20. diagnosis

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Eu não deveria ter saído essa noite. Não deveria ter deixado meu filho passar a noite sem mim. Meu corpo todo treme e o desespero toma conta de todos os meus músculos. A culpa me assola.

Eu não deveria.

ㅡ Harry...  ㅡ Louis me chama, mas eu quase não escuto.

Preciso sair daqui. Preciso ver meu filho, pega-lo no colo, me certificar que está tudo bem. Eu estava tão tranquilo em relação às crises dele. Kalel não estava tendo episódios dessas agitações repentinas há meses. Jamais pensei que pudesse acontecer novamente.

Choro compulsivamente. A angústia me consome. Eu sou um péssimo pai.

ㅡ Harry! ㅡ Louis me chama mais alto, pegando meu rosto com a palma das mãos. ㅡ Calma. O que está acontecendo?

ㅡ Kalel, Lou. ㅡ Eu engasgo. ㅡ Ele está tendo crise.

Seus olhos azuis me analisam com pesar. Seu rosto está inchado e com um semblante sonolento, mas seu olhar me diz que ele está completamente alerta.

ㅡ Que tipo de crise, Harry?

ㅡ Não sei. ㅡ Me desprendo de suas mãos e visto a minha calça. ㅡ Desde novo ele tem alguns episódios de agitação. Ele se debate, chora, se desespera. Ele só tem seis meses...

Deixo meus ombros caírem. Meu choro sai abafado quando sento na beira da cama e cubro meu rosto com as mãos. Louis me abraça por trás e me nina.

ㅡ O que o pediatra disse? ㅡ Ele me pergunta ainda me abraçando.

ㅡ Eu levei ele em dois médicos e eles disseram que ele não tem nada. Mas eu sei que há algo errado. Eu sei que meu filho tem alguma coisa. Eu conheço ele e meu coração não se engana, Lou. ㅡ Eu me levanto da cama, saindo dos seus braços. Minha garganta parece se fechar em aflição.ㅡ Eu preciso ir.

ㅡ Eu te levo. ㅡ Ele levanta de prontidão e começa a se vestir.

Entro em pânico. E ele percebe.

ㅡ Não precisa. ㅡ Minha voz custa a sair da garganta. ㅡ Eu vou de táxi.

Ele dá a volta na cama, e me pega pelo rosto mais uma vez. Seus olhos se fixam nos meus.

ㅡ Harry, não se preocupe. Eu só vou entrar na sua vida se você permitir, e farei só o que você permita que eu faça. Se você quer ficar sozinho, se você não quer que eu ajude, tudo bem. De verdade. Está tudo bem. ㅡ Ele diz seguro. ㅡ Eu posso esperar o tempo que for até que você me dê essa permissão de forma genuína. Mas não pense nem por um instante que vou deixar você sair assim, nesse estado e sozinho em um táxi. Eu vou te levar, te deixo lá e venho embora, sem problema algum. Certo?

Ele espera uma aprovação, e eu por fim concordo, hesitante. Passo o caminho até a casa dos meus pais chorando baixinho e me culpando pelo meu desleixo. Louis não diz uma só palavra, mas sua mão está repousando carinhosamente em minha coxa.

Seus olhos atentos à estrada e suas sobrancelhas que quase se unem me mostram o quanto está tenso. Meu corpo inteiro treme. Quero que o tempo passe mais rápido para que eu possa estar com meu filho, mas o relógio parece ir contra mim.

Quando finalmente chegamos na porta da casa dos meus pais, Louis tira a mão da minha coxa e me dá um beijo na têmpora. Para o meu alívio, ele não insiste em entrar.

ㅡ Você me dá notícias? ㅡ Ele diz baixinho me olhando com um semblante triste.

ㅡ Dou! ㅡ Respondo soluçando.

ㅡ Se precisar de qualquer coisa, pode me ligar a hora que for. Estarei atento ao meu celular.

Murmuro um "obrigado" e saio às pressas do carro. Preciso ver meu filho.

ACURAROnde histórias criam vida. Descubra agora