eu não consigo respirar. 

Não sei se é o calor, se é a agitação, ou se são os lábios de Louis que me tomaram por completo. Sinto como se um furacão tivesse me atingido em cheio. 

ㅡ Para a sua casa, ou para a minha? ㅡ Ele sussurra ainda tendo os dedos presos a minha nuca. 

ㅡ Pra minha! ㅡ Digo sem hesitar, e o afasto apenas para juntar nossos dedos e o puxar para a saída. 

Louis paga pela minha e pela comanda dele. 

Ao deparar com as ruas gélidas de Londres sinto uma queimação me atingir no estômago. Um traço de arrependimento insistindo em brotar em meus pensamentos. Eu não o conheço, eu não sei de onde ele veio, e para onde essa noite irá nos guiar, mas Louis aperta os meus dedos com carinho e os esconde em sua jaqueta para esquentá-los. Ele olha para mim sorrindo, e eu perco qualquer vestígio de compunção que ronda minha mente e sorrio de volta.

Quando entramos no elevador me lembro de Liam, que deve estar me procurando neste momento, ou não. Provavelmente deve estar ocupado se escondendo nos lábios de Zayn, mas antes que eu possa pegar o meu celular para avisá-lo, Louis me prensa na parede de espelho e me beija fervorosamente.

Suas mãos passeiam pelo meu rosto, descendo a curva do meu pescoço com delicadeza. Ele me beija com desejo, o que me faz pensar no tempo que passei sendo indesejado.

Sua língua percorre minha boca como um rio em busca do mar. Arfo em meio ao beijo e ele sorri. O filho da puta sorri durante o beijo, e eu consigo me sentir derreter por baixo dele. A porta do elevador se abre e ele me puxa pela cintura.

ㅡ Eu não sei qual é o seu apartamento, então seria bom que você nos guiasse. ㅡ Ele diz abafado enquanto beija meu pescoço e eu solto uma risada.

O puxo para frente da minha porta e busco as chaves no bolso. Antes que eu possa abri-la Louis me vira.

ㅡ A gente não precisa fazer nada que você não queira, Harry. Não quero que pense que porque me trouxe para seu apartamento tenha qualquer obrigação comigo. ㅡ Ele diz segurando meu rosto com as mãos. ㅡ Eu posso cozinhar para você. Podemos assistir um filme. Dançar na sua cozinha. Posso fazer suas unhas se quiser. ㅡ Ele ergue e abaixa as sobrancelhas sugestivamente e eu solto uma risada.

ㅡ Não é possível que você tenha todos esses talentos.

ㅡ Você se surpreenderia.

ㅡ Sei…

ㅡ Tudo bem. ㅡ Ele diz. ㅡ Talvez eu não saiba cozinhar, mas pediria algo para nós dois. Mas sim, eu sou uma ótima companhia para filmes, principalmente os antigos e bregas. Sou um dançarino e tanto, e tenho habilidades razoáveis de manicure.

ㅡ Então pinte minhas unhas, Louis. ㅡ Digo sério e ele me encara.

ㅡ Claro. Vai ser um prazer.

Abro a porta e Louis olha ao redor. Sou bastante organizado, e para minha felicidade não há nada fora do lugar.

ㅡ Fique a vontade. ㅡ Digo enquanto jogo as chaves em cima da mesa.  ㅡ E por favor, se for um serial killer me mate só depois de comermos algo, estou faminto e seria uma pena morrer com fome.

Louis gargalha. Dessa vez sua gargalhada sai limpa, sem nenhum som impedindo que eu a ouça genuinamente.

ㅡ Eu sou estudante de psiquiatria, mas não sou louco Harry. Eu estudo sobre transtornos mentais mas juro que não tenho nenhum. Sem contar que também estou com medo que seja você quem me mate.

ㅡ Eu escrevo sobre o amor e a vida em uma coluna diária, Louis. Não tenho capacidade de matar uma barata.

Ele finge um suspiro longo de alívio e é minha vez de gargalhar.

ㅡ Você é escritor?

ㅡ Sim senhor.

