15. daylight

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Sou bombardeado com uma série de perguntas. As vozes da minha mãe, do meu pai, de Gemma e de Liam fazem um coral ensurdecedor em meus ouvidos. Quase não presto atenção no que dizem pois mantenho os olhos fixos na porta, na expectativa que ele volte a entrar nela a qualquer momento. Um fio de esperança invisível me liga à aquele pedaço de madeira. Peço baixinho aos céus para que ele tenha entendido e abra aquela porta. Meu coração se acelera, mas infelizmente, ela não volta a se abrir.

Sorrio tristemente e me recupero.
A falação continua e eu tento organizar meus pensamentos.

ㅡ Calma, gente. Eu vou explicar. ㅡ Digo tentando parecer calmo. Não queria ter que explicar isso agora, queria apenas me recolher em meu casulo para tentar absorver meus próprios sentimentos e angústias. Mas todos me olham em expectativa, então só me resta respirar fundo e continuar.  ㅡ Eu estava no supermercado, fui comprar algumas coisas e encontrei Louis. Me senti mal, ele me ajudou, e me trouxe às pressas para o hospital.

ㅡ Louis? ㅡ Gemma me interrompe com as sobrancelhas franzidas, e Liam me olha estreitando os olhos, mas não diz nada. Sei o que ele está pensando e já estou me preparando para quando ficarmos a sós. Engulo em seco.

ㅡ Sim. ㅡ Tento continuar apesar da voz trêmula. ㅡ O rapaz que estava aqui antes de vocês entrarem. Bem, eu posso dizer que, por obra do acaso, ou manobra do destino, ele estava no lugar certo e na hora exata. Ele me trouxe para o hospital e Kalel nasceu.

Minha mãe bate palminhas animada com a menção do nascimento do meu filho. Preciso urgentemente dizer a ela que essa é uma péssima mania, mas me contenho.

ㅡ Meu Deus! ㅡ Liam fica choroso de repente. ㅡ Meu brotinho nasceu de sete meses, Harry. Que perigo! Como ele está?

ㅡ Ele está bem. ㅡ Sorrio ao lembrar do meu filho.

E meu Deus... eu tenho um filho.

É a sensação mais surreal que já senti, e mesmo assim, sinto que ainda não senti tudo. Parece que a ficha vai caindo aos poucos, para você finalmente aceitar que sua vida mudou para sempre.

Nada se compara ao que eu senti quando ouvi o seu pequeno choro e toquei em sua mãozinha minúscula. Meu coração, naquele momento triplicou de tamanho, para que Kalel coubesse inteiro dentro dele.

Dizem que só existe um amor maior que o de um filho por um pai: o de um pai por um filho.

Eu pensava que amava a minha mãe com toda a força existente no mundo, mas isso mudou em instantes, após o nascimento da minha estrelinha. Eu percebi que posso amar muito mais do que achei que fosse capaz.

O amor transcende tanto, que te faz questionar o universo. Como pode caber tanto amor em uma só pessoa? Como isso pode ser instalado em nós de um segundo para o outro, assim... como um estalar de dedos?

Ver Louis o segurando no colo, e o trazendo até mim pareceu um sonho bom. Naquele instante esqueci de tudo que nos aconteceu e foquei em nós três... no nosso mundo particular dentro daquela sala de cirurgia. Naquele momento, tudo era lindo, puro e exato, como deveria ter sido desde o começo. Naquele momento eu não estava nem um pouco azul, eu estava completamente branco.

Como eu posso amar tanto um serzinho daquele tamanhinho?

ㅡ Preciso ver meu sobrinho. ㅡ Gemma praticamente grita, me tirando dos meus pensamentos. ㅡ Ele vai vir ao quarto, não vai?

ㅡ Eles irão trazê-lo mais tarde. ㅡ Digo por fim, depois de uma longa pausa. ㅡ Não sei se me deixarão amamentá-lo, ou pegá-lo no colo, mas vocês poderão vê-lo em breve.

ㅡ E você meu filho? Como você está? Nós ficamos tão assustados quando recebemos o telefonema. ㅡ Minha mãe diz apreensiva.

ㅡ Eu estou bem, mamãe.ㅡ Eu suspiro. ㅡ Agora eu estou bem.

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