ㅡ Não… ㅡ Louis hesita. ㅡ Espera. Espera. Não me diga que você é Harry… o Harry Styles que escreve a coluna Me toque com palavras da revista Burn? Porque isso seria coincidência demais.

Engulo um soluço surpreso, e arregalo os olhos em total descrença.

ㅡ Meu Deus! ㅡ Ele quase grita. ㅡ É você… eu não acredito nisso.

ㅡ Você me lê? ㅡ Pergunto incrédulo. Nunca havia conhecido alguém que lesse minha coluna.

ㅡ Você está brincando, né? Eu assino aquela bosta de revista e pago 27 euros mensais apenas para ler sua coluna diariamente. ㅡ Eu não sei o que responder. Mas Louis continua. ㅡ O amor trabalha de formas misteriosas, e só não cai quando surge a oportunidade aqueles que não prestam atenção. Coluna de ontem.

Ele realmente lê, e ainda cita com exatidão uma parte do texto que eu publiquei ontem. Sinto minhas bochechas queimarem.

ㅡ Eu estou impressionado e lisonjeado por ser lido por você, Louis. Confesso que estou um pouco envergonhado agora. Você conhece os segredos da minha mente que eu exteriorizo em forma de palavras… não há mais nenhuma necessidade de você me ver nu. Você já me viu por completo. ㅡ Digo tentando soar despreocupado enquanto me ajeito no sofá.

ㅡ Assim como você não tinha necessidade de ter me tocado com as mãos, Harry. ㅡ Ele se aproxima se sentando ao meu lado. ㅡ Você já fez isso sem nem me conhecer.

Desvio o olhar para ele não possa ver o quanto estou corado.

ㅡ O que você gostaria de comer? ㅡ Tento mudar de assunto mas Louis me olha com os olhos estreitos e um sorriso de lado brotando em seus lábios.

Harry… ㅡ Ele sussurra.  ㅡ Não me faça responder essa pergunta.

Louis quem fez o pedido. Ele pediu comida tailandesa de um restaurante próximo ao centro. Comemos enquanto ele me conta sobre a faculdade de medicina. Louis era prodígio, e se formou com dois anos de antecedência no ensino médio. Já estava fazendo residência em psiquiatria. Me contou que havia decidido fazer o curso por seu pai sofrer de esquizofrenia. Sua mãe também era médica, o que facilitou para que ele seguisse a profissão. Contou a respeito dos seus hobbies, que eram poucos já que não tinha muito tempo, mas que gostava de ler e no seu tempo livre era isso que fazia.

Contou que conheceu Zayn através de um amigo, que ele não fez questão de citar, e com um pouco de dor inserido na voz. Contou sobre as minhas publicações favoritas, e como adorava a maneira que eu me expressava. Sentia que tudo que ele falava eu deveria anotar. Sua voz tão melódica me fez comer mais devagar. A minha fome não se equiparava à vontade de o observar enquanto falava. A maneira que utiliza as mãos para expressar suas opiniões, e seus olhos que se abrem mais quando ele cita algo que realmente gosta. Eu o estava estudando, e ele nem imaginava.

ㅡ Agora que comemos… ㅡ Ele diz enquanto se levanta para levar as vasilhas sujas até a pia. ㅡ Acho que está na hora de pintar suas unhas.

ㅡ Sério? ㅡ Pergunto sorrindo. ㅡ Você realmente irá pintar minhas unhas?

ㅡ Claro. Você duvidou das minhas habilidades. Preciso te provar que sou bom no que falo que sou.

E assim, sentamos no sofá depois que eu busquei os esmaltes que tinha. Louis pinta todas as minhas unhas de azul claro, exceto o anelar, que ele pinta de branco.

ㅡ Por que pintou o anelar de branco? ㅡ Eu pergunto observando as unhas recém pintadas.

ㅡ Existe uma veia que liga o anelar ao coração. E apesar de gostar muito de azul, na simbologia o azul representa tristeza. Por isso… ㅡ Ele sopra minhas unhas, e então me olha. ㅡ Quis deixar seu anelar branco, para que você sempre esteja com o coração limpo e puro para continuar escrevendo da forma linda que escreve.

Dizem que existem coisas que ficam para sempre gravadas em nós, e essa com certeza será uma das minhas.

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